Marina Lodi

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Obviamente, para deleite e glória de alguns, estou com problemas capilares. É isso: estourou a revolta capilar e eu, que nutro simpatia com os revoltosos; coisa minha. Ideologia pessoal que venho lapidando desde a infância. Não faço esforço em esconder os estragos da rebelião. Vejo minha cara no espelho e, quando não me irrito ante minha incapacidade de botar ordem na casa, afinal quem manda aqui sou eu, gosto do que vejo.
Mas como me olham na rua! Em especial os senhores de pança; que frequentemente está acompanhada de um par de seios murchos e roliços, e as respeitáveis senhorinhas com as calças de algodão frouxas na bunda, mas bem ajustadas nas canelinhas vacilantes. Há ainda os mais jovens que, vez ou outra, chegam a trocar de passeio.
Detesto covardia. Um idoso jamais desprendiria tamanha energia para trocar de passeio a menos que fosse absolutamente necessário. Aliás, a essa altura do campeonato, temer o que? Arriscar a também perder o cabelo pode vir de brinde a economia de energia em levantar o braço para se pentear.

Bom, de toda forma, qual a minha vontade de dar-lhes um real motivo de me encararem. Também não gosto de encaradas irracionais; viver comigo nem sempre é fácil, e também duvido que haja recompensa ante a dificuldade que é viver comigo; e, sejamos francos aqui, não há nada demais a ser encarado. Quer dizer: uma falta de cabelo não exerce o frisson de uma verruga pregada à cara.
Na minha (?) varanda frente a uma árvore desgrenhada, pensava, rindo, na possibilidade de transitar ostentando um imponente catarro pendurado no nariz. Ou uma cara lavada de sangue. Lavada. E contrastando com qualquer olhar sereno, distraído; frequentemente me pego observando as árvores. O conjunto estético combinaria com meus dias de profundo exasperamento suprimido; já que os meus acessos de profundo exasperamento frequentemente não estão na agenda do dia seguinte que anoto, toda noite do dia anterior, na folha de um caderninho.
Não faço nada disso. A verdade é que, como efeito colateral da minha filosofia que carrego como um cobertor favorito desde a infância. Cobertor favorito é coisa de criança e de cachorro. Meu Lulu, o cachorro da minha infância, tinha o cobertor dele. Há em mim qualquer incapacidade de me importar genuinamente com o que não é pauta dos meus rompantes de profundo exasperamento.
E você aí, como vai a sua lama?


3 de maio, 2023. 23:52h

⁠⁠E⁠scolha a sua luta! Não uma, várias. Desde que te deem tesão, gana pela vitória, prazer no combate. Não posso lhe dar conselho melhor para a tal felicidade.

Madrugada de 01 de janeiro de 2023, ano novo em Vitória, ES