Murilo Melo
(...) Que agora você inventou de aparecer em todos os trechos de músicas melosas, em todas as sinopses de livros de romance, em toda esquina que toque jazz. Tudo tem seu nome, seu rosto, seu gosto. Tudo é você.
Um tanto inquieto por causa dessa mania de passar as mãos no cabelo, um pouco revoltado por não dizer tudo o que pensa.
Não pode ser verdade, entende? É anormal demais. É louco, é lindo, é vontade de ser feliz presa no estômago como raiz de árvore. O que eu tô vivendo vai além disso tudo que eu descrevo. Soa forte — do beijo carinhoso ao beijo envolvente. Tá iluminando meu caminho, sabe? É coisa pra amar de olhos fechados.
Ando com um nervosismo que preocupa. É daqueles com um pouco de medo, de ansiedade, de querer e não querer, tudo ao mesmo tempo. Uma hora a gente cansa da palavra mal dita, dos olhares atravessados, de andar e não chegar a lugar nenhum. E de tanto esperar por um novo começo que nunca chega, a gente acaba perdendo a vontade de ir em frente.
É que eu afasto as pessoas, entende? Eu não sei ser legal. Eu me sinto como um diálogo que não começou. Eu sou deslocado, desastrado, me perco com facilidade nas coisas. Vez ou outra me pergunto se estou agradando, porque é tão ruim ter essa sensação! Tipo, eu não quero parecer forçado para as pessoas, entendeu? Não sei bancar o amigo de todo mundo e ser o descolado. Ficar rindo o tempo inteiro não é bem a minha. Não sei inventar uma moda que não me agrade. Eu não sei gostar do que os outros gostam. Não sei viver paradoxos. Não sei fingir. Eu sou isso, e eu já nem sei o que sou direito, porque ninguém se parece comigo. É como se eu só existisse dentro de mim, ou, sei lá, talvez não exista.
Você diz que não é forte, menina, mas acho que ninguém aguentaria isso tudo que você guarda dele aí dentro.
Ando mais agoniado do que de costume. Dormi só quatro horas essa noite, revirando pela cama em intervalos curtos, com sonhos incompletos. Me dedico aos estudos como pura desculpa. Ontem não atendi nenhuma ligação dos meus amigos, nem sequer respondi mensagens. E hoje deixei de fazer as coisas pra ficar olhando pro nada. Às vezes também choro à toa. Ainda tô me acostumando.
Só tem 15 minutos que eu acordei, mas já imaginei tantos diálogos que não vão acontecer, fotos no pão de açúcar que não serão tiradas, sorrisos em festas que nunca serão vistos, atitudes e pedidos que serão impossíveis de se tornarem reais .
Eu nunca vou aprender a controlar esse vício de olhar pro meu celular de cinco em cinco minutos, para ver se você me mandou alguma mensagem, ou se tem uma ligação perdida. Eu alimento a esperança de que ainda pode chegar nem que seja apenas um "Bom dia" ou um "Saudades". Mas nunca chega nada. Você não faz ideia do quanto isso me faria bem. Eu só queria encontrar um sinal qualquer de que você ainda se importa comigo.
Mas eu ainda gosto de você, é bom que saiba. Só queria sair por aquela porta dizendo isso, mesmo que passe por um ouvido e saia pelo outro. Eu gosto de você. De verdade.
Eu evito sair com os meus amigos porque não quero voltar ao assunto, não quero repetir você nas conversas. Porque dói, e ninguém faz ideia que dói muito, ter que desabafar que definitivamente você está sumindo da minha vida.
O problema é esse, meu bem: eu te amei sem pensar nas cicatrizes, nas pausas curtas e na escuridão das partidas.
Mas, solidão a dois, veja só, nunca foi coerente até te conhecer. Nós somos o remendo que a poesia precisa.
Eu só não queria terminar meus dias como um desses escritores desiludidos, perdidos e amargurados. Eu só queria que tudo terminasse bem.
E mais uma vez eu visito sua página no Facebook e quebro a minha promessa. Eu leio seus posts, reviro comentários e fico babando as suas fotos. Na segunda faria uma semana que eu já não passava por lá. Mas eu não tenho jeito. Sempre volto.
Já ando feito um louco pelas ruas. Não obedeço sinal, passo entre os carros em movimento como se fosse a coisa mais normal do mundo. Vez em quando me assusto com os freios e paraliso. Outras vezes, dou uma risada cínica e viro as costas. Porque chega uma hora que morrer parece não ser tão doloroso, então pouco me importo. Chega uma hora que nada mais é lindo, nada dá certo, nada é encontrado. Por isso acabo com o maço do cigarro em um minuto. Minha vida se transformou numa morbidez completa. É a fase terminal que poucos reconhecem, mas que uma hora, quer queira, quer não, chega pra todo mundo.
Não sei explicar se o rádio diz teu nome antes de cada canção, ou se sou eu quem o sussurra sem notar; por vezes, ouço tua voz nos acordes do violão e me apaixono.
E mesmo vivendo toda aquela doçura, cheguei a pensar, em algum momento, que aquilo se tornaria a mais dolorosa lembrança.
E ficamos nesse vai e volta, quer e não diz, chora, mas não controla. É doença, é loucura, é covardia. Mas é medo, eu sei − medo de se apaixonar ou de estar apaixonado.