Marco Aurélio
Ocupe-se com o propósito da vida, deixe de lado as esperanças vazias, seja ativo em seu próprio resgate, se você se importa, e faça enquanto pode.
Apressa-te, portanto, na direção de uma meta, abandonando vãs esperanças, e auxilia a ti mesmo, se é que te encontras ainda em condição de cuidares de ti mesmo.
Se és atingido por um acontecimento que és capaz de suportar naturalmente, não fiques contrariado com isso; mas na medida de tua capacidade natural, suporta-o.
Se alguém for capaz de convencer-me e mostrar-me que eu não penso nem ajo corretamente, mudarei de bom grado, pois busco a verdade, pela qual nenhum homem jamais foi ferido. Mas aquele que permanece no seu erro e na sua ignorância é ferido.
As coisas que são externas à minha mente não têm nenhuma relação com a minha mente.
Não faças como se tu fosses viver dez mil anos. A morte paira sobre ti. Enquanto vives, enquanto está em teu poder, sê bom.
Quando um homem beija seu filho, dizia Epicteto, deve sussurrar para si mesmo: ‘tu morrerás amanhã talvez’. Mas, estas são palavras de mau presságio.
— Nenhuma palavra é uma palavra de mau presságio que expresse qualquer obra da natureza.
É realmente espantoso o fato de a ignorância e a vontade de agradar serem mais poderosas do que a sabedoria!
Se alguém é capaz de me convencer e me evidenciar que o que penso ou faço não é correto, será com contentamento que me corrigirei; afinal, procuro a verdade, a qual jamais causou danos a alguém. Aquele, porém, que persevera no engano e na ignorância causa danos a si mesmo.
Escolha não ser atingido e você não se sentirá atingido. Não se sinta atingido e você não terá sido.
A arte de viver assemelha-se mais à arte da luta do que à arte da dança, se considerarmos a necessidade de estar alerta, não dar passos em falso e cair e, simultaneamente, evitar ser atingido aparando os golpes imprevistos.
O ser humano que souber tirar o mais corretamente proveito dos obstáculos é o que se tornará o maior alvo dos louvores.
Aniquilando a suposição aniquilarás o “fui injustiçado”. Aniquilando o “fui injustiçado” aniquilarás a injustiça.
Aquilo que não torna pior a própria pessoa também não torna pior sua vida, tampouco a prejudica, quer em suas relações externas, quer internamente.
Eu trilho as estradas da natureza até à hora em que me deitarei para
descansar, devolvendo o meu último sopro ao ar de que o aspirei diariamente, e
mergulhando na terra donde o meu pai tirou a semente, a minha mãe, o sangue,
e a minha ama, o leite do meu ser — terra que durante tantos anos me forneceu
diariamente comida e bebida, e, embora tão atrozmente maltratada, ainda
permite que eu pise a sua superfície.
“Pense em todos os seus anos de procrastinação; em como os deuses reiteradamente lhe deram novos períodos de graça, dos quais você não tirou vantagem. É hora de entender a natureza do universo ao qual você pertence e do Poder controlador do qual você descende; e entender que seu tempo é limitado. Então use-o para se esclarecer; senão ele se esvai e nunca mais estará sob seu poder novamente”
— Marco Aurélio, Meditações, Livro II
Observa com olho crítico seus princípios norteadores e os indivíduos sensatos, tanto aquilo de que se esquivam como aquilo que buscam.
A opinião de dez mil homens não tem valor se nenhum deles sabe algo sobre o assunto.
Dificilmente se vê como algo que resulta em infelicidade não examinar o que se passa na alma alheia; contudo, aquele que não acompanha de perto os movimentos de sua alma é necessariamente infeliz.
Mesmo que vivesses 3 mil anos e tantas vezes quanto 10 mil anos, lembra, todavia, que ninguém perde uma vida distinta da vida presente, tampouco vive uma vida diferente desta que presentemente perde. Assim, a vida mais longa e a mais curta se tornam algo idêntico. Com efeito, o presente é igual para todos e, portanto, o que se perde também é igual; e aquilo que se perde, consequentemente, revela-se como sendo de curtíssima duração, como se fosse instantâneo. De fato, não se perde o que passou nem o futuro, pois como tirar de uma pessoa aquilo que ela não possui? Necessitas lembrar, portanto, estas duas coisas: uma é que tudo o que é egresso da eternidade é de espécie idêntica e tem caráter cíclico, não fazendo diferença nem importando, assim, se alguém permanece em contemplação das coisas apenas por um século ou dois ou por um tempo infinito; a outra coisa é que, quando morrem, a perda é igual para pessoas que viveram o máximo de tempo e para aquelas que viveram o mínimo. Com efeito, o presente é tudo de que se pode ser privado: afinal, tudo o que se tem é o presente, e a perda daquilo que não se possui não é possível.
A morte é o fim das impressões sensoriais dos impulsos oriundos das paixões, dos questionamentos racionais e da escravidão da carne.