Michel de Montaigne

51 - 75 do total de 142 pensamentos de Michel de Montaigne

Uma das maiores subtilezas da arte militar é nunca levar o inimigo ao desespero.

A alma que abriga a filosofia deve, para a sua saúde, tornar o corpo são.

A virtude é coisa deveras inútil e frívola, caso apenas tenha a recomendá-la a glória.

Nunca devemos dizer tudo, pois seria tolice; mas é indispensável que aquilo que se diz corresponda ao nosso pensamento; de contrário, é maldade.

A mais sutil loucura é feita da mais sutil sensatez.

A verdadeira liberdade é podermos tudo por nós.

As leis mantêm-se em vigor não por serem justas, mas por serem leis.

Não se corrige aquele que se enforca, corrigem-se outros através dele.

Os hábitos são a vitória do tempo sobre a vontade.

A morte é de fato o fim, no entanto não é a finalidade da vida.

A sabedoria tem os seus excessos e não é menos necessário moderá-la do que à loucura.

O homem que teme o sofrimento já está sofrendo pelo que teme.

Michel de Montaigne
The Complete Essays (1993).

Nota: Trecho do ensaio Of experience (Da experiência, em tradução literal).

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Aquele que castiga quando está irritado, não corrige, vinga-se.

Quem viu jamais um médico aproveitar a receita do colega sem lhe tirar ou acrescentar alguma coisa?

Por mim, teria evitado casar até mesmo com a sabedoria, caso ela me quisesse.

Embora possamos ser sábios do saber alheio, sensatos só poderíamos sê-lo graças à nossa própria sensatez.

Pode-se ter saudades dos tempos bons, mas não se deve fugir ao presente.

Preocupa-nos mais que falem de nós, do que a maneira como falam.

É um gládio perigoso o espírito, mesmo para o seu possuidor, se não sabe armar-se com ele de uma maneira ordenada e discreta.

A felicidade está em usufruir e não apenas em possuir.

Ensinam-nos a viver quando a vida já passou.

Quem deseja diminuir a sua ignorância deve, em primeiro lugar, confessá-la.

Todos os dias vão em direção à morte, o último chega a ela.

Viver é o meu trabalho e a minha arte.

Os homens (diz uma antiga máxima grega) são atormentados pelas ideias que têm das coisas, e não pelas próprias coisas. Haveria um grande ponto ganho para o alívio da nossa miserável condição humana se pudéssemos estabelecer essa asserção como totalmente verdadeira. Pois, se os males só entraram em nós pelo nosso julgamento, parece que está em nosso poder desprezá-los ou transformá-los em bem. Se as coisas se entregam à nossa mercê, por que não dispomos delas ou não as moldarmos para vantagem nossa? Se o que denominamos mal e tormento não é nem mal nem tormento por si mesmo, mas somente porque a nossa imaginação lhe dá essa qualidade, está em nós mudá-la. E, tendo essa escolha, se nada nos força, somos extraordinariamente loucos de bandear para o partido que nos é o mais penoso e dar às doenças, à indigência e ao desvalor um gosto acre e mau, se lhes podemos dar um gosto bom e se, a fortuna fornecendo simplesmente a matéria, cabe a nós dar-lhe a forma.

Porém vejamos se é possível sustentar que aquilo que denominamos por mal não o é em si mesmo, ou pelo menos que, seja ele qual for, depende de nós dar-lhe outro sabor e outro aspecto, pois tudo vem a ser a mesma coisa. Se a natureza própria dessas coisas que tememos tivesse o crédito de instalar-se em nós por poder seu, ele se instalaria exactamente da mesma forma em todos; pois os homens são todos de uma só espécie e, excepto por algo a mais ou a menos, acham-se munidos de iguais orgãos e instrumentos para pensar e julgar. Mas a diversidade das ideias que temos sobre essas coisas mostra claramente que elas só entram em nós por mútuo acordo: alguém por acaso coloca-as dentro de si com a sua verdadeira natureza, mas mil outros dão-lhes dentro de si uma natureza nova e contrária.

Michel de Montaigne

Nota: in Ensaios