Marian Keyes
Engraçado. Se fosse pedido às pessoas que descrevessem a vida perfeita, poderiam descrever a minha: vivendo num lugar lindo - mar, natureza, tudo isso -, não tendo que acordar cedo, dormindo metade do dia, nenhum estresse do trabalho, tendo tempo pra ver DVDs, ler livros cafonas e mastigar cada garfada vinte vezes. Mas a verdade é que não dá para aproveitar. Fico ansiosa. Sinto como se a vida passasse por mim. Sinto como se tudo pelo que trabalhei estivesse se esvaindo.
Tenho vergonha da minha ingratidão. Pronto, agora tenho outra emoção desagradável para sentir. A variedade é legal, eu acho. Muda um pouco do terror e da tristeza.
Ficar sem Paddy é um fato decisivo na minha vida. Sempre que terminei com outros namorados, fiquei triste, sim, não vou negar. Mas sempre tinha a esperança de que um futuro ainda me esperava. Mas conheci Paddy, meu Príncipe Encantado. Ele veio e foi embora, meu futuro estava vazio.
Você nunca se pergunta por que a gente tem uma capacidade finita de sentir prazer, mas infinita de sofrer? Nosso limite para o prazer é pequeno, mas o teto para a dor é interminável.
Quando belos quadros são atacados por um louco com uma faca, todo mundo se impressiona. Peritos vão à tevê falar do assunto. Mas se uma roupa perfeita - que não deixa de ser uma obra de arte é destruída, ninguém protesta em rede nacional. Isso é discriminação. Só porque uma roupa perfeita é coisa de menina, enquanto quadros são coisa séria, coisa de homem, mesmo quando o pintor é mulher.
O que acontece quando a pessoa é rejeitada por alguém que ama que tranca os músculos do rosto? Uma enzima especial? (Possível descoberta científica. Sabe por que os rejeitados não sorriem? Todo mundo diz que não têm por que sorrir. Mas talvez isso seja o efeito de uma enzima especial, o que significa que não podem sorrir. Esse é o tipo de descoberta que ganha prêmios.)
Quando a felicidade faz uma aparição como convidada especial na vida da
pessoa, é importante aproveitá-la ao máximo. Pode não ficar por perto muito tempo
e, quando for embora, não será terrível pensar que todo o período no qual se
poderia ser feliz foi desperdiçado com preocupações sobre quando isso
aconteceria?
É uma espécie de obsessão compulsiva. Tipo lavar as mãos o tempo todo. Ou comer nozes. Quando começo, não consigo parar.
Beber até perder a noção do corpo, até que pudesse abandonar a própria vida, até que pudesse abandonar tudo, abraçar a liberdade gloriosa e fugir para o esquecimento.
Apesar de toda a minha conversa sobre independência, eu era, de fato, do fundo do coração, uma pessoa muito romântica.
Me disseram que eu sentiria um amor total por minha filha, não posso dizer que não fui avisada...mas nada poderia ter me preparado para tal intensidade.