Matheus kaue
Já morri uma dúzia de vezes hoje, teu efeito com álcool é pior que sedativo indicado. Na prescrição da receita te esquecer foi o problema, foi dilema de vida, de noite vazia parte corrompida.
Eu fui só uma pequena passagem na história de um ser de verdade, daqueles que tu tocas e sentes a alma, beleza mais pura de ser encontrada.
A loucura e a sanidade são muitas vezes de carreira curta, as vezes enrolada em um diploma outras em uma nota de 20.
Ainda sinto a corda em meu pescoço, ela o aconchega em dias ruins. Não sinto medo da morte ou desprazer pela vida, sinto apenas um convivo sufocador com uma amante. Minha amante insiste em ser ligada a minha existência, ignora meus amores sufoca meus prazeres, é tristeza os dizeres.
Já arrumei a sala de estar, a corda fica no segundo plano, ou melhor segundo piso. As vezes o sufocar de uma corda é mais acolhedor que abraço sorrateiro de inimigo pelo coração acolhido.
Percebi nos girassóis de Vincent um ciclo de vida, ali havia florescer, mas tinha melancolia e sofrer. Vincent, aprendi com você.
É fascinante a semelhança da tristeza de um girassol em final de vida, tristeza bem sofrida, semblante caído de caule comido.
Entre as sobras das migalhas do teu amor me sobraram apenas alguns metros de corda na sala. Nós nos cortejando por horas, trocas de olhares e indecisão. Eu e a corda é claro.
Que não nos falte álcool e inspiração, da poesia se cavalga os vales do sofrimento e sem noção de sentido estaremos todos perdidos, apenas embebecidos por palavras sem uma boca para beber sentido.
As estrelas parecem sempre estarem a disposição, como composição clara, sem distração tola e só ofuscada por quem tem nuvem tola. Parece pintura de amarelo, pincel certo, cavalete aberto para o céu e o girassol em amarelo.
Você e whisky sem gelo são duas escolhas erradas, as duas me deixam de cama, porém o whisky sempre volta.
Já te troquei por hipóteses, fiz parte de outros retoques. Encaixei coração doente em alma corrompida, mas nenhuma era bandida, afinal qual ferida é mais ardida?
A conformidade da ação entre dois não dar em nada já é do entender do ser que hoje me habita. Sei que meu sentir não é o teu sentir, nem posso obrigar. Cada dia acredito que nós, os não conformados nascemos para ser solitários.
Tem palavras que nunca vão conhecer nossas bocas, tem toque que nunca terá sensibilidade, tem desejo que nunca vai passar de vontade.
Nunca vou ter um momento tão intenso quanto a ligação dos nossos corpos em puro sentimento e exposição de almas, ou melhor, alma.
Tentei ter posse do que não deveria pertencer a ninguém. Me julguei intocável pela mão da dúvida e, então fui embora. Tão rápido me arrependi, pois na minha perdição eu era minha própria cura.
Tudo certo severa amiga? Tu me faz companhia, então não me venhas com caras e sinas, tu já me completas. Sem te ter quem serei dentro do quarto a nove chaves, só um covarde? Tristeza, não vá embora meu corpo em ti.
Hoje vi um coração partido em vão, fui telespectador de um pobre apaixonado por um coração complicado.
-Socorro! Te gritei sem estender a mão. Eu não queria, queria alguém pra conversar. Eu sempre me entendi melhor no fundo do poço.
A expressão poética nem sempre vem apenas de teus próprios sentimentos, às vezes vem doada de terceiros, como em uma conversa de cuecas na cabeceira da cama de um hospício.
Tem tanta confusão em coração partido que as vezes por nós mesmo somos iludidos, ou pior, outros são iludidos.
A solidão já não me persegue, não me aborrece ela transparece. Já é de cintura justa, amiga e das puras.
Fui diretor de uma cena na qual queria ser protagonista. Estava em um plano astral, telespectador, sei lá. Eu imaginava coisas, dissertava roteiros, dirigia a cena. Menos estava com ela.
Um dia um velho amigo me disse no reflexo de um vidro sujo, cuidado com quem amas. Fiquei perplexo, mas em alerta. Nove horas mais tarde eu havia levado nove facadas da visita que chamei de morada.
Tem tanto toque insensível que despercebido passa por alma sofrida. Tem beijo que precisa de palavra proferida pra saber o quão sua boca é dolorida, reprimida. Tem pessoas que nós nos surpreendemos, nos dão ouvido mesmo sofrendo e pouco nos conhecendo.