Marília Daniel

- Seria mais fácil amar você.
- E por que não ama?
- Porque você me amaria de volta.
- E ele não?
- Ele não.

Tenho que parar com a mania de querer desistir ao me sentir entediada ou vou acabar desistindo de viver.

Tenho dias em que sou pega pela síndrome do conto de fadas,quero ficar presa na torre do castelo e esperar pacientemente o príncipe me salvar. E quando eu percebo que isso não acontece,eu sento e choro.

- Eu vou lembrar disso e sorrir.
- Ou chorar.
- Por que chorar? Sorrir é melhor.
- Algumas pessoas choram ao lembrar do passado.
- Mas eu vou ter dito adeus.
- Isso é doloroso. Significa perder algo,e você não gosta de perder.
- É.
- Então... isso é motivo para sorrir?
- Não. É motivo para se orgulhar e depois sorrir.

- Como você consegue?
- O que?
- Levantar.
- Finalmente você fez a pergunta certa.
- O que isso quer dizer?
- Que você entendeu que não é fácil apagar memórias.
- Eu sabia disso.
- Agora você também sente isso.
- E a minha resposta?
- Enfrente.
- A quem?
- Você.
- Por que todos dizem que o erro está em mim?
- Porque é só você que não vê. Abra os olhos. O sonho acabou e é hora de acordar.

Fico me perguntando o por que de a noite termos mais coragem. Antes de dormir, quando deitamos a cabeça no travesseiro e pensamos sobre tudo o que não tivemos tempo de pensar ou não queríamos pensar durante o dia,temos coragem para fazer qualquer coisa. Sabemos as exatas palavras que queremos dizer para por fim em um amor,sabemos a resposta para aquelas perguntas feitas a nós no começo do dia,sabemos até como lidar com aquela pessoa que lhe deixou sem palavras.
Mas só naquele momento,só a noite. Porque ao amanhecer a coragem corre para o seu buraco e nós deixa ali parados,praticamente implorando; Volta aqui coragem,sua medrosa. Eu preciso de você!

Se eu disser que quero que você vá embora e nunca mais volte,você vai?

Talvez eu comece a escrever em cadernos a partir de hoje. Do nada,me apareceu essa vontade,essa súbita vontade de poder escrever em uma folha de papel e guardar de recordação. Não sei exatamente o porque afinal odeio ler o que escrevo,me estressa. Meus próprios pensamentos me deixam estressada. Gosto de escrever no momento. Na hora. No ato. Sentindo aquilo e não programar todo o processo para ficar bonitinho e padronizado.
Coisas padronizadas são irritantes,uma hora ou outra,perfeição fajuta perde a graça. E bem isso me leva de volta ao querer escrever em cadernos. Pra que diabos eu quero guardar minhas palavras se eu nem ao menos gosto delas?

- Qual foi a maior mentira que você já contou?
- Eu te amo.
- Qual foi a maior verdade?
- Eu te amo.

Eu comecei a pensar sobre nós hoje durante uma tarde tediosa,e logo de inicio,já comecei errando... Pensar sobre nós não existe,pois não existe um n-ó-s. Existe um Eu e existe um Você,não diria nem que existe um Eu e Você juntos em um só porque isso seria próximo demais de um nós.
Pensei em como o meu eu e o seu você tentaram virar um nós muito rápido. Porque agora,pondo minha cabeça para funcionar sozinha,sem o envolvimento do coração,você não sabe nada sobre o meu Eu.
Fico imaginando o que você faria se desse o acaso de te perguntarem junto a mim minha cor favorita,meu nome do meio ou até minha data de aniversário. Convenhamos amigo,você não me conhece. Eu também não conheço você. Então o que foi aquilo...isso..o que houve entre o meu Eu e o seu Você?

Quem sou eu?Primeiro me diga, quem é você? Se você conseguir fazer isso sem acrescentar ou tirar detalhes,então talvez um dia eu consiga te dizer de verdade, quem eu sou. Por enquanto me defino como um processo em andamento,ainda esperando ser finalizado ao longo do tempo.

10:00: Ela havia acabado de acordar e já havia enfrentado um problema.
11:00: 2º problema do dia.
12:30: Uma novidade não tão bom a deixa pra baixo.
13:00: Ela descobre que aquela novidade poderia ser ainda pior.
14:00: Ela decide não se importar.
15:35: O problema a persegue.
16:00: Ela sente que já não consegue mais respirar.
17:45: Um novo problema surge.
18:21: Os pais estão em casa. Estado de alerta.
19:17: Uma confusão e lá vai ela buscar a solução.
20:00: Ela tenta relaxar e buscar a solução para seus próprios problemas.
21:21: Ela sorri verdadeiramente pela primeira vez no dia.
22:14: Mais um problema. Ela pensa em desistir de tudo.
22:30: Ela não consegue. Ela precisa ajudar.
23:55: Exausta,comemora o fim de mais um dia.
01:32: Ela finalmente adormece,pensando, e o que acontece se um dia ela não acordar?

- Você escreve coisas tristes,deveria parar. O mundo já tem coisas tristes demais.
- Escrevo no que acredito.
- Deveria acreditar em mim.
- Só acredito no que é real,não no que me agrada olhar.
- Acredita em que então?
- Em mim.
- Você não pode se salvar sozinha.
- Claro que posso.
- Não. Não pode. Não consegue.
- É,pensando bem,não consigo. Mas posso tentar.
- Tentar como? Nem ao menos consegue entender isso.
- Mas isso sou eu.
- Exatamente.

Algum dia você já sentiu como se quisesse muito falar mas não sabe o que? É angustiante,é como se você ganhasse o ar mas não conseguisse respirar. É assim que me sinto,com uma extrema necessidade de contar,de sentir,de pegar, de tocar... mas sem saber o que.

Já aconteceu AQUELE momento pra você? Aquele momento onde você tem vontade de dizer tudo o que sente,tudo o que está preso lá no fundo? Você pensa em como dizer,pensa em uma saida para esse mar de palavras e sentimentos. E você pensa. E pensa. E quando vê,o momento passou.

Não sou muito de falar com as pessoas de fora sem ser muito necessário, e quando falo lembro-me de como elas não são interessantes. Quero dizer, hoje em dia é muito mais fácil andar por ai rodeado de pessoas que falem por você mas qual a graça de perder a voz? As pessoas não sabem mais o que é mistério natural. Não há nada mais para esperar de ninguém, creio que nem mesmo de mim, pois hoje em dia até eu tenho preguiça de me mostrar para esse mundo. Francamente, pessoas se tornaram cansativas.

Não venha e faça da minha vida um tédio, por favor. Eu já dou conta de fazer isso sozinha.

Eu vivo fazendo drama. Pra tudo. Desde acordar de manhã até ir dormir a noite. Por qualquer coisa, a qualquer momento. Eu adoro drama, tenho que confessar. Mas adoro o drama comigo, em mim. O drama dos outros é que me incomoda profundamente.

E então diga foda-se quando não aguentar mais explicar. Foda-se você! Foda-se o mundo!

Você pode parar por ai, eu quero continuar. Eu preciso continuar! Meu caminho começa onde o seu acaba. Não somos iguais e muito menos temos coisas que gostaríamos de fazer juntos, esse tempo já passou. Adeus pra você, meu tempo começa agora, mesmo que sozinha.

Não existe essa história de não acreditar em sonhos, você acredita, eu acredito, a vizinha da sua mãe também acredita e aquela velha senhora sentada na praça com o vestido floral todos os fins de tarde também acredita. Pode ser qualquer sonho, se você o tem é porque acredita nele. Todos esperam interiormente o seu sonho se realizar virando a esquina, mas a questão é que todos já ouviram demais;''Contos de fadas não existem, pare de sonhar!'', que ao invez de pararem de sonhar, elas pararam de contar.
Elas continuam esperando, só que sozinhas, pelo dia em que elas verão algo tão magnífico que não pararão de sorrir. E elas vão continuar esperando. E esperando. Mas e dai,não é? A vida fica com aquele ''a'' a mais quando temos algo grandioso a esperar dela.

Dessa vez eu choro pelo diferente, choro por não ter o que chorar e isso é talvez pior do que ter pelo que se derramar em lágrimas. Sim, eu chorei. Deitei na cama como uma criança e pensei, e foi triste porque não havia o que pensar. Revirei minhas musicas cantando os versos que me lembravam momentos e histórias do passado buscando loucamente sentir algo, ter algo para me preocupar e ter que buscar soluções para resolver... E nada. Isso me deixou brava comigo, porque eu passei o tempo inteiro querendo não pensar e quando isso aconteceu,nada.

Procurei fugir de todos os lugares e pessoas que me fizessem pensar demais. Procurei fugir do tédio para não encontrar nele uma razão para pensar. Vivi esses dias e semanas com o medo de pensar e não estou brincando,estava realmente com um medo extremo de pensar. Mas agora,com o medo muito bem trancado naquela caixinha dentro de outra caixa dentro do meu armário, eu finalmente parei e pensei. Pensei muito,permitindo até que algumas lágrimas caíssem, mas eu pensei em nada. Pode parecer confuso,mas foi isso que aconteceu,eu não tenho mais nada para me ocupar e isso é perturbador. Está tudo parado aqui dentro,e meu Deus,parece que não quer mais se mover.

Eu sinto dor do não sei. Não é dor do nada,não. É dor de alguma coisa,com certeza algo aqui dentro machuca toda noite,mas isso ainda é um mistério. Enquanto isso eu fico ai,largada dentro da minha pequena dose de dor diária me lembrando que aqui dentro existe algo gritando.

Cansada do tempo que passa rápido no fim de férias, mas cansada do tempo lento que teima em demorar nas piores semanas. Cansada do dia de chuva que impede uma saída em grupo, mas também cansada dos dias de sol que incomodam os olhos. Cansada e enjoada das pessoas possantes, mas com uma sede de conhecer novos seres. Cansada da maldita rotina diária,mas necessita de algo certo para fazer. Cansada de sair,de viver,de falar,mas porém sem a menor motivação para deixar de não sair,de não correr,de não visitar ou de não interagir. Ela diz para si mesma que é só o prazer de viver em seu próprio mundo,restrito a poucos meros visitantes com passe livre de entrada e saida quando bem entenderem,mas no fundo é só o verdadeiro medo de sair e nada encontrar. Deprimente que com tão pouco tempo de vida,ela já ache que não existe mais nada para ser descoberto.