Mário Ferreira dos Santos
Não consegue o materialismo fugir ao religioso. É uma religião da matéria, a qual passa a ter todos os atributos divinos, menos o de ter consciência de si mesma, o que só vai verificar nos seres superiores, e a consciência de sua consciência, no homem.
O gênio não vence por si, mas apenas sobra ou sobrevive da derrota total. Esse é o aspecto trágico da genialidade. Por isso, não se podem acusar as multidões de não compreenderem os gênios. Eles têm que ser incompreendidos (...) Só uma humanidade de gênios poderia entender os seus gênios.
Costumam os céticos rir da Metafísica. Kant julgou, com sua obra, tê-la destruído, e acabou enleado em suas teias. A Metafísica retorna sempre, até na obra dos que buscaram combatê-la com o maior ardor.
Nem falador nem seco, entregue ao mutismo, mas falar com sobriedade e cuidado de tudo quanto se trata, é a regra de ouro da conversação.
Enquanto alguns psicólogos permanecem manuseando palavras mortas, os artistas fazem psicologia. Comunicar uma alma a outra é o trabalho dos estetas. Nunca, como agora, numa época em que a escala de valores puramente utilitária predomina na sociedade, mais carecemos de artistas. A arte é um estímulo para a vida.
Em todas as doutrinas, mesmo quando erradas, há algo de verdadeiro, não, porém, suficiente para refutá-las in totum, embora in partem.
Esse espírito de entardecer, de crepúsculo, que não permite ver a imensa heterogeneidade que há nas causas intrínsecas e extrínsecas dos fatos, nos fatores que cooperam para que ele seja o que ele é.
O marxismo na Rússia não conseguiu abolir o Estado nem sequer diminuir seu poder. Não evitou a polícia nem o exército, muito menos a burocracia. O aumento da produtividade foi risível. Não comunizou a propriedade, não evitou a desigualdade, pior, a acentuou. Não aniquilou o amor à pátria nem estimulou o internacionalismo. Não proscreveu as insígnias honoríficas, mas criou novas e fez ressurgir outras. Não construiu a liberdade, mas a maior opressão registrada na história.
Na verdade, na história da humanidade, quase todos os famosos ‘amigos do povo’ foram ligados aos grandes exploradores.
Todo existir tem um só vetor: buscar a perfeição do seu bem, o seu maximum de perfeição com o minimum de dispêndio.
Se o que vem a ser não é, o vir-a-ser prometeico viria do nada, e, nesse caso, o nada teria aptidão de ser, o que já lhe daria uma eficacidade e deixaria de ser nada para ser Ser. (...) Neste caso, tudo quanto se dá no Devir já é, e o Devir é o apontar do que é; é o apontar do Ser, símbolo do Ser.
A reminiscência platônica é apenas a possibilidade de atualizar, pela consciência, o anelo ao supremo Bem e aos valores hierarquicamente colocados.
Nosso desejo de alcançar um fim talvez seja, apenas no mundo do espírito, um grande desejo de fim, de termo, de destruição, de aniquilamento e não da verdade absoluta, sonhada por todos.
A autoridade, e a única que aceitamos, é a dada pelo próprio pensamento, quando em si mesmo encontra a sua validez, a sua justificação.
Cristianismo não é uma religião cultural, porque não depende de uma cultura determinada; não é uma religião racial porque não depende de qualquer raça; não é uma religião de casta, de estamento, de classe, porque não depende de nenhum deles. O Cristianismo é a religião do homem concreto, do homem tomado em sua totalidade, e por isso independe inclusive do tempo.