Milena Palladino
No sapatinho.
Na boca dos amantes existe o desejo,
ora mútuo, ora disperso.
Deveria haver um acordo das partes que alimente o querer,
mas o que vibra é um jogo desnecessário e sem graça.
No jogo dos amantes, eu viro o tabuleiro
e me mando para uma roda de samba particular,
roda de gente grande,
onde o único jogo é sambar.
Eu sonho acordada passarinhos. Tem sorrisos morando no pé carregado de jabuticabas.
E ai de quem ousar mexer nos mamões deles. Quando cai o aguaceiro, dezenas de periquitos que pensam que são nuvens danam a trovoar. E se o assovio soa mais forte, é de correr mais depressa que há novidade para se mostrar. Com tanto pólen no bico, logo se vê que passou toda tarde mergulhado em flores. Muito bonito! E tudo é música. E festa. Música que sabe voar na dança dos passarinhos.
A poesia não tem dia,
nem tem hora, é só acaso.
Seja fato, sonho ou fantasia,
com ela, todo dia eu me caso.
grito
O ócio desagrada
O tédio se agrava
A mente já não grava
Meu tempo é grave
É nó de gravata apertado
É graveto encravado
Nem frase, nem prosa
Nem rosa, nem cravo
Tão só gravidade
Meu tempo é grave.