Marques Bueno

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“Arrependimento”



Foram inúmeros erros, grosseiros, letais e arteiros, só que o tempo esperou sorrateiro e hoje se mostrou implacável, nunca um arrependimento fora tão hesitantemente profundo.

Eu que sempre me achei muito esperto, veloz e austero, cai na mais barata armadilha, um emaranhado de acontecimentos, percebi então meu dom...auspicioso idiota.

Uma celebração solene, uma pausa da natureza, os olhos do mundo voltados para esta data, todos celebrando alegremente, e eu estupidamente o intruso muito indecente.

As magoas que deixei, os choros que causei, os anos contribuíram para o esquecimento e hoje recebi todo este peso...meu primeiro acerto de contas.

A alma que nunca foi crente hoje sofre mais que meu inabalável orgulho, a dor de minha estupidez não consegue arrancar sequer lágrimas do coração.

Um sentimento amargo, um veneno que mata aos poucos, os sentimentos vão se apagando, e o veneno te consumindo; o brilho da lua...sem valor.

“Ensaio de desculpas”

Astuto rapaz, nunca se achou muito capaz, insincero em seus pedidos, a labuta não é igual a sua fala manhosa.

Brilhante quando pede algo, possui o dom da adivinhação, sua faceta é faiscante, seu intento é o desejo mais insignificante.

Cinismo oculto em uma frágil casca de madeira, tropeços naquilo que enxerga demais, parodiando a carne humana sem nenhum constrangimento.

Dadivoso pelos seus interesses, estragos ordeiros, perigoso enquanto cavalheiro; imaculado brincando de machucar inocentes, indecoroso quando se colocava a pensar.

Erudito sem condições de ensinar, luta medonha que só faz esbravejar, seu altruísmo ficava muito além, pequenos retalhos, toques aquém.

Fiasco de fato como homem ausente, sua insônia não fora por escolha notável, perfeito fracasso, nunca será um orgulho louvável.

Grandiosas foram as tentativas, admirável sua ousadia, incapaz de pedir desculpas, transfere sua culpa e para finalizar, nunca alega loucura.

Homenagens para si, festança solitária, seu erro era incolor, a linha que divide sua vida fora amparada meramente pela dor.

Indolentes pedidos sangrentos de paz, amordaçado nunca fora por seus pais, descomedido, contudo com algo na mente, murmúrios sofríveis, dementes.

Justa foi sua escolha, sofreu à margem, nunca à sombra, sua vontade fora tenaz, faltava apenas uma coisa; tentar explicar.

“Palavras que não devem ser faladas”


Adeus...
...a despedida já é maculada por uma profunda dor, quem diz adeus perde um amor, o sorriso que murcha a flor, estandarte de horror, caminhos que representam extremo torpor.

Te odeio...
...um coração a beira da morte, sei que minhas palavras não estão escondidas em um sacrário, mas odiar alguém é muito forte, brisa leviana que acompanha a morte.

Não te amo...
...teu amor pode não ser perfeito, só não tente magoar quem ama inocentemente, trabalho árduo é fazer crescer um amor dormente, nunca diga algo capital, martírio carente.

Perdão...
...se tuas palavras se limitam a apenas perdão, desculpe, mas você perdeu parte de seu coração, perdoar é divino, não pertence a você, ame com juízo, não pretenda entender.

“Ninguém”

Eu traço planos, não sou insano, quero um abraço para calar as vozes dolentes.

Eu tramo meu intento inocente, não quero pedidos clementes, queria mais que um amor envolvente.

Eu tranço seus cabelos, mas não os tenho em minhas mãos, graciosa manifestação vazia.

Eu trago seu pedido de misericórdia, tramóia insipiente que faz todo coração sepultar um amor.

Eu traio muito bem e não perdôo ninguém, insisto até matar minha alma perenal.

Eu trabalho de maneira incessante, procuro não ser insignificante, inserto está meu coração; orgulho, desilusão.

Eu transpiro enquanto sonho contigo, meu limiar de palavras é inexpressivo, ultraje apenas comigo.

Eu transmito em meu olhar tua sensação de dor, divina comédia que não passa; contagia.

“Quisera algo”

Quisera eu em um dia de puro devaneio mudar o mundo, achei que as vozes que me acompanhavam gostariam de tal feito, porém minhas palavras caíram ao vento.

Quisera eu em um dia de completo esquecimento andar a pé sem sofrimento, ludibriar um destino já traçado, não precisar olhar para os lados, torcer para ser lembrado.

Quisera eu em um dia qualquer esperar sedento pela divina inspiração, não pretendo alinhar palavras bonitas, tento apenas não escrever com decepção, papel e lápis dando as mãos.

Quisera eu em um dia de curiosidade saber onde foram cavadas as sepulturas, se por lá as mentes se escondem, um joguete sem nomes, desgosto que fortuitamente consome.

Quisera eu em um dia de desamparo contar somente com o que faço, não aguardar de braços abertos o vazio da escuridão, a minha simplicidade não trará perfeição.

Quisera eu em um dia de completa lucidez poder dizer aos céus que consegui, que enfim descobri o que é ter razão, acreditando deixar de lado toda estupidez.

“Sua terra”

Não seja uma árvore com as raízes expostas e pouco profundas, crie vínculos com aquela que te alimenta e que te deixa de pé, a ingratidão é a letargia da alma, pense e depois agradeça.

Minha bebida

Minha bebida não é o néctar dos deuses, é apenas o que me consome... o teu amor.

“Apenas”


Amar...

...como se isto fosse inocentemente uma singularidade, uma divida com os sentimentos, garboso encontro da flor com o espinheiro.


Beijar...

...como se isto fosse singelo, não ardoroso, outras vezes vergonhoso, exatamente isto, o desejo declamado, indeciso, fogo sempre vivo.


Chorar...

...como se isto fosse plausível, honestamente a lágrima caída é um desperdício, é a poesia lírica de um suplício.


Desejar...

...como se isto fosse satisfatório, chamar sem vozes, árduo esculpir de pedras maciças, viajar sozinho, abraçar um retrato longínquo.


Esquecer...

...como se isto fosse melodioso, sangue insistente, dores freqüentes, impenitente, um segredo desbriado, alegria deixada de lado; amor diferente.

“O silêncio talvez seja o melhor e mais importante presente divino.”

“Amor”

“Amar é não pedir perdão.”

“Um pouco confuso”



Não posso ser julgado por ser inocente, não posso ser exaltado por não ter agido de forma decente.

Não quero uma pessoa carente, também ninguém envolvente, quero apenas minha paz, não quero ser o autor de lágrimas latentes.

Quero andar sozinho para assim trocar vivências com a solidão, a noite não vem acompanhada da ingratidão, mistério é esperar a escuridão.

Posso até sorrir calado, riso para esquecer a procura de toda solução, não sei se amo a infinita estrada, também cansei de incitar confusão.

A vida possui apenas uma fonte, mas este rio tem várias ramificações, e é em uma delas que escorre a dúvida deste infante poeta sem coração...

“Um beijo inacabado,porém resgatado”



Andei os mesmos passos que foram seus,freqüentei os espaços em que você se perdeu.

Pude ver em seu rosto um sorriso brotando,enquanto admirava você seguiu seu caminho cantando.

Cresci sabendo que havia te perdido,entretanto era esperado que em algum canto de nossas vidas,enfim te teria.

As andanças foram tantas,os erros incontáveis,o passado não fora branco,sequer lembro sua imagem.

O tempo escorre por entre os dedos trazendo a vergonha também,inconseqüência é uma triste lembrança,esperada a contento por ninguém.

O sol brilha e purga a desesperança,levando o doce à alma de quem espera o amor de alguém,sou feliz e ando com fé e esperança,pois para meus braços enfim meu amor poderá repousar.

“Teu espelho”

Tua imagem no espelho murmura algumas palavras de dor, outras de castigo.

Tua felicidade é o expoente, encarando seus fantasmas de frente, fôlego ausente.

Tua preocupação deu com a cara na porta, esgotando um sonho calhorda.

Tua espada deixou de cortar, os emaranhados da vida, hei de complicar.

Tua oração ao pecado criou um lago de constrangimento, vazio de vida.

Tua reserva de bom senso,amargou,apodreceu, teu respeito soluçou, depois morreu.

Tua falta de alegria refletiu a cara zangada; espelho de tua alma...

“Tua morenidade”

Tua beleza não é uma arvore frondosa, não é tão imponente quanto o arco-íris, não é a última flor do mundo, mas é inocentemente única.

Tua beleza é algo que me consome, seus cabelos ora molhados, ora secos, ora trançados, ora presos, agarrados ou acarinhados é meu infindável afável sossego.

Tua beleza é algo reinante, seus olhos repelem todo mal, seu sorriso é exuberante, sua boca é a seca triunfante, teu rosto é perfeito, eletrizante.

Tua beleza não é a lamparina que se apaga,não é o fogo que se consome,é a alma representada; anjo que não tem nome.

Tua beleza é algo que não tem lei, é assalto de forma clara, é decifrar um escrito antigo, é um sonho casto, acaso sem perigos.

Tua beleza é algo pintado por Deus, linhas escritas pelo mestre das obras sagradas, afresco cegante à olhos incautos,horizonte sem fim,detalhes só meus.

Tua beleza não tem nome, como falado, é repleta de sobrenomes, e teu corpo é aonde me perco e esqueço até de meu nome;tocante.


Para você não se esquecer, minha vida, minha pequena; não sei e talvez vamos saber, mas seu rosto está ainda mais lindo, alegre e radiante.

“Quando nossos sonhos não são como as canções”

Toda vida melodiosa denota uma entrega gloriosa, a harmonia da chuva caindo lá fora é o doce segredo de qualquer disposição.

Toda voracidade do destino é castigo para poucos, perdemos o tempo que receávamos alcançar, agora não nos resta nenhuma lágrima derramar.

Todo pedido por mais simples, é traiçoeiro, sonhar não é apenas divertimento, olhar aos céus e não receber respostas; nenhuma canção.

Todo detalhe que se perdeu no caminho não é razão para descontentamento, canções ás vezes caem no esquecimento, basta saber esperar.

Toda frase inacabada causa dor, um sonho interrompido traz pavor, é como um vidro que sem motivos quebra-se ao chão.

Todo ódio retorcido não levará a nenhum perdão, aguardar indolente a redenção é repetir a canção e fatalmente deixar de sonhar.

“A vida é ilusória, transitória, passageira e muitas vezes sem sentido, portanto o melhor é apenas viver”

“Vida simples”


Sujeito aos tropeços de uma vida iniciada com os conselhos de sábios inconseqüentes, traduzindo frases cada vez mais obsoletas e apimentadas de vícios vazios.
Trapaceando com quem nunca ninguém conseguiu enganar, ultrapassando pequenos espaços que sua mente não viu e o que viu ninguém lhe pediu.
Uma vida repleta de crises e mesmo assim vou sorrindo, estragando tudo que fora planejado e ainda assim conseguindo o que se imaginou, ou seja, um fim.
Um bom dia a tudo que se criou, uma vida sem atrativos, uma vida em dissabor, desenhos incolores, assim vou partindo.
Não quero a vida de um desgraçado, não quero uma vida bandida, quero apenas poder respirar, ter domínio de meus dias, cantar e poder ser ouvido, chorar e esquecer do martírio,gritar e ouvir vários xingos.
Esta é uma vida exemplar, não peço nada demais, espero apenas paz e alivio.

“A carta que queria o recomeço.”




Hoje imaginei um dia para recomeçar, esperando o sol gelado do inverno, na esperança de que ele esquentasse meu gélido coração, tirando-me deste cruel desespero.

Tudo o que queria era apenas dizer amo você, sem receio de falhar, sei que caminho longe da perfeição, somente pretendia não mais perder a direção.

Acabei de ser o responsável por fazer verter em seu lindo rosto aquela lagrima de sangue, meu obcecado vexame, ultrapasso o respeito que é seu nome.

Recomeço os dias contando quantas foram as noites, quantos momentos de descontrole,tempo perdido que à alma some,iludindo o destino,cão ferino,reles madrugadas.

O banquete que preparei para nós serve agora apenas para alimentar os vermes, teu singelo desprezo latente encontrou minha escuridão, afogamo-nos no choro sem convicção.

“A decadência de um poeta”




Hoje ao acordar abri minha já combalida janela e fui observar o belo campo florido que avistava todos os dias ao pé da colina, ao invés disto percebi que agora meus olhos me mostravam apenas flores e nada mais sentia.


Meu velho tic-tac deixou de ser melodioso; sem minutos esperar o café que fui tomar passou a ser insidioso.

Minhas rimas já não são profundas, não consiguo mais sonhar, fértil loucura, e meu sono é incapaz de te encantar.


Ontem á noite percebi minha mente querendo descansar, o pequeno girassol fora arrancado, morta a candura; a lua se escondeu, as estrelas se envergonharam, o seu canto também emudeceu, a brisa não me trouxe nada, de fato, tudo se perdeu.


Quero abrir os olhos e ver que minha arte não foi embora junto da florada, pedir o fim desta heresia...

“A vida é um mar de decepções”

O que importa se ultrapassei todos os obstáculos, rompi barreiras, fiz minha história, abri aquela porta, se no final do meu caminho percebi que estava sozinho...

O que importa se todos os meus amores foram como flores, se meu sorriso veio acompanhado de dores, se no meu amanhecer faltou apenas o carinho...

O que importa ser igual ao seu amigo, ter pena de seu orgulho ferido, dar risadas forçadas, fingindo, invejando outra vez mais, um belo caminho...

O que importa ser solidário esperando a volta, doar suas emoções em troca de uma aposta, se alegrar com a miséria alheia, um desejo mesquinho...

O que importa esperar do dia uma nova prosa, se o pensamento é velho, latente e sem juízo, teimar e seguir em frente, caminhando quietinho...

“Amanhã não é seu dia”


Aproveite cada passo deixado na areia e que a onda do mar teima em apagar.

Alimente teu sonho com a realização, esqueça o orgulho desprendido de emoções; os ventos já não são mais tormentas.

Somos apenas mais um grito ecoando no vazio e o passar dos dias não será suficiente para nos engrandecer.

Tentamos de maneira contumaz deixar nossos sonhos para amanhã, varrer a poeira que sempre aparece para debaixo do tapete; problemas para um dia a mais.

Talvez não tenhamos o charme, deixaremos de ser elegantes e curtiremos a sombra a nossa volta dançante, o diário deslumbrante, um tempo que foi embora e deixou a história distante.

“Andarilho”


Não tenho casa, não tenho graça, mas tenho o mundo...

Não tenho pressa, não tenho estudo, mas não sou imundo...

Não tenho fé, não tenho juízo, mas tenho apenas um amigo...

Não quero nada de graça, não quero um sorriso forçado, mas quero viver sem perigo...

Não digo que a vida é sem graça, não digo que o mundo é vazio, mas peço um dia tranqüilo...



Sou algo além, sou vai e vem, sou o impossível...

Sou uma pessoa de bem,sou pedra que ninguém tem,sou imprevisível...

Sou castigo em noites claras, sou lampejo de seus desejos, sou sempre um mal querido...

Sou espera do minuto que não para, sou parada do tempo perfeito, sou austero comigo mesmo...

Sou divertimento banido daquela casa, sou risada sem graça correndo, sou mero aprendiz na porta de casa esperando migalhas sofrendo...


Eu ando bem, eu falo muito, não sou ninguém, mas quero tudo...

“Minha pequenez”


Não me sinto tão imponente quanto aquela árvore centenária, mas sei que tenho a firmeza de suas raízes.


Não sou insano de pensar que posso enfrentar as ondas do mar, mas sei que em um canto quietinho, as suas águas podem vir me molhar.


Não arrisco escalar as mais altas montanhas e seu vento cortante, mas sei que sentado eu posso espiar as nuvens escondendo aquele pedaço de terra estonteante.


Não pretendo enfrentar um amor de braços vazios, deixar flores caídas do lado de fora, mas quero sim te dar um mundo perfeito, o tiro certeiro e fazer transbordar de amor o seu coração, deixando de fora qualquer mínimo defeito.

“A doença que não tem nome”


É aquela que me consome e que faz brotar as lágrimas quando digo teu nome.


É aquela que me distrai quando estou sereno procurando saber um pouco mais o que te atrai.


É aquela que ronda a certeza, exalando a pureza e demonstrando a perfeita destreza.


É aquela que procura ouvir demais a sua natureza, esquecendo a mais terrível impureza.


É aquela que um dia foi capaz, deixou para trás, ouviu os receios; desejos secretos daquele rapaz.


É aquela que chega sem medo, não escolhe o dia e muito menos se preocupa em fazer carinhos em seu sofrimento; conhecida nossa que chega bem cedo.


O que sei é que a saudade corrói como nada no mundo é capaz.

“Trapaças”



Posso confirmar que tua incerteza e com minha convicção, que por amor já fui um exímio trapaceiro.


Posso afirmar que a dor que resisti e meu momento hesitante, deixaram minha alma dilacerada, encontros trapaceiros.


Posso confirmar que minha decisão que nunca foi unânime, deixou de ter razão, singelo aposento, sofrível trapaceiro.


Posso afirmar com toda distinção, que o mar não é perfeito, tampouco a noite escaldante, detalhes trapaceiros.


Posso confirmar que a clareza de seu beijo, ofusca e faz envergonhar até o mais prático trapaceiro.


Posso afirmar que o dom que Deus me deu é mero faz de contas, alguns resgates trapaceiros.


Posso confirmar que tudo que plantei foi regado com a mais pura água, enganando um fiel trapaceiro.


Posso afirmar que o mal é envolvente e dele difícil separar, nada convincente; escusas descuidadas, carinhos trapaceiros.