Marguerite Yourcenar
A paixão precisa de gritos, o próprio amor se compraz nas palavras, mas a simpatia pode ser silenciosa.
Corpo, meu velho companheiro, nós pereceremos juntos. Como não te amar, forma a quem me assemelho, se é nos teus braços que abarco o universo.
Não me agrada escrever. Muitas vezes foi dito que as palavras traem o pensamento. Mas a mim me parece que as palavras escritas o traem muito mais.
Não tenho facilidade de escrever. Jamais consigo expressar-me como teria desejado. Escrever é uma múltipla escolha entre mil expressões das quais nenhuma me satisfaz, ou melhor, nenhuma me satisfaz isoladamente
Tudo o que te peço (a única coisa que te posso pedir ainda) é não saltar uma só destas linhas tão difíceis de serem escritas. Se é árduo viver, o é muito mais explicarmos a nossa própria vida
A única coisa que me faz prosseguir é a certeza de que não és feliz. Temos mentido tanto, e tanto sofrido por mentir, que não há grande risco em tentar a cura através da sinceridade.
O passado é infinitamente mais estável do que o presente. Em consequência os seus efeitos são muito maiores.
Não creias que eu aprove os poetas por evitarem os termos exatos. Eles não conhecem senão os seus sonhos. É certo que exite muito de verdade nos sonhos dos poetas, mas o sonhos não são a vida. A vida é algo mais que a poesia, e é algo mais que a fisiologia, e até mesmo mais que a moral em que por tanto tempo acreditei. Ela é tudo isso e muito mais ainda: ela é a vida. É nosso único bem e nossa única maldição.
As outras pessoas vêm a nossa presença, os nossos gestos, a maneira pela qual as palavras se formam nos nossos lábios, mas somente nós vemos a nossa vida.
Me destes tanto de ti nas pequenas coisas que me sinto quase no direito de esperar tua compreensão nas grande.
A repulsa é uma das formas de obsessão e que, se desejamos alguma coisa, é mais fácil pensar nela com horror do que deixar de pensar.
Toda felicidade é uma forma de inocência. Torna-se necessário (ainda que te escandalize) insistir na palavra felicidade, embora me pareça uma palavra miserável. Nada prova melhor a nossa miséria do que a importância que conferimos à felicidade.
O vício consistia para mim, no hábito do pecado. Ignorava que é mais difícil ceder só uma vez do que não ceder nunca.
Quando se trata de pessoas comuns, é inútil atribuir-lhes qualquer sabedoria. Basta que lhes atribuamos cegueria, apenas cegueira.
O sofrimentos nos torna egoístas, pois nos absorve inteiramente. Só mais tarde, sob forma de saudade, é que o próprio sofrimentos nos ensina a sermos compassivos.