Marcia Bandeira
Se me perguntares:
Aonde vamos amanhã?
Calarei. Ficarei muda!
Mas se teimar em insistir,
Perante uma seca relutância,
por fim, lhe responderei:
Trilharemos relvas desconhecidas
sob a proteção do silêncio.
Encostaremo-nos a um muro
do conhecimento que não se diz.
Descansaremos de um pensamento
que se expõe inconstante.
Beberemos da fonte da certeza
e nos entregaremos à sua leveza.
E então, você virá?
"A aventura da Alma Gótica – Parte V de um dueto com o Músico Petrificado":
Claro! Não sabias que Alma pode voar?
Através dos pássaros da imaginação
Colheu a flor da boca do penhasco
Mas não plantou com as margaridas...
Para flor tão especial, uma missão especial:
Homenagear o músico petrificado...
E para devolver-lhe a vida
Plantou a flor no violino.
Agora pétalas de notas musicais
E ecos de notas florais
Exalam do magnífico instrumento.
Não fiques triste pelo nobre sacrifício da flor!
Segredo: a música faz brotar jardins em almas.
E a nobre rosa vive num jardim musical...
Laços de fita, ternura infinda
afagando lembranças e amores
guardando esperanças e sabores...
sempre sem fim, sem medo, sem mágoa
sempre um sim, um sim que se aguarda
por um laço de fita,
Ternura Infinda...
Não quero mais chorar
não quero te fazer chorar
quero ler seu sorriso
ler sua respiração
pois quando leio você
posso sentir cada pausa
cada pulsar de coração...
Só eu que fico sem fôlego
e escrevo tudo sem vírgulas...
E assim você me encontra,
de um jeito muito especial,
assim você me alcança,
estrelas inatingíveis de mim mesma...
Brincar de ser estrela,
pequeno ponto de luz na imensidão
Iluminar o escuro que nos rodeia
desmanchar com amor a solidão.
Assim como um Anjo que se tem por perto
Na dúvida ou na decisão, o amparo certo.
Não sei como és...
Apenas sinto e imagino ver-te.
Vacilo e me engano ao tentar descrever-te.
Teus traços não se delimitam
espaços se rendem, a ti não limitam.
Ainda e enquanto, ouso arriscar:
Tal qual clarão de Luz sublime
És vento, força, amor que redime.
Asas que envolvem tão belo ser
Acalentam a alma, aquecem e confortam
Razão/emoção: conflito do viver.
Mas quem foi que disse
que Anjo não precisa de cuidado?
Sei que não posso voar,
mas por ti, Anjo amigo,
Eu tento, eu tento alcançar:
A flor que te faz sorrir,
carinho que lhe entrego ao coração.
Recorto estrelas a iluminar tua noite
beijo de luz a iluminar doce canção!
Quando criança, assim como quase todas as crianças, desejei profundamente alcançar as estrelas. E isto era tão forte e imperativo, tão mágico em mim.
Em meio há tantas, apenas um pequeno brilhinho em mãos já seria o suficiente...
Mais tarde, com os estudos de Física, descobrir que aquele brilho ao longe, na verdade, é de uma estrela que nem sequer existe mais... Confesso, perdeu-se um pouco do encanto.
Mas... que nada! Fechei os olhos e percebi: estavam todas em mim, infindável via-láctea em meu coração!
Como se escapássemos do tempo e do espaço. Apenas entre nós, o som de nossos sentimentos, e o pulsar de nossos corações...
"A aventura da Alma Gótica – Parte III de um dueto com o Músico Petrificado":
E após reconfortar-se nas águas geladas
Alma continua seu passeio pelo jardim sereno.
No antigo tronco oco, de uma árvore ressequida,
Oculta suas antigas angústias.
Ora bem sabes: muito tempo guardadas viram veneno.
Tão triste e solitário jardim sereno!
Mas por sorte ou por desejo forte
Vem intenso e impassível: o vento!
Sopra sem piedade e varre num lampejo
O pouco que lhe resta da melancolia.
Não murcham mais as margaridas de seu pensamento!
É sempre belo e pleno, suave jardim sereno.
Não, neste lugar a noite nunca dormia...
Sob o véu do luar a Alma protegida
Vislumbra brilhos de estrelas escondidas.
Tão claro e precioso jardim sereno!
A aventura da Alma Gótica – Parte III de um dueto com o Músico Petrificado
"A aventura da Alma Gótica – Parte IV de um dueto com o Músico Petrificado":
Em seu contínuo e incerto caminhar
Não encontra nem o fim, nem o início.
Quando se depara então, com um precipício.
Lança sobre tamanha imensidão seu olhar
Vasto lugar para a música voar!
Preencher cada espaço vazio e inerte
Fazer ressoar sobre si cada eco em notas
Iluminar com canções este caminhar
Imaginação liberta encontra diversas rotas.
Oh, doce Alma delicie-se em seu belo jardim sereno!
"A aventura da Alma Gótica – Parte IX de um dueto com o Músico Petrificado":
Passaram-se dias, semanas, meses
Nada que valesse mais contar as horas
Apenas esperar o nascer das estrelas,
Apenas sentir o ecoar da luz de cada dia
Sobre as densas camadas de névoas...
No tempo do regresso nada precisou anunciar:
O doce perfume das novas flores
Exalavam amor aos sentimentos de Alma,
Despertando-a de seus devaneios.
Levantou-se e correu em direção à luz da clareira
Sentindo o som se intensificar
Ao compasso de seu coração.
Alma, enfim, encontrou Músico!
Não mais petrificado,
E sim um coração a fluir encantado
Pela singular beleza de Alma.
Notas de saudade, vida, paixão...
Selaram com um beijo,
Fogo purificador de toda emoção.
Nem café, nem almoço
nada muito trabalhoso
Talvez um brunch
um piquenique ao ar livre
tudo muito simples...
Eu, você, os campos,
as crianças brincando
Uma sombra e um violão,
felicidade plena em canção!
Um pouco de preguiça
e mais ainda de energia
Apreciar vivendo a vida
nas horas soltas de contemplação,
oportunidade de cada dia...
Serenidade, amor: uma oração!
"A aventura da Alma Gótica – Parte VII de um dueto com o Músico Petrificado":
Destino: Apesar dele e a favor dele...
O violino em flor, enfim, volta ao seu dono,
Legítimo por direito, legítimo por saber conduzi-lo.
À Alma resta a espera pelo fim do outono,
O cair da última folha vermelha em brilho
Ao tilintar do vento, em canção de ninar aos ouvidos.
Alma saberá que o inverno
Resguardará sua terra, seu abrigo.
Até o momento em que o Músico Petrificado regressar,
Encerrar com tão longa espera,
Acordar com sua canção de primavera
Todos os campos de margaridas.
E assim, nascerão novas flores,
Em outras bocas de penhascos
Para que infindável
Adorne antigos e novos amores,
Resgate esperanças perdidas,
Cure sinceras amizades feridas.
Continue Músico Petrificado!
São muitos os que aguardam
Para ter uma canção preferida...
Noite estrelada
São teus olhos em meus olhos.
Brilho no olhar: são estrelas a dançar
Sob a música de cálidas brumas
Sopro suave, ar quente que foge de teus lábios
Entregas, sem pudor, o que sentes por mim
Inebriante desassossego
São teus lábios em meus lábios
Bebe da fonte etérea do meu ser
O que, por hora encontra-se em partes,
Anseia completamente ser completo
Duas pessoas
Um sonho
Duas vidas
Um encontro
Duas almas
Há tempos separadas
Pelo curso de um rio chamado Destino
Um amor antigo?
Um amor futuro?
Atemporal? Impossível? Especial?
Seja o que for que o caminho lhes reserva
Aguardam...
Um encontro em fim
Talvez apenas um breve instante sem fim.
Mas ainda há um lampejo
De luz oculta
Uma reminiscência
Que a guarda e a salva
E faz com que ela surja
Toda vez que seus lábios sopram uma canção
Toda vez que suas mãos desenham seu rosto em lágrimas...
Suave cantar em meus ouvidos
Vento que te leve a bruma breve
Vento que me leve a vida leve
Vento que ascende a alma num sorriso
Vento que espalha plumas de avisos:
Hoje é o dia de tua alegria!
Hoje é o dia de tua alegria!
Prometa-me que vai calar-me com um beijo
toda vez que eu falar tamanha bobagem,
toda vez que eu disser que vou embora.
Prometa-me esconder as chaves do carro
toda vez que um desatino tomar-me por hora,
toda vez que meus olhos trovejarem desesperanças.
E me abrace sereno e forte, constante
e me lembre do quanto gosto de lhe ter por perto
do quanto me sinto segura em teus braços.
E afague meus cabelos, meus anseios, minha alma.
Sem igual ternura, e me lembre do quanto sou tua.
Sem igual medida, e descubra o quanto és minha vida!
Já não tenho medo do escuro.
E na escuridão deste caminho,
onde antes,
tanta coisa agora é pouco
para me apavorar.
Deve existir algo além do que procuro...
Apesar de que, por hora,
possa parecer tão pouco.
O que posso vir a encontrar
está além do inimaginável futuro...
Para isso,
preciso atravessar outras pontes,
outros desafios...
Mas já não tenho medo do escuro.