Maria da Penha Boina

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Voo

Se alçares voo
Deverá ser para chegares o mais alto dos ares
Para ver com outros olhos os mares.
E sonhares.
Mesmo que esteja longe a terra
Não tenhas medo da queda
Que um dia estará por vir.
Se não conseguires pousar
Então permaneça na correnteza quente dos ares
Com as asas paradas
E irás a outros lugares
Sem te cansares.
A vista de cima é das mais belas
É lúdica, é singela.
E quando conseguires um bom pouso
Pousa suave
Outros voos assim
São seculares.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Mané

Nasceu ignorante
Sem berço para levá-lo adiante.
Sem esforço
Descambou para a vida errante.
Teve muitas amantes.
Sua felicidade?
Deitar-se com as Maneias,
Eram as suas odisseias.
Pensava só com o falo
O que de mais honroso tinha,
Só poderia se tornar inábil.
E agora Mané, que o seu corpo,
Chegou ao desmonte?
E desmoronou.
Mas, o caminho já foi percorrido,
A herança é da inconsequência
Restando os poucos fragmentos
Da vida que você traçou.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Sem destino

Você deseja chegar?
Você sabe que o caminho é longo
E sabe que existe várias formar de ir.
Mas não será assim dão fácil.
Traça os objetivos e as metas para cada ato
E você vê que é sofrível.
Busque, o projeto está traçado.
Já está em exaustão?
Ou é medo da ação?
Potencialize as energias
Deixa de lado a aflição.
Não será mais um decadente
Juntando angústias e inquietação.
Sei, o esforço é hercúleo,
A ânsia é muita
Que causa náuseas
E ainda nem deu o primeiro passo.
Vai de bote?
Decidiu,
Fico aqui a ver da praia.
Você foi,
Vejo você distante
A sumir no horizonte.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Bem-te-vi

Bem-te-vi, bem-te-vi...
Bem me viu e eu não te vejo?
Não quero este bem, não o desejo,
Que me vês e eu não o vejo.
Abra as tuas asas
Pouse na minha arcada
Saia do anonimato.
Não sou assim tão tolerante
Para que fiques de longe
Fustigado a minha alma.
Se assim continuares
Vou armar o meu arco
E a esmo, disparo,
Levando na ponta da flecha de aço
O que será o seu último abraço.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Homem de rua

Depois de anos continuava ele ali sentado
Sempre a observar o nada
Ou a pedir uns trocados.
Sujo, imundo e maltrapilho,
Na sua liberdade ambulante
De súbito viu distante
Um brilho desconcertante.
Levantou com certa preguiça dada pela fome,
Caminhou lentamente,
Abaixou e pegou o diamante.
Ele não tinha por certo o que era,
Mas a intensidade do brilho
Fez guardar nos seus trapos.
Assustou-se com o que ali perto ocorria,
Aquietou-se nos seu espaço.
Era uma batida policial por um assalto.
Mandaram que se levantasse
E acharam a pedra maldita.
Perguntando quando a roubara
Ele nem chegou a abrir os lábios,
Colocaram nos seus pulsos e pés as algemas.
E o levaram ao delegado.
O desgraçado apanhara e fora preso,
O pobre que nem sabia o quanto valia
A pedra que achara ao acaso.
Agora lá sentado a olhar para as paredes
Que nunca tivera um dia,
Por causa de uma estranha pedra brilhante
Que para ele pouco valia.
A pedra lhe tirou a vida de vagamundo
A única liberdade que tinha.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Muros da vida

Você deveria saber que para as pessoas civilizadas
E em mundos civilizados,
Existem tendências de derrubar muros.
Então como você pode imaginar-se civilizado
Possuindo a vertente contrária?
Criando um muro tão elevado
Que é impossível transpor.
E se um dia o seu muro cair?
Como você irá olhar para o outro lado?
Com a mesma estupidez, coragem insossa,
e imperícia que o fez construir?
Ou já tem na ponta da língua
As evasivas para o diálogo?
Possui tanta presunção de achar-se assim tão diplomático?
Você acredita que para a sua indulgência
Encontrará complacência?
Você deveria saber,
Que em todo ato de indiferença
Não existe a possibilidade de encontrar
Do outro lado do muro
Pessoas solícitas e afáveis.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Meio caminho

O laço está apertado demais?
Não consegue fazer com que a corda deslize nas polias?
Folgue um pouco, a escalada é longa.
Mas não folgue tanto assim
Você poderá escorregar
E você já fez um terço da escalada
E não sabe das dificuldades que virão.
Faça uma coisa de cada vez no seu estribo de um degrau
E bem planejada.
Olhe para cima e veja os obstáculos.
Não verificou o tempo?
Chove e a pedra está escorregadia?
Verificou o sistema de ancoragem?
Você tem tantas primaveras
Mas é um novato.
Você sai rápido demais para as suas aventuras.
Agora já tão alto está com fobia.
Olha para o lado e não vê ninguém para ajudar.
Ficou a meio caminho pendurado
Entrou num dilema sem conseguir subir
Não consegue descer.
Tome qualquer decisão
Já que nunca decidiu por nada.
E hora de mostrar o seu valor.
Grite peça socorro
Desvincule-se da sua altivez
Ou prefere continuar na corda bamba
Para não ferir a sua soberba.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Teu mal

Estás melancólico?
Estás magoado por teres mentido?
Mas a atitude não nega.
Não é fiel a si próprio?
Fica embaraçado?
Finge ingenuidade?
Encontra-se acompanhado, mas em solidão?
Traí a si próprio.
Não és nem bom e nem mal?
Estás sem essência para viver?
Assegurou a sua alma?
E a ti, perdeste.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Esperança

Não nego que tenho esperanças
Fico a espreita para uma brecha
Alucino à beça.
É o meu estágio de loucura
Permanecer aqui sentada
Toda de verde e imóvel
A pugnar o nada.
Vejo a luz
É vermelha
Mas afunda lentamente
E vai ficando cada vez mais negra.
Qual a cor que se apresente?
Não, não sou inconsequente,
Tem de ser a transparente,
Que nas profundezas do mar
Sobrevive resplandecente.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Porto Maior

O meu éden
O meu lugar de ócio, criativo.
O menor mundo
O mais vasto.
O que não atormenta
Não lamenta
Que sustenta a alma
Que faz viajar ao paraíso.
A cada segundo uma cor
Com as suas nuances loucas.
Histórias que nunca se repetem
Num movimento contínuo
Dando a cada instante
O início à felicidade.
E como melhor privilégio
Todos os caminhos levam
Ao Porto Maior.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Faça

Está se lamentando de e do quê?
Leia o livro que ainda não leu
Escreva a carta que nunca escreveu
Dê a mão a quem nunca deu
Faça o elogio que nunca fez
Desculpe a quem nunca desculpou
Agradeça a quem nunca agradeceu
Use a tecnologia para o bem
Lamente menos e faça mais
Olhe menos para o seu umbigo
Olhe mais para o seu cérebro
Ainda dá tempo
Ame incondicionalmente

Inserida por MariadaPenhaBoina

Mulher
Porque estás ao meu lado?
Escolhi a ti sem pensar
Num espasmo de loucura
Com medo da solidão
Afoito e imediatista
Agonizo na mesma situação.
Hoje noto que, não tens a idade que eu queria,
Não possuis o corpo que eu pretendia,
Não me agarro a ti com os olhos da paixão.
Mulher
Tira-me deste dilema
Ainda preciso de ti,
Que pretensão,
Mas, o meu esquema,
Por linhas tortas foi traçado.
Não vês mulher
Que o teu sorriso e outro sorriso marcado em minha memória
Teu cabelo não tem a seda que eu imaginava
O teu cheiro vem de aromas artificiais,
E o teu dançar não o da minha bailarina.
Mulher, o que te fiz, e agora não consigo,
Ser honesto em dizer-te
Vai-te embora.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Ócio

Sempre foi vigilante para o ócio
Para fazer o que bem queria
Ficar com a sua amada todo o dia
Viajar e viajar.
Grandes são os prazeres inicialmente
Com o tempo um repente
O ócio passa a incomodar
Todos os dias tudo sempre igual
Sem trabalho para realizar
Com pouca habilidade para criar.
As mesmas anedotas
Os mesmos diálogos
O senso comum
Discutindo novelas
Futebol e pouca aquarela
A mesmice de fartar.
O dinheiro ficando escasso
A vida passando ao acaso
Um enjoo de matar.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Confortavelmente

Escuta, falo baixinho...
Estás confortável?
A dor está menos intensa?
Tente um sinal para que eu perceba
Faça um movimento com os olhos
Se não consegue por outra maneira.
Deseja que eu levante mais a cama?
Quer ver a luz da janela?
Por favor, dê-me um sinal,
A minha ânsia e muita
A sua não é?
Como é? Agora estou mais curiosa,
Como se sente agora?
Tem luz, tem frio ou calor?
Tem cor?
Estás confortavelmente
Em sua nova dimensão?

Inserida por MariadaPenhaBoina

Cinquenta anos

Sempre estive com o bit ligado
Isto a mim sempre foi dito
Esta analogia não foi um desatino,
Acompanhou a minha anatomia.

A mente a mil estava conectada
A construir a cada momento.
À inércia, só por estar sentada,
De resto, nem melancolia.

Eis que os anos se passaram
O bit de paridade foi interrompido.
Agora me oriento pelo reverso
E o foda-se foi disparado.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Vergonha

Tenho vergonha de ter acreditado em quem eu não podia
Tenho vergonha de ter reverenciado perante mentes frouxas
Tenho vergonha de me ter deixado iludir
Tenho vergonha de não ter compreendido no momento
Tenho vergonha de ter amado o ser fracassado
Tenho vergonha de ter fraquejado perante o simplório
Tenho vergonha de ter sido cúmplice de algumas pessoas
Tenho vergonha de ter sido substituída pelo vulgar
Tenho vergonha da minha falta de esperteza
Tenho vergonha de não saber decifrar no tempo certo
Tenho vergonha dos meus momentos de ignorância
Tenho vergonha de ter dito verdades a quem não merecia
Tenho vergonha de ter tentado fazer crescer quem não queria
Tenho vergonha de ter tirado o prazer de pessoas fora do meu alto nível
Tenho vergonha de ter feito sofrer por isso
Tenho vergonha de ter investido mal os meus sentimentos.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Licença poética

Escrever
É a essência da liberdade
Ousadia de pensamento sutil.
Não quero valores de gêneros e estilos
O barroco, o trovadorismo,
O lirismo, o narrativo ou dramático,
Nem mesmo o romantismo,
Nada contesto destes e outros,
São escritas de cada época no seu tempo
Que escondem com sutiliza os sentimentos
Associado a uma ética social.
Não quero a função poética
As rimas e emoção para encantar
Não me importa se vem em prosa ou versos,
Metafóricos para imaginar.
Quero os momentos de criatividade
Com os sentimentos em devaneios
Dar-me licença à poesia
Que nasce da autenticidade.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Mulher de escorpião

Profunda e misteriosa
Com seus olhos penetrantes
Até ao acender um cigarro
Magnetiza qualquer homem.
Mas o mesmo olhar que enfeitiça
Descobre os segredos dos mais reservados.
Os seus elogios, para ela não cogitados
Serão analisados para as verdadeiras intenções.
Sua fúria incontrolável
Ciumenta e possessiva
Profundamente vingativa.
Perdoa com facilidade
Atos e fatos provados não intencionais
E manda no relacionamento.
Se existe uma inquietação por traí-la
Não há compaixão por ela medida.
Irá alimentar várias mentiras
Para fazê-lo sofrer até o chão.
Manhosa como uma gatinha
Carente fragilizada
Ao perder o controle das emoções
O furacão entra em atividade.
Ela poderá odiar amargamente
Sua tamanha dedicação
E ignorá-lo totalmente
Depois de tê-lo destruído.

Casamento

Hoje resolvi me casar
Não com gente
Gente é coisa indecente
Magoa, fere e mata.

Não faz companhia quando se necessita
Perturba na hora do silêncio
Bate a porta no momento indevido
Tira a concentração.

Gente é dependente
É o mais para o menos
Condiciona o pensamento
Subtrai o pouco que tenho.

Principalmente determinadas gentes
Que são as agentes sanguessugas
Que não leem os parênteses
No seu claustro foge pela tangente.

Casarei-me com a literatura
De todos os tipos
As de brilho às aventuras
Àquelas que desafiam o pensamento.

Essas sim são de grande valia
Causa provocação ao sentimento
Faz crescer e desenvolve muito
Muito o conhecimento.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Rato

Foge como um rato de esgoto
Corre de um jeito meio torto
Mesmo todo desengonçado
Pula com facilidade os obstáculos
De um lugar fétido para o outro,
Come o que vier ao alcance
E ainda acha que é gostoso.
Mandrião cheio de talento
Na hora da guerra
Vira herói escondido
Em meio ao que está putrefato.
Aumenta o seu portfólio de cobiça
Para ter muitas crias
Agigantando seu exército de nojo.
Seu cantar é um guinchar
De dar arrepios
Que só pode encantar
Outros ratos do mesmo escoadouro.

Novos tempos

Não estamos mais no tempo dos coronéis
Naquele tempo que o homem tudo podia
Em que as mulheres escravizadas
Aceitavam as regras por intimidação,
As pobres Amélias consumidas.
Ainda existe por aí, homens coronéis,
Que vivem no passado
Achando que indo aos bordéis
Ainda serão reverenciados.
Pobres ignorantes do planeta
Irão ficar somente embriagados.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Metamorfose

Abriste a caixa de Pandora
E agora, o que será de mim?
Faça algo que acalante esses males
Que me está a consumir.
Puseste-me neste desespero
Nesta desconfiança bombástica
Neste desconforto intolerável.
Sou essa borboleta pequena
De asas incontroláveis
Incerta dos desejos.
Caça-me com a tua rede entomológica
Tira-me dessa dança louca
A viver atrás de uma da lanterna iluminada.
Quero acreditar na luz e não consigo
Ela pode ser a minha maior inimiga
Mesmo assim a sigo
E na armadilha posso cair.
Desafoga-me dessa desconfiança
Sem arrogância
Com palavras de esperança.
Faça de mim os teus desejos
Não disfarce as verdades com lampejos
Para fazer-me acreditar.
Saia do teu invólucro de lagarta
Transforma-te em borboleta
Venha me beijar.

Inserida por MariadaPenhaBoina

E agora?

O que devo fazer agora?
Lutar pelo que foi perdido?
Ficar mais pobre de espírito?
Jogar um jogo de cartas?

Empinar pipas na praça?
Movimentar a pedra no xadrez?
Olhar para a calopsita na gaiola?
Ficar por mais tempo livre?

Ler um livro em português?
Dominar a fúria que me consome?
Mirar o míssel para além do horizonte?
Colocar mais dinheiro no cofre?

Mandar flores por e-mail?
Escrever cartas românticas?
Ridicularizar as instâncias?
Fazer mágicas?

Beber uma bebida forte?
Olhar para o teto sem concentração?
Sentir aversão por tudo isso?
Enfrentar a flecha do inimigo?

Com muita coragem
Ficar na forca de frente para a multidão
Sem reverenciar os aplausos e risos à agonia
Que estão a festejar
Com o semblante mais brando
Escutando os risos e aplausos silenciando
Na minha mais sublime sensação
O ápice que se agiganta para minha bem-aventuraça
Que estou a desfrutar.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Prostração

Os teus olhos estão vermelhos.
E por que choras?
Perdeste o teu amor?
Já refletiste porque perdeste?
Achou que tiveste dado tudo de ti
Mas não foi o suficiente?
Agarraste no inútil pensamento
Que o concebido
Já era teu?
Agora achas que ao trocar as fotografias dos porta-retratos
Trará as forças para esquecer?
Olhará para ele
O quê verás?
Não será a nova foto que irá entrar pelas retinas de teus olhos
É a que já está registrada nos teus neurônios.
E todo o enxoval que te acompanha
Terás de queimar ou quebrar?
Faça todas as tuas cenas por agora
Destroçando tudo o que é material.
Estás a te sentir mais leve?
Mas não imaginas que em breve
Tudo que colocares na tona
Irás desaparecer nos rios de Goa
Levados ao mar.
Com o tempo e o oceano revolto
Devolverá os pertences
Devastados nas areias das praias.
Em todas elas encontrarás os pedaços
E toda a fantasia recomeçará.
Não, não é bem assim que te livrarás.
Acho que perdeste o senso
Não poderás reduzir a cinzas as memórias
De tudo o que te fez sonhar.

Inserida por MariadaPenhaBoina

Diálogo aos celulares a brasileira que ouço todos os dias e, é mais ou menos assim:

Tô no culto falando cum pastô
Cê num vem não?
Tem de vim, ora pra Jesus.
Ai! Só Jesus, pra intender ocê.
Mas se ocê vim, fecha a porta com treta chave
Aí tem muito ladrão drogado.
Dispois, meu namorado vem buscá nóis.
Então nóis vai até ao shopem.
Agente podemos olhá as vitrini.
Dispois ele leva nóis imbora.
Ispera, to ouvindo minha patroa.
- Num sei não onde tá-
Já que ce num sabe se vem
Coloca a comida pra esquentá
E o fango no fono.
Tem cuidado num si quemá.
Aí quando eu chegá
Posso cumê
Lá no shopem e é tudo caro
E nóis num tem dinheiro pra gastá.

Inserida por MariadaPenhaBoina