Marcella Prado
Não é bonito, não é feio. Não é burro nem inteligente. Consquistador, boa pinta. Por vezes me lembra um menino. Carrega consigo um olhar distante e curioso. Chama minha atenção de uma forma avassaladora. Te busco,e, te persigo. Não te encontro e logo sigo. Sinto ciúmes. Mal o conheço. Tenho medo. Que sei de ti além do visível e previsível? Nada sei. Só sei que sinto.
Sempre amei por nós dois. E se quer saber, eu ainda amo, e amaria se você me pedisse, para sempre - pour moi, pour vous, pour nous.
Seja então a única, a amada, a querida. Sejam felizes se puderam. Ocupe meu lugar felizarda. Tente ser para ele o que eu não consegui.
Estou vazia de sentimentos. Só sobrou a amargura. Não consigo mais ser boa, caridosa, leal, legal, amável. A fonte secou. Carrego comigo um vazio abismo. Levo sempre um sorri amarelo, doído, amargurado, agustiado. Tudo dói. Tudo é fardo. Tudo é sofrido.
Sou carcaça. Oca. Foi que sobrou, foi o que deu pra resgatar. Não fui forte o bastante para sair imune, não deu. Sinto muito.
Que saudade é essa que me mata, que não transborda, que não alivia e que nunca passa? Estou sem ar, sem chão, sem fala. Só escrevo. Como você me dói. Me arde os nervos. Diga que vai voltar. Volta.
Você desviava o olhar para o chão, para o seu tênis, suas malas, para os santos de Israel, mas não me viu.
Minha maior angústia foi tê-lo visto caminhar em busca de uma nova vida, cheia de oportunidades. Não fazer mais parte disso me doía. Deus, você não imagina como doeu te perder. Ainda dói, dói muito.
Estou destrúida. Não tá dando pra reagir. Deu pra entender ou é muito difícil? Não estou mais em pedaços. Eu virei pó. Farelo.
Morreu foi? Está surdo, mudo, doente, incapacitado? Tem algum problema de memória que te impede lembrar sua crueldade? Não consegue ver o quanto me atrapalhou a vida essa tua forma de continuar indiferente? Que passa nessa tua mente, que vê, mas que finge não ler?
Sua mãe tão te ensinou assumir seus erros? Acho que não. Deve ter te faltado esse quesito na educação. Pois deixe comigo, vou te soletrar. Vou te dizer exatamente o que você devia ter feito. Devia ter olhado na minha cara quando me viu, e não ter fingido que eu usava uma capa de invisibilidade, não sou Harry Potter.
Não é tristeza, é saudade. É a constante lembrança do que não tem retorno, do quase-morto, do fim, do que não deveria mais ser falado. Mas eu insisto. Eu relembro, eu me mato.