Matt Ianella
Água mole em pedra dura tanto bate, até que cansa e segue a corrente. E tanto ela bateu, por ser mole. Antes fosse sagaz, entendendo a natureza dura, rude e imóvel da pedra, quando a própria natureza destinada é ao mar.
Desculpe-se você com a vida, e pare de culpá-la. Como um detetive sempre buscando um novo suspeito, culpado por seus crimes inafiançáveis. Já não cabe mais culpar a vida ou o que lhe venha acarretar numa infelicidade. Descubra o espelho. Se veja! Dói tanto assim se apontar? É tão difícil parar de procurar o erro ao derredor? Acha melhor endividar algo em culpa, do que assumir o que é defeituoso?
Quando toda a pena vale, não é a distância que afasta, do contrário, é a que torna mais claro o caminho. E ainda que longo de ser percorrido, é nas resistências das extremidades, que se tem as certezas do que se quer e há aposta sem receio. Onde pra uns toda distância a visão turva, pra outros é o que ilumina nas estradas cada curva.
Uso o que tenho, preciso do que possuo ou posso alcançar. Nem me lembro do que podem me oferecer, e se lembro, trato logo de um improviso que substitua. Conheço bem a face da humildade de saber pedir sim, é que minhas preferências tem sido pelos meus próprios joelhos se ralando na escalada. E esse fato não me isenta de dar a mão na boa vontade. Sei dar até o braço ao que carecer, mas jamais os pés que me trouxeram até onde cheguei.
Há quem goste mesmo é das falsidades. Sorrisos e abraços, beijos no rosto e elogios forçados, antes de qualquer verdade que lhe doa. Há quem se aparte do que é bruto, sincero, do que não foi lapidado. Não sabendo lidar com a nudez da face, como se fossem grosserias as transparências, mantendo-se sempre perto do que é fútil e manequim.
Era das Trevas
Geração Egoísta
Nação da Vaidade
Em Torno, Narcisista
À si Mente a Verdade
Século do Retrocesso
Tempo de Resguardo
Lixo em Excesso
Só Princípios Guardo
Refém da Poluição
Minoria com Valores
Embaçando a Visão
Temendo Opressores.
Vou limonando o que me limoar.
Adoçando o suco, desse azedo sumo,
Que o limoeiro da vida tem pra dar.
Muito é fácil culpar pelo esquecimento, quando também nos esquecemos. Não lembrar é reciprocidade livre, além de ninguém ser insubstituível. Só some algo que se perdeu. E se perdeu, larga de mão ou procura? Laços foram feitos para serem amarrados ou cortados. Só se cobra presença, quando o seu afeto não tem ausência. Culpa é abandonar no passado o que tem significado, por um erro que não foi perdoado, um braço a torcer que não foi dado. É século XXI e distância física não impede contato. Quem esqueceu, esqueceu, isso é fato.
O embate nunca foi em ser minoria, e sim desunião. Exército que entre si diverge, criando maiores barreiras que as já postas. Mas só estamos aqui, por que vieram antes de nós. Exercemos nossos direitos, e ainda não como deveríamos, mas graças a cara que um dia foi dada à tapa. E os radares foram destruídos, sensores que barravam a ida e vinda, gerando perseguições de morte que perpetuam até hoje. Silêncio também é resposta, mas não quando se é um exército com um arsenal e muita bala. Calado é o acovardado, incubado, que omite suas verdades. Quem assume, luta, e não passa batido, passa batendo, com o punho doído, se defendendo.
Entenda que boa parte ou parte inteira deste pouco caso e desapego impresso, é só atuação proposital, na intenção de lhe afetar. E se te quero tanto assim e não demonstro, é porque mais de você pode ser feito para que me conquiste. E não mostrar a entrega, quando já é seu meu coração, causando o medo de não mais o ter.
Onde sumir é a ideia. Realçar o abandono, provocando o gosto de fim. Pondo na tua mente uma incógnita, do motivo dos desprezos. Perdoe essa indelicadeza, é tudo fruto daquilo que um dia foi dor.
Perdoe essas muralhas e fortalezas, minhas barreiras e incertezas, que me impedem de sorrir.
Que me faz confundir o inofensivo, com algo nocivo, que possa me ferir.
Eu te quero bem. Só perdoe minhas cicatrizes, minhas tentativas infelizes, de um passado a interferir.
Cada sentimento é um trecho
Cada trecho me rendia
Me rendia o desfecho
De uma nova poesia.
E o que tem dentro expor
Sem nenhum problema
De dentro pra fora compor
Nos dedos um novo poema
Me esvaziar num papel
Me jorrar de escrever
Mesmo fechado o tempo
Com palavras abrir o céu
Te molhar de chover
Nos trechos de um sentimento.
Orgulho de mim, é cabeça erguida. Não é nariz em pé, é ser dono da própria vida. Longe do que é soberba, é humildade demais até, e de tanto que pisada, de se submeter já cansada, resolveu usar a fé.
É somente postura, na glória e na luta, que estiver por chegar. Ainda que superioridade pareça, não julgue nem desmereça, mas primeiro conheça, pra depois falar.
Tá na moda e eu não sou a moda. Sou a árvore desse galho que poda. Mais que só a carência, amor é a tendência e cafona é a vazia foda. Te oriente, sou decente, a maldade está na mente e eu não sei me insinuar. Não sou alma descarada, nem de santo tenho nada. Não me curvo ao deliberado, é só uma questão de palpite, ter o desejo ponderado, à tudo que tem um limite. Ainda sou orgânico, sei sentir e existir, mesmo que forçado ao mecânico, do padrão a se seguir.
O cabelo vai dizer, os olhos vão dizer, os traços vão dizer, mas se a pele não disser, a boca não tem o que dizer. É a pele que sente, é ela que não mente, antes ela fosse transparente, e por igual todos mostrar. Foi ela quem sofreu no açoite, de dia e de noite, cada rasgo, cada corte, resilientemente forte, toda ferida de morte, pelos séculos perpetuar. Quem sofre é o preto, nesse racismo em panfleto, e pra todo humor negro obsoleto, não há reposição cultural pra reparar. Que se cale o moreninho, nem se meta o escurinho, que aceita apelidinho, pra pele negra nomear. Muito é fácil advogar a causa, já ganha, injustiçada, por cada gota derramada, do nobre sangue negro ainda a pingar. Seja aqui ou aruanda, até dentro da umbanda, se fechem as portas de wakanda, pro falso negro não entrar.
O benefício de colher, não se dá somente ao ato de plantar, mas também ao de regar. Simples é derrubar as sementes pelo caminho, disso até os pássaros irracionais são capazes. Complexo é manter as pragas longe do plantio e o solo úmido até florescer.
Pior que aquele que amor não sabe dar,
é o que amor não sabe receber.
Se priva de ensinar,
se priva de aprender.
No carma de não superar,
não deixa o sol nascer.
Fadado a errar,
refém de se esconder.
Não sabe se libertar,
só sabe se prender.
Ao que amor não sabe dar,
nem muito menos receber.
Atitude e disposição, também para uma queda. Um nobre também golpeia e sabe se despir da coroa para resolver nos punhos, quem sabe até precise degolar impondo seu trono. O bom Rei não se acovarda atrás de seu exército, mas vai à frente das suas guerras, ainda que seu sangue se derrame antes do que valoriza, defendendo.
Se o passar do tempo te
melhorou interna e externamente,
por que razão a insegurança
hoje em dia seria maior?
Qual o Comprimento de um Cumprimento?
Se antes não existia, períodos pandêmicos fizeram questão de estabelecer a medida. Um metro e meio de distância põe na balança as intimidades e forçam a valorizar as relações.