Mario Soucasaux
Desacertos
Façamos um brinde,
Estilhaçando as taças,
Ferindo nossas mãos,
Unindo nossos sangues.
Serão palavras incompreensíveis,
Talvez sugiram um pacto,
Ou tolas promessas de amor.
Desacreditaremos do mundo,
Vivendo unicamente nós.
Serão nossos corações escravos,
De um amor improvável.
O martírio presente,
Dia e noite, pelos séculos
Das nossas existências,
Para fazer compreender
O nosso significado.
Brindemos novamente,
De mãos vazias,
E sangue seco.
Estaremos em silêncio,
Desacreditando de tudo.
Destilaremos nossos sentimentos,
Como lento veneno injetando na veia,
Definhando nossos corações.
Aflitos, em vão acreditaremos
Encontrar, noutros, um sustentáculo
Para o conforto desta condenação.
Ciclos
A causa foi perdida e nós, causadores, também perdemos.
O nosso mundo ficou vazio e agora ouve-se ecos.
Trapaceamos conosco, vivemos apenas para aprender
Que podemos repetir erros o quanto desejarmos,
Como existissem desde nossas origens.
Aprendemos a crer no provável,
Pois o provável ocorre... E se repete.
Mesmo intuindo o que não poderíamos ser,
Ainda assim, fomos.
Por isso, começou dia e terminou noite.
E voltaremos para repetir os erros,
De uma forma melhorada, menos imatura.
Perdão peço por mais este tempo perdido.
Mas precisarei de outros perdões,
Pois o ciclo não findou.
Naufrágio
Não falas do naufrágio,
Das noites tempestuosas,
Dos mastros partidos,
Das velas rasgadas,
Da nossa falta de rumo.
Da água invadindo
Nossa frágil embarcação.
Não falas da ausência das estrelas,
Dos clarões emanados das densas nuvens,
Que nos cobriam pesadamente.
Das preces pelo fim da noite,
Dos esforços para sobrevivermos,
Da ausência de um lugar
Onde descansar nossos corpos,
Desfalecidos pela luta desigual.
Não falas de nossa sobrevivência,
Que não aconteceu.
Este Mundo Sem Razão
Se não houvessem fronteiras, não haveriam as guerras,
Certamente haveria um mundo melhor sem elas.
As fronteiras distinguem as pessoas,
As distinções geram preconceitos,
E preconceitos promovem conflitos.
Somos iguais, somos feitos da mesma matéria,
Nossas diferenças não estão em nosso DNA
Ou em nossas digitais, como nos fazem crer.
Elas estão em nossa forma de pensar,
Na maneira como olhamos nossos semelhantes.
Estamos impregnados de preconceitos,
Por não nos enxergarmos como almas,
Enquanto que, o que temos aqui,
Nada mais que este nosso corpo,
Este "equipamento" necessário para vivermos,
Neste planeta que habitamos.
Enquanto o respeito for dado apenas àqueles que
Se apresentam pelas roupas que vestem,
Pelos seus ternos, pelas suas gravatas,
Não poderemos esperar por um mundo mais justo.
Enquanto não entendermos os que tem fome,
Os que agonizam pelas doenças que dizimam,
Não poderemos esperar por um mundo mais humano.
Mais que lugarejos, porém, nações inteiras morrem,
Vidas desprezadas, vidas que já nascem mortas.
Pela fome, pelas doenças, pelas guerras...
Almas que perdem seus corpos,
Corpos que perdem suas almas...