Mário Ferreira dos Santos
Com símbolos, expressamos o que não poderíamos fazer de outro modo, porque, com eles, transmitimos o intransmissível.
A luta pelo poder é a grande realidade da história, sobretudo sobre os ciclos superiores da humanidade. O ser humano é um ser que carece, sente-se carente de prestígio, ele ambiciona impor-se aos seus semelhantes, e o prestígio social por ele anelado, ele o deseja em todos os setores.
Bom, mas nenhum setor lhe dá maior soma de poder do que o setor político. Precisamente, porque é aquele que abre o caminho para alcançar o domínio do estado, o domínio e administração das coisas e dos homens. E por essa razão, todos os homens e o grupos sociais quando tem os seus interesses econômicos já estabelecidos, eles desejam fortalecê-los através do domínio do kratos político, para poder, então, deste modo, robustecer ainda mais a sua posição.
"Se há esperanças que se abatem e provocam em nós o desabrochar de desalentos que nos parecem invencíveis, será um erro deixarmo-nos entregues ao desespero, sem aguardar que lhe brilhe outra vez em nós uma luz de esperança nos altos valores."
"Quando um grupo de homens afins, que aceitam uma determinada doutrina ou crença, fecham-se sistematicamente em grupos, consideram-se absolutamente senhores da verdade do que afirmam, e negam-se a participar mais intimamente com grupos semelhantes, e não toleram diálogo amigo com os opositores, reagindo com energia aos que lhes fazem até mínimas restrições, esse grupo se secciona, se separa, cria um abismo entre ele e o restante, forma-se uma seita."
"Verdadeiros ateus não são nem os ateístas práticos (os que vivem como se Deus não existisse), nem os céticos ['que consideram impossível qualquer especulação em torno da existência ou não de Deus'], mas os que afirmam a inexistência de Deus, isto é, que consideram que sabem que Deus não existe."
O conceito de eternidade implica um conceito de duração. A duração é a perduração do ser em si mesmo, mas a eternidade é um perduração diferente de qualquer outra, porque é uma perduração do ser em si mesmo ”tota simul’’ totalmente simultânea. Não é um presente perene como muitos julgam, é alguma coisa que não é nem passado, nem presente, nem futuro, é a simultaneidade do próprio ser perdurando em toda sua intensidade perfectiva.
A suscetibilidade é um sintoma da ignorância. Os homens exageradamente suscetíveis, que tudo os ofende ou magoa, são sempre espíritos medíocres. A suscetibilidade é, assim, um dos recursos que a mediocridade usa para esconder ou desviar sua pequenez.
"Só há Filosofia onde há demonstrações rigorosas; o resto é exposição filosofista ao sabor dos gostos estéticos e afetivos de cada um."
“Eu conclamo a juventude de hoje que não se torne aquela juventude que perseguiu sempre os grandes homens, aquela juventude que perseguiu Sócrates, aquela juventude que perseguiu os pitagóricos, aquela juventude que levou à condenação à morte a Anaxágoras, mas sim aquela juventude que apoiou Platão, que apoiou Aristóteles no Liceu, que apoiou Pitágoras no seu Instituto, aquela juventude estudiosa, aquela juventude que dedica o melhor de sua vida para formar o seu conhecimento, aquela juventude que quer ser capaz de assumir as rédeas do amanhã, e não a juventude que quer apenas ser uma massa de manobras de políticos demagógicos e mal-intencionados, uma juventude de agitação, mas sim uma juventude construtora, uma juventude realizadora, uma juventude que lance para a história da humanidade os maiores nomes e os maiores vultos."
(Aula de agosto de 1965)
A intuição sensível nos dá os materiais do conhecimento. Os conceitos nos servem para coordenar esses materiais, e o produto disso tudo é, para o homem, a imagem da realidade. Então, de que depende a experiência? Dependerá, pois, do caudal de fatos intuídos, e do acerto dos conceitos empregados. Que faremos então? Esforçar-nos-emos continuamente para melhorar a imagem da realidade.
"[...] é preciso ver que a vida é sempre nova, e nós, de certo modo, outros, cada dia que passa. Não prestemos tanta atenção ao que se repete. Procuremos o novo no que se repete, e o encontraremos."
Todas as coisas oferecem novidades, embora repetidas. Saber perdurar entre ambas é a melhor lição que nos oferece a vida, pois os excessos, neste como em muitos casos, só nos pode levar a aborrecimentos.
Não devemos desanimar se há certa monotonia na vida. Somos hoje tão solicitados para a diversidade, que toda repetição nos parece roubar uma possibilidade de novidade. No entanto, a própria novidade acaba por nos cansar, porque temos uma capacidade limitada para o sempre-novo.
São os famintos de prestígio e que não sabem sofrer a sua fraqueza, os complexados de poder, complexados de inferioridade, que buscam obter um cargo que os torne grandes, porque não são grandes.
Quem é grande não procura ocupar o cargo grande. Quem realmente é grande cria para si a própria grandeza. É grande porque é grande, e não porque ocupa um cargo grande.
São os famintos de prestígio e que não sabem sofrer a sua fraqueza, os complexados de poder, complexados de inferioridade, que buscam obter um cargo que os torne grandes, porque não são grandes.
Será possível, será suficiente que a nossa coragem possa enfrentar essa autodestruição?
Eu posso responder apenas por respostas contingentes, porque se eu fizesse uma resposta necessária, eu cairia apenas numa fé e não estaria me colocando numa posição filosófica. É possível que sim e é possível que não.
Mas entre essas duas possibilidades, nós podemos escolher a daqueles que creem que é possível que sim. E então nós podemos também nos comprometer em atuar dentro dessa possibilidade.
Se malograrmos, ficará, pelo menos, dentro de nós, a satisfação de havermos cumprido o nosso dever e de termos realizado uma possibilidade nossa.
E se amanhã houver outro ser inteligente que possa saber da nossa história, poderá olhar para aqueles que amaram a coragem e que tiveram o gesto heroico de lutar contra a própria autodestruição com respeito por esses homens.
Nós podemos nos engajar deste lado, já que estamos numa época em que todos querem se engajar. Então vamos nos engajar, mas para o lado construtivo, para o lado do bem, para o lado que lance uma nova esperança, que creia em valores superiores e que não proclame de antemão a sua derrota, porque então ela é uma dupla derrota; é a derrota daqueles que nem sequer combateram, daqueles que nem foram para o campo de batalha enfrentar o seu inimigo.