Murilo Melo
Eu sei que você vai segurar minha mão no meio da conversa, eu vou prender o ar na garganta, e você vai fingir que não me quer, que é só amizade.
No fundo, no fundo — bem lá no fundo do meu coração —, eu sabia que não ia dar certo. Mas eu quis continuar.
Abria meus braços ao vento tentando levar algo doce meu até você.
Me alegrava imensamente trazer um pedaço teu, ainda que fosse pequeno, até mim.
Fazia de tuas manias minhas, revivia cenas que castigavam minha memória, planejava dar um stop em tudo aquilo.
Pintava-me com teus detalhes, achava rico teus enfeites. Imitava teu olhar indiferente, deixando de lado minha pose angustiante. Quero te trazer para mim, meus braços têm esse poder. Quero puxá-lo ao meu encontro. Quero nós.
Desejava viver um final feliz, desses de filmes dramáticos e cheios de dilemas. Mas depois pensou intuitivamente que felicidade não deveria ter ponto final. Era bom sentir. Decidiu então ser feliz para sempre, sem colocar ‘the end’. E foi.
Chorei porque eu não fazia ideia que eu me machucaria tanto, porque ao chegar em casa e abrir a droga da porta do meu quarto eu fiquei parado ali, remoendo. E chorei, porque voltei a lembrar daquelas coisas todas que eu prometi esquecer.
Estive evitando o destino da forma mais cruel que se possa imaginar. Não quero encontrar um grande amor na fila do supermercado ou esbarrando com ele na faculdade. Não quero mais saber de clichês, de cenas de filmes. Se o amor quiser me encontrar, ele que bata na minha porta e me beije, porque por essa, eu jamais vou esperar.
Sim, eu estou bêbado. Bebi o quanto pude na balada, a minha voz está rouca. E você é linda. E amanhã de manhã eu estarei sóbrio, mas você ainda será linda.
Eu apenas achava bonito e engraçado como ela confundia azul com verde. Era um jeito só dela de misturar as coisas, sei lá. Ninguém mais tinha. Assim como eu só tinha ela e isso era um jeito só meu.
Eu não quero que março me surpreenda. Eu sou mais específico: quero que alguém me surpreenda em qualquer época do ano.
Mas peça mesmo a Deus que eu não encontre ninguém interessante enquanto você fica nessa brincadeira de me ligar apenas uma vez por semana.
Não tem pra onde correr. Eu vou acabar sozinho. As pessoas não me veem sendo nada mais que o melhor amigo, o brother e o confidente das dores e dos amores. Ninguém se apaixona por mim de verdade. É só companheirismo, um passatempo.
Chorei porque eu não me via em outro lugar que não fosse em teus braços, porque eu ficava toda santa noite inventando planos e idealizando momentos. E chorei porque precisava te explicar que, independente de todas as brigas fora de hora, eu era o único que planejava te fazer feliz.
Cansado de todo esse blá-blá-blá de começo de relacionamento. Tô numa impaciência danada de conhecer gente. Não tô a fim. Não dá mais. A partir de hoje eu queria alguma coisa que não tivesse mais início, que não parasse.
Fico com medo quando um amigo próximo me diz que tem alguém a fim de mim. Não levo tão a sério porque as pessoas costumam gostar até conhecerem meus sonhos, meus fantasmas, minhas opiniões. Pessoas não se apaixonam por escritores, se apaixonam pelos seus livros.
Hoje mais cedo troquei o nome da música pelo seu. Ou estou encontrando dificuldade pra te esquecer, ou estou profundamente cedendo espaço à loucura. Deus queira que seja a última opção.
Eu no fundo fico sentido, sabe? Sentido por ter acreditado demais. Por ter esperado muita coisa de um babaca que nunca pretendeu nada sério comigo.
Vivi tantos amores errados e meio tortos que, quando pareceu que finalmente eu tinha encontrado alguém, eu tive medo de dar no mesmo e resolvi desistir.
Aguentar meus planos confusos, minhas manias irritantes e minha ansiedade exagerada ninguém quer. Parei com essa de ir atrás por quem não move um passo por mim.
Chorava sempre às nove em ponto do domingo. Não dizia a ninguém o porquê. Os amigos mais próximos só sabiam que havia saudade em cada milímetro do colchão.
Achava que ia morrer só. Dizia que as pessoas eram incapazes de amá-la de verdade. Se achava velha, acabada, mal-arrumada. Os olhos ardiam de dor a ponto de sangrarem. Vivia rindo pelos cantos sem motivo aparente. Insistia em dizer que a felicidade era ela mesma ontem, hoje, amanhã e até onde desse.