Marcella Fernanda
Não sei quase nada do amor. Nada além de romances literários, filmes de comédia romântica, desabafo de amigas e umas poucas tentativas extremamente mal sucedidas. Conheço e admiro de nome, mas queria compartilhar minha única certeza: Amor mesmo não dói.
E hoje eu me pergunto, com a minha vida seguindo tão bem e a ausência despercebida num canto, se ainda amo. Nada mudou, além de mim, e tudo parece tão diferente, tão distante, tão fora de mim e dessa vez, acredite quem quiser, por repulsa minha.
Porque, seja lá o que ainda resta, é quieto e não grita mais nos meus silêncios, nos meus ouvidos. Não me tira o sono, não me tira o juízo, a paz. Não é espaçoso, muito pelo contrário, compacto.
Quem vive se escondendo atrás de uma máscara não suporta a ideia de alguém descrevendo e percebendo cada gesto por trás, tudo que é tão rigorosamente protegido e escondido.
Foi assim que eu fui embora da melhor pessoa que eu já conheci. E, por mais egoísta que pareça, pensei mais nele do que em mim. Conto de fadas é tudo que eu não acredito. Ninguém precisou se corromper, rompemos. Se tem algum cara, que tenha passado pela minha vida, e eu desejo sinceramente tudo de melhor nessa vida, é ele.
Dei valor sim, que fique claro. O suficiente pra deixar ele encontrar alguém melhor que eu. Percebe o tamanho disso? Eu tentei, juro mas, na verdade, eu que nunca mereci.
Se eu for embora, não preciso tocar alarme, dar mil avisos prévios ou fazer cena de novela mexicana, batendo a porta. Você vai me ver saindo aos poucos, cruzando a porta em silêncio e vai ser a última vez que vai me ver tão de perto.
Eu acredito em amor com alguns poucos meses de relacionamento. Amores mais bonitos do que alguns de anos, amores de outras vidas, escorrendo pelos poros.
(...) E se o preço a se pagar por isso é gente indo embora, adeus, deixo a porta aberta. Nunca me ausentei de mim pra prender um cara ou uma amiga. Sempre fui completamente eu, sem me transformar em pecinha de jogo por uns dias.
Ouvi muitas vezes a mesma coisa, mesmo argumento, uma fala oficial que me dá sono. Mas queria dizer dessa vez que se eu fosse mesmo pequena, indefesa e assustada, eu quem iria fugir. Nunca o fiz.
Queria conseguir ficar uma semana triste, de cara fechada e seca com o mundo. Mas eu choro rindo, morro sorrindo e ninguém desconfia, talvez seja melhor.
Queria que, de alguma forma, todas entendessem que felicidade não é ser dois, é ser. Queria que todas se vissem como eu as vejo, que todas entendessem o quão são especiais e agissem de acordo com isso, pensassem que alguém estar com elas não é um favor, é sorte. Também me dói ver homens sensacionais desacreditando com facilidade da ideia de ser feliz com alguém, só porque tentou com um alguém muito errado e teve o efeito contrário. Escrevo porque, apesar dos dias difíceis, quase impossíveis, eu acho que ninguém merece viver de portas fechadas, se afundando em si mesmo e em mágoas passadas. Mulheres culpando e criticando os homens, os homens culpando e criticando as mulheres, todo mundo se fechando pra não sofrer e o amor ficando sem espaço pra entrar. Porque se fechar é uma opção, mas você se fecha pra dor e pra felicidade também, isso é uma consequência
Mas tudo bem, queria te dizer que, graças a você, aprendi a nadar. Era questão de sobrevivência, eu tive que aprender. Hoje sou melhor e você? Vai ser sempre o peso dos barcos, que triste. Não te desejo o mal, porque sua vida já é vazia demais e não tem mal pior que esse, alguém que não sabe viver.