Marcos Fernandes
Procissão a esmo
Vejo os seguidores e vou junto.
Não pergunto do que se trata.
Apenas sigo os passos.
A quem eu sigo?
E o que eu persigo
Nesta procissão a esmo?
REGRESSO INDESEJADO
Lá vem a poesia novamente.
Nas mãos, açoite, cabresto e rédeas.
Tanto tempo sem me importunar!
Temo não ser somente uma visita.
Vejo em seu olhar de carrasco
Que ela veio para se alojar
E me trazer à lembrança
Tanta dor e sofrimento.
GRATIDÃO
Agradeço a quem me desprezou,
A quem me usurpou,
A quem me iludiu.
Agradeço a quem riu de mim,
A quem zombou dos meus sentimentos,
A quem me recebeu com pedradas,
Quando eu trazia flores nas mãos.
Agradeço por tudo!
Pois foi assim que tracei
O meu caminho até aqui.
Sentir dor no momento da tribulação é normal, mas jamais deixe que isso seja um impedimento para a claridade dos teus olhos. A dor, às vezes, esconde o valor da experiência.
Abdicação
Renunciei à poesia.
Quando estava a definhar,
Percebi que neguei
O que me mantivera vivo
Durante todo esse tempo.
Nada é tão ruim quanto parece ser. Há sempre uma saída, por mais oculta e impossível que possa parecer.
@poetamarcosfernandes
INSACIÁVEL FOME
A poesia é o grito
Que me sobra
E a insaciável fome
Que me assola.
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Autodefesa
Aceitar que nada é para sempre
É uma tentativa do coração
De se proteger
Dos males decorrentes
De um amor decadente.
@poetamarcosfernandes
Desistir é quase sempre a opção mais fácil. Mas, às vezes, é a mais sensata a se fazer. É preciso recuar para enxergar melhor e pensar com clareza.
Poesia irremediável
A poesia chega feito doença.
Sinto febre,
Calafrios intermináveis,
Dores no corpo inteiro,
A garganta queima
E a disposição me abandona.
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A insônia da dor
No poema, repousa
A minha silente dor.
Mas apenas repousa.
Ela não dorme nunca.
Instagram: @poetamarcosfernandes