Michelle Trevisani
Para o novo ano:
Eu desejo mais amor-próprio (aquele que muitas vezes deixamos de lado para fazermos outras pessoas felizes).
Desejo grana no bolso (mas se ela não vier em grande quantidade, não se frustre – ao contrário, viva, sorria, lute!).
Desejo mais abraços, mais beijos, mais amaços, mais amores correspondidos, bate papo na calçada. E se houver lágrima, que haja sempre um ombro amigo.
Eu desejo mais confiança, mais fé, menos superstições e ritos sem emoção. Eu desejo Deus no coração, independente do incentivo.
Eu desejo menos fome. Menos fome de comida, de ganancia, de excesso. Menos fome de busca pelo sucesso sem limites. Desejo mais tempo em família, mais briga seguida de beijo com pegada, beijo de língua, desejo mais vida.
Desejo enfim, sonho, muito sonho. Afinal não se paga nada por isso e sonhar mantém a mente ativa. Mantém a mente conectada ao que ainda não é, mas que é possível – e se não se tornar possível que não vá embora com o sonho sua alegria.
É arriscado pedir: me dê uma chance. Chance para quê? - me pergunto. Para errar de novo, para fazer chorar de novo, para abrir cicatrizes e pronunciar palavras meias? Para forçar o riso quando se quer chorar, para estar junto e não estar, para olhar um futuro único, não duplo? Rasgo a carta embriagada de um perfume que nunca me pertenceu. Os picadinhos jogo num lixo qualquer do quarto. Segunda chance só para o meu coração: que merece amar de novo. Algo novo. Novo.
Eu já me impressionei mais. Onde foi parar o brilho das coisas? Parece que as estrelas sumiram, que os passeio de fim de tarde já não acontecem... que a gente ama e des-ama com muita facilidade. Onde foi parar o compromisso? Aquele que só com uma palavra já é verdade, aquela fé, aquela vontade, aquela força que nos move e nos impede dos abismos? Comi pipoca outro dia. Quando criança, pipoca fazia tanto sentido ao se assistir um filme. Hoje não mais. Perdeu o gosto, perdeu o sentindo, o significado. Deixo a bacia de pipoca do lado e viro, me reviro. Dificuldade de assistir um filme inteiro! Nem a paciência, coitada manteve seu espírito.
Queria te ter mais perto,
certo, de dia, de noite, com chuva, sem chuva.
Queria te ter completo, sério, careta, sincero.
Queria um amor sem rodeios.
Um amor com cheiro, forma, calor e tantos outros adereços.
Um amor tenro, sem dor. Um amor cor - aquele que te deixa tão leve, tão alegre, que parece visita ao circo. Um amor que poderia ter alguns defeitos, que poderia ser isto ou aquilo, mas por favor – um amor inteiro, sem metades, sem falsidade – inteiro.
Desejo de hoje: estar perdida num cantinho do seu coração, torcendo para que você não me encontre. Assim posso fazer bagunça á vontade.
Desejo de hoje: não te desejar tanto em horas que não posso te ver. O desejo ás vezes é um diabinho assanhado!
Vale à pena estar aqui: por mais um dia respirando pertinho de você e sentido seu abraço solto me fazendo sorrir. Vale à pena sentir o calor do seu corpo me envolvendo e aquecendo, vale à pena estar entregue por mais alguns momentos, esquecendo os problemas cotidianos, esquecendo que sou minha...
Desejo de hoje: comer aquela macarronada sem culpa. Escultar um pouco de música chula, só para mexer o corpo e extravasar. Ler um livro de piadas, sorrir um pouco e esquecer aqueles imensos problemas que me assombraram o dia todo.
'Vamos?', ele disse. Peguei em sua mão. Ele parou vacilante. Olhava fundo em meus olhos, como se buscasse alcançar estrelas. 'Espere, vá você na frente'. Perguntei confusa: 'Por que?'. Ele: 'Porque a direção é você...'
Não faz vista grossa para o amor que carrego. São múltiplos, bem sei. Mas quem disse que amor é só de um único jeito? Quem disse que o amor é um sujeito sossegado, que se contenta só com um beijo e que é redondamente coberto de razão? Os amores que tenho – são meus, não os nego. São diversos, são loucos, tontos, são inteiros e meios. Mas são amores – me alegram, me preenchem e, o que faz todo o sentido: me perturbam. Sou doida por esse desassossego.
Parabéns otário. Você acabou de estragar uma roupa minha inédita com este jantar desgraçado de ruim (que mausoléu é este meu filho?... Há entendi – comida barata!), com estas furtivas olhadas no relógio, com este papo nem um pouco atraente. E ainda se oferece com o olhar mais cafajeste que já vi na vida a me acompanhar até em casa. Olho incrédula: 'Para quê?' - me pergunto. Levanto da cadeira batendo fortes os pés. Não olho para trás. Me retiro.
É assim que espalho minhas delicadezas. Beijando de vagar quando dá vontade. Abraçando o céu, mesmo tendo braços tão pequenos. Colhendo estrelas pelo caminho... esfrego-as docemente contra a pele – e brilho.
Meio-dia e uma saudade apertada. Pensei que era fome: comi. Mas não era. Tomei água, abri um doce. Ainda apertava. Afrouxei os cadarços do tênis. Me afundei no sofá. Dormi. E o sonho veio logo, me abraçando com imagens suas, imitando sua voz – quase agarrei seu cheiro e o trouxe pra perto – mas ele voou. Acordei. Algumas flores frescas esperavam sobre a mesa. Você sentado ao lado delas, me observava a dormir. Sorria. Eu retribui o riso, toda abobalhada. 'Sonhava com o que meu anjo?' - ele disse. 'Com a saudade' – concluo. E a matei num abraço longo e perfumado. Um abraço que matou a fome da vida inteira.
Peguei o trem da liberdade, mas ele só trouxe saudade, saudade de ter você aqui. Tentei fugir, tentei driblar as lágrimas, mas uma enxurrada de imagens suas turvou o meu olhar. E o vento tolo, agora me acaricia, como seus dedos um dia fizeram... e foi como tocar o céu num minuto de sanidade. Mas é tarde, e eu tenho que partir. É tarde pra desculpas pedir, é tarde pra nos reconstituir.
De certo nunca estamos inteiramente preparados. Mas se aquele pedaço de mal caminho pega no nosso braço de jeito e fala: 'Vem comigo', eu digo: 'Vou, vou sim' – e nem pisco!
Senhores sentimentos, a baderna em meu coração está imensa. Favor pararem imediatamente com essa barulheira, pois: não estou conseguindo dormir – olheiras passaram a ser companheiras cotidianas; já não consigo diferenciar vozes – a maioria de vocês grita muito, abafando a sanidade; quem disse que era para trazer bebida alcoólica?; meu estômago vive embrulhado e já não sei se é pelo espaço que vocês tomam – acabam ultrapassando as barreiras do coração, que já é um lugar bastante razoável e privilegiado, ou se é porque convidaram estas borboletas infernais, que estão fazendo inclusive novos casulos – multiplicam-se atrozmente as infelizes; - Temo ainda que estão fazendo a razão de refém.
Desejo de hoje: perturbar não é legal, então Senhores Problemas, façam o favor de botar o pé na estrada e esqueçam de minha pessoa no próximo ano. Não, não inventem de dar uma passadinha rápida nem para um cafezinho.
Tenho desejos. Tenho medos. Tenho anseios. Tenho você – inteiro e a hora que quero. Mas por quanto tempo? Quanto dura a felicidade? Quanto dura a certeza? Tento ser leve, mas essa estúpida indiferença do acaso me aprisiona.
Deixe que brilhe estas dores contidas neste pote de estrelas. Não descarregue suas lágrimas assim... não deixe que cortem teu semblante. Sorria – e se não tiver motivo, sorria pra mim.
– num abismo de múltiplas máscaras: eu, meus sentimentos e minha vontade. Se cumprimentam, se esbarram, disfarçam.
É que já perdi tempo demais pensando se arrisco ou não arrisco. Já perdi tempo demais imaginando nãos. E fui me desfazendo em metades que são dúvida, em metades que nunca se completam, por medo de tentar.
É que a gente comete estas besteiras ás vezes – se arrepender. Quando tomamos conta da brevidade da vida, já é tarde... e tanto arrependimento por impulsos e sentimentos ficaram guardados e enterrados nos minutos que passaram – aqueles que ninguém mais se lembra...
'Preciso só de você', ela dizia incansável. Quando ele insistia em colocar retalhos e outras formas de necessidades na vida dela. 'Só de você', ela repetia. E ele não entendia como uma garota conseguia viver só de amor, necessitar só de amor, e mais nada.
Não reduzi minhas expectativas. É que aprendi a direcioná-las. Por exemplo: já não espero que você cresça, e também não espero que estas babaquices terminem. Resolvi partir para outra, outro sonho, outra encrenca.