Marcella Prado
Quando te reencontrei, naquele frio, me esperando com aquele brilho no olhar e um sorriso imenso, meu Deus! Como valeu.
Jamais deixarei de lembrar aquela sensação de liberdade que eu tinha ao teu lado. Vivíamos tão leves e felizes. Não precisávamos de muito, acho que a companhia um do outro bastava.
Dizem que é normal, que vai passar. Não acho nada de normal nisso, não vejo cura nem diminuição. Quanto mais o tempo passa, mais o rombo cresce. Percebe? Quanto mais a tua vida parece andar pra frente, a minha está estancada. Estou cada vez mais louca, mais bêbada, mais dopada, mais adoentada.
Você nunca deve ter procurado sentir meu toque nas outras garotas. Já sei-Já sei. Apenas gosto de pensar que vez ou outra você se lembra que eu existi na tua vida-amorosa-agitada.
Ando sentindo cada vez mais nojo de toda essa porcaria romântica, do tipo filminho, músicas de amor, casais felizes nas ruas, gente estalando o dedo na minha cara pálida.
O segredo deve ser esse: jogar tudo à pólvora! Ou mantenho as lembranças ou me mantenho viva. É instinto de sobrevivência, é questão de escolher entre mim e o passado.
Do que sinto mais falta? Certamente do abraço. Do cheiro doce e amendoado que tinha tua roupa limpa e do teu moletom macio de duas cores, azul e branco, que combinava tão bem com aquelaminha camisa pólo no mesmo tom.
Sinto saudades também daquele creme pós-barba, que deixava teu rosto parcialmente melecado, com um aroma doce-enjoativo e com gosto amargo.
Um dia vou desvendar o mistério e perceber que minha vida flui melhor sem tua companhia, sem teu cheiro de perfume, sem teu casaco duas cores e sem teu abraço aconchegante.
Deixa-me pensar que ainda sou aquela que você ama, que ainda te amo como da primeira vez, que ainda posso te fazer sorrir, que ainda posso te fazer cócegas nas costelas, daquele jeito que te fazia gritar e me pedir para parar, mas que pedia como quem ainda quer atenção, como alguém que ainda quer carinho e aconchego.
Deixa-me dizer o quanto ainda te amo, o quando ainda sobrevives no meu coração destroçado, o quando ainda te busco afogado por dentro de todo meu copo de cevada ainda gelada, da espuma perdida, no álcool recém vaporizado no meu corpo cansado.
Diga que se importa, que se importa ainda comigo, que se preocupa com meus dias e com a minha saúde.
Faça um contato, joga uma luz, um sinal de vida, um rojão pra que eu veja que você não é sonho e que ainda existe – por Deus, ás vezes chego a pensar que você deve ter sido sonho, ou que alucino ou que estou maluca.
Deixa-me achar que você ainda vai voltar, contra todas as possibilidades, contra o destino, contra a distância, contra o mundo, contra tudo. Deixa-me livre pra dizer e pensar todas essas besteiras, sem censura, sem medo, sem vergonha.
Um dia penso em escrever um livro. Já tenho um título. Algum dos lançamentos será feito na tua cidade, e farei questão de ver teus olhos brilhantes da livraria, enquanto eu estiver sentada, assinando alguns exemplares. Vejo já teu rosto corado quando me perguntarem: ‘Pra quem escreve?’. Sorrirei pra ti e manteremos pra sempre esse segredo. Será nosso.
Você me trouxe de volta para a vida, sabia? Antes de te conhecer eu estava mais seca do que nunca, eu não chorava, não me envolvia, não sentia nada. Não saia uma lágrima. Com você veio uma enxurrada, um amor e uma dor incrível.
Sem tua mão confortável e quente pra esquentar a minha, sem teu sorriso pra me despertar nas manhãs, sem tua respiração mansa pra me fazer dormir.
Mas sabe amado, hoje é sábado e vou caçar o que fazer, vou arrumar um jeito de te esquecer, de não pensar em passado nem em nós.