Maria Paula Fraga
Azar é o acaso dando seu jeito de não deixar dar nada certo. Sorte é o acaso dando pistas que estamos, enfim, cumprindo nosso destino. E o pior de tudo, é que nenhum dos dois tem muito haver com felicidade. Todos os fatos te afastam de mim, mas só eu sei a alegria que a proximidade nos traria.
Eu tentei de muitas maneiras. Mas meu brinquedo predileto estragou, e não seria qualquer versão paraguaia que me deixaria satisfeita.
Intimidade. Tivemos isso algum dia, ou era só o desespero pra nos sentirmos menos distantes dentro do carro?
Depois das perdas todas, o que sobra deve ser suficiente pra reinventar nossas mentes e almas. Depois da desistência, uma nova luta por qualquer coisa deve se iniciar pela sobrevivência de nossa própria força. E seguir em frente pode ser isso mesmo, nunca descrer na renovação da vida e dos sonhos. Nunca descrer nos nossos restos bastáveis. Aos pedaços, caminharemos rumo á distância irretratável do passado. Caminharemos pra longe do que fomos pelo direito de sermos melhores agora, pela necessidade de deixar morrer o que não pode mais viver em nós, nem pra nós.
Existem momentos na vida que é melhor ficar em silêncio, porque a resposta perfeita seria um palavrão!
Antes de ir, eu vou ligar. Dizer que realmente foi amor, e se realmente terminou, a vida foi um pouco injusta comigo. Vou dizer que se ele é feliz, que siga por si mesmo, porque o futuro é uma ilusão, e nossos erros são passado. Depois não quero ouvir nada, e vou dizendo o que vier na garganta, porque me segurei por oito meses, e já virou meu feto pensar em falar coisas pra ele. E eu não quero essa criança. Esse peso na mente, e na língua, eu quero ir embora vazia e acabada, abortada do que quase fomos, ou tivemos. Vou dizer que a vida é curta, e um dia ele vai acordar com quarenta anos e arrependido de ter feito muita coisa, mas que eu vou dormir todas as noites torcendo pra que ter me deixado, não tenha sido uma delas. Também vou dizer pra ele se apaixonar muito, se apaixonar sempre, mil vezes, mesmo que pela mesma mulher, todos os dias. Pois saber que alguém desperta isso nele, já me deixa um pouco melhor, pois vê-lo sorrindo, me machuca mas me cura ao mesmo tempo. Antes de ir, eu vou telefonar. Falar que ele foi meu maior amor, minha melhor loucura, mas minha pior lição, porque a história não me deu chance de corrigir os meus rabiscos. Vou falar que depois de muito tempo, eu entendi as suas dores, porque se tornaram minhas também. E que se ainda dói um pouco, e isso não tem consolo, eu pelo menos consegui seguir em frente. Preciso falar outras coisas, mas o texto vai ficar grande e talvez ele nem seja lido, por último vou falar que mesmo que eu não ligue, e esse e-mail não seja aberto, o destino saberá mostrar pra ele tudo que eu não disse segurando um telefone.
Nada definitivo, mas, de quantos lugares nós vamos embora sem saber que talvez nunca mais voltaremos?
Tem que dar atenção, assistência, amor incondicional e perdoar as merdas que eles fazem, no tapete novo da sala ou em algum porre na madrugada de sábado. É compromisso, dedicação, relação, constância, cuidado. Namorar e ter cachorro implicam quase as mesmas coisas. As mesmas coisas que eu não quero. Eu posso até amar a yorkshire da minha vizinha, mas amo lá na casa dela, depois eu volto pro meu tapete limpo e pronto.
Nem ajuda, nem sorte. Quero força. Luto sabendo que nessa vida é eu por mim, e Deus por todos, imparcial, sejamos justos, porque se trata apenas de outra guerra no mundo, e ninguém é especial. Nem amigos nem amores. Quero fé. Já sei correr sozinha, na solitude do equilíbrio de ser só minha, sem compania pra ensinar nem pra aprender porque só me engano pelos outros, e é suícidio depender. Nem pra depois nem pra mais tarde. Que seja agora. porque a vida é curta e não perco tempo fazendo malas. Nem certo nem errado. Só peço que seja real. Porque muito do meu passado foi mentira, e o resto eu me lembro muito mal.
Meu gato fugiu pela janela - moro no oitavo andar,
Fiquei um pouco triste;
Mas ninguém mandou ele tentar me abandonar.