Margarida Rebelo Pinto
Quando uma mulher gosta mesmo de um homem aguenta tudo, espera o tempo que for preciso, não há nada que não faça para poder ficar com ele.
"Acordo todas as manhãs com este zumbido e a certeza que não vais voltar. Cansada de me convencer que, apesar e acima do teu individualismo estava a tal inevitabilidade a que nos submetemos e chamamos amor. Pensei que, com todo o amor que sentia por ti te iria suavizar o coração e de alguma forma fazer parte do teu equilíbrio, tornando-me subtilmente indispensável. Hélas. Nunca pensei enganar-me tanto. Mas só agora percebo que o teu amor por mim não foi uma inevitabilidade, mas uma escolha. Alguém que te chamou a atenção e que um dia decidiste que querias atravessar, com a intuição certeira de um animal selvagem que procura refugio temporário, quando está cansado. Sei que não vinhas a fugir de nada, nem à procura de coisa nenhuma. Mas acho que quando eras pequeno te arrancaram uma parte de ti, e desde então ficaste incompleto e perdeste, quem sabe talvez para sempre, a capacidade de adormecer nos braços de alguém sem que penses no perigo de ficar na armadilha do carinho para todo o sempre.
Não, o teu amor por mim, volto a dizê-lo, não foi uma inevitabilidade, mas uma escolha feita com a leveza e a frontalidade com que fazes tudo na vida. Por isso te foi tão linear - e repara que não escrevo a palavra fácil - escolher outro caminho.
Mas não foi assim para mim. Entraste a 200 à hora na minha vida, e quando te vi pela primeira vez a passar a porta da minha casa onde viveste quase um ano quase todos os dias, deixei-me levar por essa inevitabilidade, submetendo-me a tudo o que depois se seguiu, e chamando-lhe amor. Um amor total, gratuito, despojado, com o corpo, a cabeça e o coração todos enterrados lá dentro."
"Cada regresso teu fazia-me acreditar que afinal nunca te tinhas ido embora, que o tempo é a coisas mais relativa do mundo e que não é a distância que afasta as pessoas quando nasceram para se encontrar."
Não se ama pelas qualidades. Nem por isto ou por aquilo. Ama-se simplesmente, e sobretudo ama-se apesar deste e aquele defeito.
"O meu esforço será sempre inútil porque, por mais que faça, acabarás por me escorrer por entre os dedos."
"Como de ti já não tenho nada, resta-me fechar as portas e desejar que encontres o que queres no caminho que escolheste."
"Decidir? Saberás tu algum dia conjugar esse verbo? Tu que nunca decidiste nada, que sempre te deixaste ir ao sabor da corrente."
O que eu mais gosto no amor é que, quando é a sério, cabe tudo lá dentro. A paixão, o desejo, o pulsar das almas e a serenidade dos pensamentos, a vontade de construir outra vez o mundo à imagem e semelhança do que sentimos, a paz dos regressados e a poesia das folhas brancas que cada dia esperam a doçura das palavras e a certeza das ideias.
O amor é mais do que querer, desenhar, sonhar e amar. É partilhar a vida inteira, numa entrega sem limites, como mergulhar no mar sem fundo ou voar a incalculáveis altitudes. O amor é muita coisa junta, não cabe em palavras nem em beijos, porque se leva a sim mesmo por caminhos que nem ele mesmo conhece, por isso quem ama se repete sem se cansar e tudo promete quase sem pensar, porque o amor, quando é a sério, sai-nos por todos os poros, até quando estamos calados ou a dormir.
"Usamo-nos todos uns aos outros e chamamos a isso amor. E, quando já não nos podemos usar uns aos outros chamamos a isso ódio."
"Estas respostas vagas e tão imprecisas só me confundiram ainda mais. Não que ele não tivesse direito a elas, eu é que nunca as soube aceitar."
"Nunca sabes o que queres e vives tão perdido nas tuas dúvidas que nem sequer consegues perceber o mal que podes infligir aos outros."
"Amei-te por tudo o que me fizeste sentir, por ser quem era e como era quando estávamos juntos: feliz, um pouco frágil, sonhadora, dócil como nunca fui com qualquer outro homem."
"Abraçámo-nos nem sei durante quanto tempo, só sei que tudo parou ali mesmo, outra vez, mais uma vez. De repente estávamos de novo sozinhos, entregues um ao outro, o mundo era um outro lugar, como no dia em que nos conhecemos."
"O tempo foi diluindo a tua presença na minha vida.
Quem sabe um dia também dissolva a tua imagem na minha memória e eu consiga finalmente esquecer-me de ti. Não é o que quero; porém, era o que deveria fazer. Nunca somos os donos do nosso coração. O meu não é meu, porque quando amo profundamente estou a dá-lo a outra pessoa."