Mia Couto
“Dentro de mim, vão nascendo palavras líquidas, num idioma que desconheço e me vai inundando todo inteiro”.
( em "O fio das missangas". Lisboa: Editorial Caminho, 2003.)
"Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e dos mortos”.
(Juca Sabão, em "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra")
Um abraço para Manoel
“Dizem que entre nós
há oceanos e terras com peso de distância.
Talvez. Quem sabe de certezas não é o poeta”.
19/dez/2013
"Agora sou velha ,magra e escura como a noite...Escuro que não vem da raça, mas da tristeza. Mas tudo isso que importa, cada qual tem tristezas que são maiores que a humanidade”.
(in "A Varanda do Frangipani “
" Em África tudo é outra coisa: a mansa crueldade do leopardo, a lenta fulminância da mamba, o eternamente súbito poente.
[...]
Se o silêncio é sempre um engano: o falso repetir do nada em nenhum lugar. Em África tudo é sempre outra coisa”.
( in "O fio das missangas")
Beijo
Não quero o primeiro beijo:
basta-me
o instante antes do beijo.
( em “Tradutor de chuvas”. Lisboa: Editorial Caminho, 2011.)
Só se escreve com intensidade se vivermos intensamente. Não se trata apenas de viver sentimentos mas de ser vivido por sentimentos.
" As pálpebras limpam os olhos das poeiras. Que pálpebras limpam as poeiras do coração?
(In " Na berma de nenhuma estrada " - página 175)
"Eis o que descobri: as aranhas que observei sobre a mesa estiveram sempre dentro de mim. E dentro de mim fabricaram uma teia que me tolda não apenas os movimentos, mas toda a minha vida".
(in "Mulheres de Cinzas" página 236)
" Porque o amor é esquivadiço. A gente lhe monta casa, ele nasce no quintal". (in " Terra Sonâmbula ")
“O que mais dói na miséria é a ignorância
que ela tem de si mesma. Confrontados com a ausência
de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando-se
do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilusão
de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as
vozes”.
( na apresentação do livro "Vozes anoitecidas". São Paulo: Companhia das Letras, 2013.)
Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre chuva, entre o voo da nuvem e a prisão do charco. Afinal, somos caçadores que a si mesmo se azagaiam. No arremesso certeiro vai sempre um pouco de quem dispara.
(do livro em PDF: A menina sem palavra)
A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
"Aquele vento, pensou ele, iria varrer a terra por inteiro, atingir por igual os fracos e os poderosos. E os grandes aprenderiam que há um poder bem maior que o deles. O vento os ensinaria a saberem ser pequenos”.
( em "O outro pé da sereia". Lisboa: Editorial Caminho, 2006.)
“O que pode suscitar uma pequena história é quanto por trás do cientista reside um homem, com suas ignorâncias, suas incertezas e suas crenças tantas vezes muito pouco científicas”.
(trechos do texto elaborado para crianças lusófonas integradas no programa interescolar "Ciência Viva", Julho de 2004, publicado em "Pensatempos)
“A adiada enchente
Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim”.
(em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editorial Caminho, 2007.)
“A uns satisfaz uma sombra,
a outros nem o mundo basta.
Uns batem com a porta,
outros hesitam como se não houvesse saída”
.
(em “Tradutor de chuvas”. Lisboa: Editorial Caminho, 2011).
“Todas as manhãs a gazela acorda sabendo que tem que correr mais veloz que o leão ou será morta. Todas as manhãs o leão acorda sabendo que deve correr mais rápido que a gazela ou morrerá de fome. Não importa se és um leão ou uma gazela: quando o Sol desponta o melhor é começares a correr”. Provérbio africano
(do livro em PDF: A confissão da leoa)
“Fazer da palavra um embalo
é o mais puro e apurado
senso da poesia”.
(trecho em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editorial Caminho, 2007.)
“Amor se parece com a Vida:
ambos nascem na sede da palavra,
ambos morrem na palavra bebida”.
(trecho em "Idades cidades divindades". Lisboa: Editora Caminho, 2007.)
"Quando as teias da aranha se juntam, elas podem amarrar um leão”.
(Provérbio africano), em "A confissão da leoa", Lisboa: Editorial Caminho, 2012.)
"Quero morar numa cidade onde se sonha com chuva. Num mundo onde chover é a maior felicidade. E onde todos chovemos”.
( em "Antes de nascer o mundo". São Paulo: Companhia das Letras, 2009.)