miguel westerberg
Existem palavras que são eternas e outras que são apenas palavras que nenhum efeito em nós provoca. Se tivesse que escolher entre ser artista plástico ou poeta, escolheria ser poeta. Conhecendo eu cada letra daria ao mundo coisas sempre novas ou talvez indecifráveis. O poeta por natureza é um ser fingido. Ele troca o sentimento por palavras em forma de um código só seu, relatando ao mundo segredos da sua própria alma sem que alguma vez alguém os descubra.
Para onde quer que eu dirija os meus olhos tudo se transforma em nostalgia. Saudade e fado duas palavras verdadeiras para se descrever a minha condição como ser humano.
Havia também um senhor que ia todas as manhas a esse mesmo café, assentava-se sempre na mesma mesa, fumava o seu cigarrinho, pedia meia de leite com uma torrada e enquanto comia, lia o jornal “A bola”. Como sua idade já era bem avançada, um dia a sua mesa ficou vazia e outro tomou seu lugar, dando assim inicio a outra historia dentro de tantas historias que a cidade esconde.
O meu segredo é não ter segredo nenhum e gosto de ter a plena liberdade de não ter que dar satisfações aos demais que me observam. Já não tenho paciência para nada.
Se me predispusesse a confessar as minhas culpas e infortúnios, acabaria por dar asas às suas imaginações e os fazê-los denegrir a minha imagem, então uso sempre uma palavrinha que trago sempre comigo e a repito com freqüência: BASTA.
Não adianta virarmos as costas ao passado, mais cedo ou mais tarde ele nos persegue. Quando ficamos velhos tudo a nossa volta passa a girar em torno do passado. A memória é o melhor dos dons que Deus dispensou aos homens e é o que os difere dos seres irracionais. O que seria do ser humano se não tivesse memória? Talvez ainda estivéssemos no tempo das cavernas.
Este é único legado ou arma capaz de nos elevar e nos fazer denunciar os males do mundo. Os filósofos dizem e com bastante racionalidade: “penso, logo existo”. Nesse caso, se eu penso, eu memorizo, eu sonho, eu crio e creio, por isso, indubitavelmente, o meu viver será registrado por todos aqueles que virão depois de mim.
Os que me são próximos não me vêm como sou, me tornei invisível para eles devido ao choque de idéias que gero quando os faço pensar e os obrigo a refletir sobre problemas sociais e sobre assuntos diversos lhes são inatingíveis. A grande maioria não querem ser acordados do estado de inércia ao qual estão condicionados muitas vezes até pelo próprio meio em que se desenvolveu, estão presos as suas idéias conformistas que lhes dão “segurança” para viver mediocremente dentro de si mesmos.
Sei que posso fazer algo por aqueles que almejam, desesperadamente, compreender o que se passa no intimo das fronteiras que nos separam da ignorância e do individualismo humano.
como um país de uma política ate certo ponto estável, poderia entrar em tamanho colapso? Após um pouco mais de reflexão, entendi que até certo ponto globalização estava por trás de tamanha ruína. O que a priori vem com uma linda filosofia de desenvolvimento e crescimento simultâneo entre diferentes classes sociais, traz consigo o mecanismo de enriquecimento demasiado dos que já estão no topo da pirâmide social. Em que bases consistem a globalização senão no beneficio e interesses dos donos do mundo. O ser humano é demasiado interesseiro para poder compartilhar alguma coisa com o seu semelhante ou com quem quer que seja.
Enfim, este mundo no qual vivemos nos transforma em autênticos cegos, surdos, mudos e incapazes de fazer frente às injustiças, principalmente quando estas não nos atingem diretamente.
O mundo caminha para o precipício e o aquecimento global assusta-nos, mas os que têm o poder em suas mãos nada fazem para minimizar tais danos. Na televisão a mídia bombardeia-nos constantemente com estas noticias e eu me interrogo se é com objetivo de nos conscientizar. Acho que nos encontramos de mãos atadas e a nossa voz não consegue submergir. Existindo apenas um grupo aqui e outro ali, mas eles não passam de um punhado de corajosos, tentado fazer frente contra um sistema corrompido mundialmente. É urgente despertar antes que seja tarde, mas é lamentável que para podermos despertar, atualmente começamos sempre por cima, quando na verdade deveria começar por debaixo, como quem lança a semente sobre a terra e espera pacientemente o desabrochar.
O povo esta cansado de mitos ou de palavras repetidas que não os leva alugar nenhum. Porque as palavras? Que levem-nas o vento, mas ate que ponto o vento terá capacidade de se transformar em ação? A ação gera ação, mas as palavras nada mais são do que meras palavras. O vento vem e vai e a única ação que se tem conhecimento atualmente é a da palavra destruição.
Há palavras que nunca foram escutadas ou lidas em silencio, pois se tivessem sido, por certo haveria mais riqueza e intelecto nas pessoas.
Nada sei e nada faço, apenas limitei-me a cruzar os braços e a cambalear perdidamente por entre vielas a falar comigo mesmo e balbuciar orações em forma de lamentos.
Olho o céu e ao longe vejo uma pequena nuvem distanciar-se tomando a forma de um cavalo alado. Desvio o meu olhar para um ponto remoto e sinto uma lagrima gélida percorrer a minha face ao repousar os olhos nas minhas recordações de infância. Instantaneamente, de súbito, sou desperto do meu devaneio por uma cena habitual: pobres desta cidade que pela manha vêm aqui repousar na relva de frente para o Tejo, perdidos entre o espaço e tempo, onde suas memórias são sempre desordenadas. Sinto profundamente que entre mim e eles não existe nada que nos diferencie. Fato que me leva a indagar se também sou um deles ou apenas um moribundo em busca de uma essência que lhe traga o verdadeiro sentido de ser e existir.
Durante toda minha vida, tenho lutado contra todas as adversidades sem deixar que elas me rebaixem ou diminua a minha condição existencial para não vir a me sentir menor ou maior do que ninguém. Mais uma vez isso me leva a interrogar sobre o meu destino, sem saber se eu mesmo o escrevo ou se ele já havia sido prescrito por Deus muito antes de mim.
Foram momentos únicos que a mente jamais se atreve apagar, lugares paradisíacos que ao fim de uns anos nos fazem sonhar continuamente com eles.
Na Mitra vivia-mos apenas c moços, que como eu não tinha quem pudesse cuidar de nós, éramos apenas crianças abandonadas num lugar que o povo dava por nome de “contentor humano”.
Me vejo como um ser capaz de pisar em qualquer lamaçal e sair com os meus pés limpos; habitar dentre os piores pecadores e sair com minhas vestes brancas; conviver com qualquer tipo de pessoa, rico pobre, preto, branco sem que jamais me contamine com a soberba e o egocentrismo da raça humana. Não pense com isso que sou perfeito, pois tenho muitos defeitos, mas o meu coração é puro como o de uma criança e dentro de mim não há espaço para o ódio ou mediocridade de sentimentos mesquinhos.
podemos viver a historia e senti-la com nostalgia, porque a historia é feita de pequenas historias, da nossa vida.