Maria Aparecida Giacomini Dóro
Construo a minha história por caminhos incertos; levo no bojo uma certeza: tudo o que surge, desaparece... Permanece tão somente o ESSENCIAL!
É outono...
Como folhas, quedo-me às horas sem horizonte de mãos vazias... Uns parcos grãos atirados ao solo, por certo, não germinarão.
Então... Quebro o silêncio ou - resignada - aceito a queda? Cadê teu ombro, agora?
Se vejo, não sinto; se sinto não há escolha, senão adormecer... E renascer em verdes dias.
Lágrimas não lavam sem antes embasar. Como brumas, ocultam a vastidão dos mares e depois nela se dissolvem...
Em tempo
Sou náufraga desse mar
Que te arrasta... Afasta-te!
Por quê?
Eu sei?... Certezas
Não recolhem passos,
Nem tuas marcas em mim
Ah! Marcas, marcas...
Não sem agonia,
Liberto-te!
E...
Aqui, minh'alma silencia!
Lágrima de poeta...
Entre pautas e pontos
Palavras, palavras...
Ocultas na emoção primeira,
Desvelam a parte escura
Que se perde dentro delas
Busco na essência das palavras a força do sentimento que as gerou... Fragmentos perdidos, lembranças de alegrias e tristezas dos meus dias "esquecidos". Saudade!
De tudo o que - outrora - contigo vivi, restou-me o sabor da saudade amalgamado às notas harmônicas da tua presença nos fins de tarde outonais...
Do passado, resta-nos carregar os fardos ou extrair-lhes as sementes (lições), deixando ao largo do caminho o bagaço que não nos faz bem...
Tais sementes, lançadas no solo do presente, germinarão e - em tempo certo - frutificarão, propiciando-nos distintos sabores aos quais não teríamos acesso, senão pelas vias da "dor suportada" com amor, consciência e resignação.
Meu canto...
Em notas caladas diviso
O ontem, o hoje, o sempre...
Sempre presente canto,
Âncora do silêncio refletido
Na imensidão da tua Presença
Meu canto...
Efêmera chama...
No limiar da esperança,
Longos são os dias, as noites...
Nas horas caladas,
A espera
Efêmera chama,
Taça depositária de ilusões
Frias são as lágrimas, o silêncio...
Na pausa forçada,
A queda
Ardente ontem,
Agonizante hoje
Incertos são os caminhos, os ventos...
Na dor mascarada,
O amor em fragmentos
Nada mais...
Descaminhos
Marcas vazias, carimbos no nada...
O que posso eu esperar dos temporais, além da fúria devastadora por onde passam e o cheiro da morte no ar?
E do homem? No coração, a vingança; sobre a cabeça, um manto de luto...
Encantos e paixões...
O encanto é a chama que alimenta a minha paixão... Meu amor, bem mais exigente, é alimentado por centelhas de pura sensibilidade presentes nas tuas palavras, gestos e ações.
Silencio meu coração para melhor ouvir-te...
Palavras que tocam não podem ficar guardadas nas gavetas empoeiradas do tempo.
"Amor possessivo"
Imponho-te limites; ignoro tuas necessidades;
anulo tua liberdade; alimento teus sentimentos de culpa e promovo a doentia co-dependência entre nós. Amo-te? Não!
Satisfaço os meus caprichos...
Sentido da vida...
O sentido da vida não está nos pólos que a definem, mas no processo vital engendrado pelo caminhante; nos meios por ele utilizados para efetuar a travessia.
Sob o jugo da aparência...
Acorrentados por dores anímicas, revestimo-nos de mutáveis e dissimuladas máscaras... Sob o jugo da aparência, anulamos quem verdadeiramente somos em essência.
Se quisermos fechar este círculo - extraindo da dor o seu reverso - a "Volta ao lar" é o caminho.
Envolva-me...
Conte-me e eu esquecerei
Mostre-me e eu lembrarei
Envolva-me e eu entenderei...
Entenderei a magia do outono nas folhas que caem...
A ausência presente quando a presença se faz ausente
A distância, o silêncio e as lágrimas...
Entenderei as ânsias e dores humanas sob disfarce
A força curativa do amor presente nos gestos,
Nas palavras e ações desprovidas de competição e egoísmo
Entenderei a liberdade exercida com responsabilidade
O AGORA como momento único a ser intensamente vivido
Entenderei o HOMEM, a NATUREZA, a VIDA
E amarei sem medida...
Preciso de você
Iluminar o caminho do outro é fácil; difícil é iluminar o próprio caminho, pois as sombras permeiam passos e projeções...
Subterfúgio
Inúmeras vezes nos exilamos nas arestas do futuro para fugirmos da angústia e do sofrimento. Idealizamos um ponto no rastro do tempo e pensamos que, a partir desse, a dor aniquiladora será dizimada. Vã ilusão...
Pelos caminhos e descaminhos da vida andei... Sou produto dos meus passos; sou a resposta que busquei.
Agora vejo que, diante do
A
B
I
S
M
O, seguir em frente é...
.sàrta ratloV
Meu TUDO, meu nada...
Se há vida,
A esperança não pode morrer
Ainda que seja tarde
Não será o bastante
Pra eu desistir de VOCÊ...
Ao descobrirmos a força que temos - enquanto povo movido por propósitos pautados na dura realidade descortinada diante dos olhos - não mais aceitaremos as migalhas bolorentas que nos são atiradas por covardes tiranos (agem assim para intimidar, pois em essência são frágeis e inseguros tanto quanto julgam ser o povo, sob seu jugo), a fim de se apossarem do pão da ora...
Acredito em mudanças estruturadas nas decisões tomadas coletivamente e levadas adiante por um, dois, três corajosos emersos da multidão... Esta os seguirá, apesar dos percalços presentes; dos enfrentamentos possíveis à medida que se conquista espaço e se firma o sentido de pertencimento e justiça social.
Folhas soltas...
Folhas soltas, histórias sem passado...
Da emersão à aniquilação humana, vazios e quimeras transmutados em ações egoísticas.
No olhar, a esperança se esvai...