Moacir LuÌs Araldi
QUERO
Quero a nudez da verdade, mesmo dura.
Quero a dor da notícia inteira.
Quero olhar nos olhos para sentir o ódio ou a ternura.
Se for preciso, quero os olhos marejados mesmo sem poeira.
Não quero a delicadeza doce da fantasia,
Mesmo que pesada, quero a realidade de uma vida verdadeira.
Insucessos
Se eu pudesse dar um conselho
para esta imagem do espelho,
diria que na vida é preciso sofrer para aprender
que cada ato requer um remédio diferente,
que pressa não é sinônimo de urgente.
Que da felicidade tens que ser teu próprio agente,
que só se descobre o amor amando-se.
Que tem sempre um sol que brilha.
Que isolado não se vive.
Que a liberdade tem seu preço.
Que pouco importa o endereço
só com coragem se é livre.
Mas o corte quando sangra
como partindo o tomate
desintegra o sossego
evidencia anseios temores e medos
bagunça no íntimo os segredos.
O desafio é viver contente
entender e fortalecer tanta gente
também nisso a vida é poesia,
pois só pode sorrir em partes
quem entender que mesmo no reflexo
transformar os insucessos
é pra quem vive com arte.
A noite despertará monstros adormecidos
O implacável ruído das carpideiras velará sonhos
Acordará morcegos para o banquete de sangue.
O escuro azul do véu que cobrirá a urna
Esconderá as marcas da dor.
O dia ameaçará adentrar as janelas
Cálido em amarelos claros
Com a força que desbota as aquarelas
Fazendo sombras e refletindo nelas
O tormento do sino sem badalos.
Abrira-se morada do sepulcrário
Furdunçará desautorizado o silvestre
Da forma que fizeram os plantonistas de janela
Na vigência ilibada de vida tida como equestre,
Licença concedida pelos céus ao dito salafrário.
Não. Sem bajulações de arautos
Nem piedade de falastrões
Bastará que conste nos autos
Que pela vida abominou as falações.
Ficou no armário meu perfume de juventude.
E com ele certas lembranças que hoje assustadoramente me ignoram.
Estático o espelho, outrora de imagens tão sonhadoras, mal me enxerga.
Em minha mente todas as expectativas que agora são histórias que ninguém quer ouvir.
Sim, ficou no armário meu perfume de juventude.
Tornei-me mostro do menino que lutou comigo por décadas.
Não tenho mais as bandeiras que carreguei por uma vida inteira.
Cheguei ao epílogo da vida, tornei-me fragrância envelhecida.
(www.doisversos.com)
Viver eu sei, não é show eterno.
Por vezes a peça termina antes da hora.
Sem palmas tudo fica ermo.
É preciso saber a hora de apagar a luz e ir embora.
Que minhas virtudes superem eventuais vaidades.
Que o orgulho não massacre minha humildade.
Pois meu primeiro verso é respeito,
E o segundo reforça este conceito.
Abriu-se repentinamente uma cratera ousada que quase engoliu a mente.
Algumas cargas de serenidade e generosas doses de bom senso, misturada com a mais potenciada ternura cuidadosamente colocada por um mutirão de amigos, foi possível fechá-la.
Hoje a vida consegue passar por ela, mas a marca lá esta... Será eterna.
Não seja pretensioso.
Ninguém saberá se já chegou à velhice.
Sente-se. Vai passar.
Toda dor é rasa quando se tem a alma encharcada de esperanças.