Maria Aparecida Giacomini Dóro
Lampejos de Esperança
Raros lampejos de Esperança iluminam os labirintos do vício...
Não fosse a Fé, jamais encontraríamos força e disposição para permanecer ao lado de alguém que escolhe anular-se e - no entrelaçar do tempo perdido - esporadicamente tateia possíveis saídas.
Máscara partida...
Nas fendas do ócio te esculpi...
Nas brumas do tempo vendaste meus olhos.
Chorar por mim não enobrece a lágrima vertida sob teu manto;
não anula o instante perdido frente aos escombros.
Agora, o que faço...
O que faço eu, sem a tua proteção?
Nutrir o corpo é importante; a mente e o espírito, imprescindível...
Ao contemplarmos o próprio semblante nos reflexos do mundo podemos fazer um mapeamento aproximado de como estamos conduzindo nossas vidas, interiormente. Vale a pena "perder" alguns instantes nesta tarefa, pois aí estão delineados os traços que nos aproximam ou nos afastam dos outros; de nós mesmos, em essência.
Superar barreiras autoimpostas em busca de aceitação e reconhecimento externos, exige-nos momentos de silêncio e reflexão...
Entremeio a letargia e o despertar, pergunto-me: vale à pena buscar no outro aquilo que podemos encontrar nos recônditos do nosso próprio ser?
Que - dos mirantes da solidão - possamos nós, enfim, contemplar a beleza e a harmonia de uma vida atrelada à liberdade de ser e agir, traduzindo-a em palavras; palavras lidas ou não...
Palavras, palavras... Se verdadeiramente vividas, sentidas e expressas, então, o que mais importa?
"Agora - como nunca - sou capaz de compreender-te além do espelho, das palavras, do silêncio..."
Asseguro-te: tal expressão não é verso solto dum poema efêmero emerso do nada; é a mais perfeita síntese/recompensa dos caminhos percorridos exaustivamente, a fim de superar vazios e quimeras relacionados à ausência dos que me são caros... (Incluo-te sempre, sempre!)
Assim, o silêncio que me imponho nos interstícios da tua Presença é reverência aos momentos a ti reservados, tão somente. Jamais o interpretes sob prisma que não este...
O amor desapegado intensifica a percepção que temos de nós mesmos como também do mundo ao nosso redor, revelando-nos os recessos mais profundos do Ser em comunhão com o Todo. Daí a confiança, a liberdade e o equilíbrio presentes nesta forma de amar.
Permita-me ser parte de ti nos momentos de solidão que aplacam teu espírito aguerrido... Talvez, assim, eu possa absorver e de fato compreender os sentimentos que te movem pela vida afora.
A invisibilidade social é uma poderosa venda que usamos para não enxergarmos as misérias humanas escancaradas nas sarjetas da sociedade capitalista.
OUTONO... Como avivar tuas marcas impressas em cada página que escrevo? Em cada crepúsculo que desenha o teu, o meu adormecer?
Aqui o velho piano já não quebra mais o silêncio das horas, nem a tosca lareira abriga chamas de outrora... Restam-me apenas alguns poucos momentos congelados na memória - quadros mudos que não fazem história - e as cinzas...
Ali calçada molhada, transeuntes sem manto, folhas ao vento, natureza em pranto... Até quando? Não sei...
Tristeza? Não! Melancolia, talvez...
É... Mais um ciclo se fecha, adormecem as sementes de um novo amanhã...
Maria Aparecida Giacomini Dóro