Marcella Fernanda
Hoje percebo que você sempre me deu pouco, porque talvez seja seu máximo a oferecer. Sua vidinha vazia te faz feliz porque ela não te cobra maturidade, você pode ser moleque em paz. Tanto cara por aí, tanta vida pra eu entrar ainda, e eu esse tempo todo deixando o mundo escapar pra tentar prender você. Você acha que voa alto, e morre de medo de entrar em gaiola. Na verdade você nem voa, filhote não sai do ninho, esse sempre foi nosso problema. Quem voa sou eu. Agora eu sei.
Se doar mais e cobrar menos ou cobrar mais e se doar menos ? É mais forte quem termina ou quem perdoa ? É mais inseguro quem precisa ter uma pessoa ou quem precisa ter várias ? É muita pergunta pra pouca resposta. Mas sabe, talvez eu nem queira saber as respostas. Só pergunto pra não me sentir tão passiva, indefesa. Não admito ser invadida sem ao menos questionar. Eu sempre tão minha e, de repente, nem sei de quem sou. Sou sua, lutando pra ser de outros, querendo me ter de volta. E nessa de não ser de ninguém ao certo, vai me restando solidão. Uma solidão estranha,tentando virar amor-próprio. E sabe de uma coisa ? Tomara que vire ! É desse amor que eu tô precisando. Quando eu era minha, as coisas não ficavam assim não viu. Eu me valorizava, me fazia feliz e quando eu queria curtir outro alguém, me dava um tempo, depois voltava renovada.Sem apego, sem drama. Sempre fui fiel a mim, podia ser de alguém por uns dias, mas no fim das contas era sempre comigo que eu terminava. Nada de pressão, sufocação, neuroses. Uma relação leve e saudável. Num dia desses, quem sabe, me mando umas flores e me peço pra voltar. Assim que você me desabitar.
Dizem que quem procura, acha. Andei pensando que devo tá procurando errado. Foi aí que eu optei por parar de procurar, por deixar me acharem. Porque procuras inúteis e esses achados errados machucam e cansam tanto e eu não quero desistir, perder as forças. Porque eu me conformei com tanta coisa absurda, tanta falta de amor, mas eu ainda tenho esperança de um dia alguém me fazer acreditar de novo e me mostrar o quanto eu tava enganada. Porque eu me adaptei e me fechei por necessidade, não porque eu quis. Aprendi a fingir não ter coração só pra ele continuar aqui, forte, batendo e sonhando em silêncio. Ou você aprende a ser cínica ou você morre por dentro, eu tive que aprender. Mas sabe de uma coisa ? É mais leve. Ser ingênua pesa, porque você sai distribuindo amostras grátis do seu melhor por aí, pra qualquer um, acreditando que vai ter algum valor. E se decepciona, e toda aquela coisa. Depois que você aprende a ser cínica, você se guarda, se poupa. Você prova o mundo e não precisa provar nada pra ninguém. Ser cínica não dói, porque você não acredita nem na dor. E ela vai embora. E uma parte de você vai embora. Melhor assim. Essa mania de acreditar em tudo e confiar em todos só fazia sofrer. Melhor assim, menina.
A gente podia ter dado certo. Se não fosse meu medo de me machucar, seu medo de se prender, nossos tempos em desalinho. Se não fosse o mundo contra nós, meu orgulho, seu individualismo. Eu sempre pronta pra começar algo de verdade e você nunca sabendo o que quer. Você vivendo sua vida e tendo certeza de que eu estaria aqui te esperando, como de fato sempre estive. As coisas podiam ter sido diferentes se eu tivesse me imposto mais, não te acostumasse mal. Ou talvez a gente só tenha acontecido no tempo errado, tanto faz. Você não tá pronto e eu não posso te cobrar coisas que você não tem pra dar. Você quem quis assim, eu respeito e vou seguir em frente. Mas, por favor, me deixa ir! Se gosta mesmo de mim, me liberta. Agora não tem mais porta aberta, a gente precisa se desligar. Você não se acostuma com a ideia de me perder de vez, mas eu posso te garantir que a gente é capaz de se acostumar com qualquer dor ou absurdo.Você que me ensinou. Um dia você vai se arrepender, eu já conheço as voltas do mundo. Mas se a vida for realmente justa, eu vou estar numa bem melhor e você vai ser sempre passado, lembrança. Cansei de ficar parando meu tempo pra tentar ajustar com o seu. Agora vou parar você, pro meu tempo andar. E se a saudade é o preço a se pagar, tá feito. Saudade é pouco comparada a essa dor no peito. Vou deixar passar.
Sabe, eu acho que quando você começa a ter argumentos imediatos pra destruir toda e qualquer desculpinha do garoto que você supostamente ama, parabéns, vejo o fim se aproximando. Eu, que espero mais pelo fim definitivo do que por qualquer outra coisa nesse mundo, posso finalmente dizer que não me sinto mais presa ou de olhos vendados. Enxergo as coisas claramente e quase nada me agrada. Migalhas não matam mais minha fome. Tô parada numa esquina fria e não sei o porquê. Já consigo andar, questionar, negar. Consigo dizer tantas coisas que ficavam só escritas por tanto tempo e, quem diria, sorrir. Sorrir pra outros caras, pra mim. Agora a melhor parte: Tô conseguindo não sorrir também. Quando vejo suas fotos, quando você dá sinal de vida. Sendo assim, tô indo pra outras esquinas, me perder, me encontrar. Te esquecer de vez e lembrar de mim. Olho pra você e penso em mil coisas que a gente poderia ter sido. Mas não penso mais em nada que a gente possa ser além de amigos, não vejo futuro, nenhuma expectativa. Você, enfim, no passado. Fiz de tudo e não deu em nada, por isso, não tem mais o que se fazer. Só ir embora. Já adiei minha hora, agora é pra valer. Você que sempre gostou de ganhar, jogar e me ensinou tanta coisa, agora vai aprender a perder.
Pena dessa gente que precisa viver levantando a bandeira da liberdade e ridicularizando o amor pra ser feliz. Pena de quem diz que não quer se prender porque é foda demais e tem muito o que viver, mas no fundo só morre de medo se não segurar a barra que é manter um relacionamento. Desculpa, mas eu tenho vontade de rir dessas pessoas que se acham tão auto-suficientes, mas não suportam a própria companhia sem encher a cara de vodka ou sem passar um tempo com essas biscates por aí, que falam o que você quiser ouvir em troca de sacanagem. Mas tudo bem, vocês só precisam ouvir alguém alimentando essa coisa ridícula disfarçada de vontade de viver, aí vocês acreditam ou fingem acreditar e dão continuidade às suas vidas vazias, sempre gritando que querem sempre ser solteiros e todos esses clichês. Hipocrisia me enjoa. Malandro não grita que é malandro, isso é coisa de otário. De verdade, eu só desejo que um dia o amor dê um tapa na cara de vocês. Porque o amor, meu bem, ele chega e não pede permissão pra entrar. Ele não quer saber das suas ideologias, das suas farsas ou verdades. Ele chega bagunçando tudo e você não pode fazer nada, só assistir. Meu desejo acaba aqui. Só que aí tem a participação da vida, e a vida, meu amigo, não deixa por menos não. Talvez a pessoa que você ame, faça parte do movimento revolucionário dos super-humanos que se bastam e fogem de compromisso. E deixa eu ir te avisando, o amor, ele nem sempre chega pros dois lados. Quero ver onde vai parar toda essa malandragem! Esperto mesmo é quem não cospe pro alto. Um dia vocês vão aprender, mas isso eu deixo na conta da vida.
"Por muito tempo minhas verdades se calaram pra assistir suas mentiras. Agora cala a boca e ouve bem: Fui. E se você se sentir culpado por alguma coisa, se sinta mesmo. A culpa é toda sua de ser um idiota."
Sou uma mulher tentando proteger minha menina. Quando eu deixo ela sair e um babaca a magoa, minha menina chora e fica triste. Mas minha mulher só fica cada vez mais fria e calculista, esperando a hora de dar o troco. Já que não cuidou de mim, se cuida! Deixo avisado.
Eu queria, numa dessas noites que eu saio tentando te perder e me encontrar, ou vice-versa, achar graça no vazio. Simples, o vazio não enche, não diminui, não dói, não faz diferença. O vazio ocupa o tempo sem ocupar espaço, distrai sem deixar marcas ou maiores lembranças. O vazio é o hoje que não se estende até amanhã. Um cara na balada, um romance de um dia, um amor de algumas horas. Só que aí que tá! Lá tô eu falando de amor de novo, que coisa chata. Queria conseguir ser de alguém e deixar de ser, em espaço de minutos. Menos coração e mais pele. Agora é assim, meu corpo todo boicotando o coração. Chega, né? Todo esse tempo e só fez besteira, meu filho. Vamos aproveitar que eu tô me desligando de algumas pessoas e vamos desligar você também. Uma vontade de ser menos, pra depois ser absurdamente mais. Recuperar as forças e gastar as energias. Menos certeza e mais arrependimentos, por que não? Já sei o fim das histórias antes delas começarem, e é aí que eu começo a pensar que, talvez, esteja na hora de virar a vida do avesso. Se eu me perder, se você me encontrar, antes de continuar andando, me dá um abraço. Só me segura pelo braço, se não for mais soltar.
Porque se quem a gente mais ama é quem a gente mais perdoa, sou o meu maior amor, sem dúvidas. Que bom. Quando tudo passa, me resta eu. Um pouco mudada, um pouco mais triste ou mais feliz, mais doce ou mais amarga. Mas sempre eu, sempre por mim e me basto.
Antigamente, quando eu queria saber se alguém tava amando, eu perguntava se ela tinha vontade de ficar com mais alguém. Se não tivesse, estava amando, eu concluía. Até que o amor percebeu minha inexperiência e resolveu me ensinar que é muito mais que isso. É você querer ficar com outra pessoa pra esquecer quem você ama e comparar cada gesto, sentir falta de cada defeito. É o pensamento monopolizado, o frio na barriga só de ver a foto. É se sentir ridícula ensaiando mil maneiras de parecer fria e, no fim, ser toda atenção e carinho do mundo. É perdoar, entender, se preocupar. Priorizar o outro e as prioridades dele, se doar sem pensar em reciprocidade. Amar alguém é se amar menos. Lindo, mas no momento eu quero meu amor só pra mim. Porque a vida também andou me ensinando, me fez entender que pra ter um amor saudável, é preciso um amor-próprio inabalável. Se não, dói. Então deixa eu me amar, deixa eu me recuperar, deixa eu parar de associar amor com dor. Aproveita e se ama também!
"Não basta me pedir pra ficar. É lindo, eu vou ficar ridiculamente feliz, mas e ai? Eu iria ficar pra que? Chorar? Não, obrigada. Quero mudanças, quero alguém disposto a me fazer feliz, quero mais ou nada."
Passo cada segundo do meu dia me jurando ser indiferente com você. Você fala comigo, eu cumpro a promessa. Você não entende, pergunta se eu tô chateada e o que aconteceu. Não foi nada. Só tô cansada de você, de nós, de tudo isso. Tô de partida, malas feitas, mesmo você não acreditando. Pra não me cansar mais ainda, paro no 'Não foi nada'. E você sai, irritado e com um "tchau" que eu odeio mais que tudo. Mas já não importa, tchau pra você também. Afinal, nada pode ser mais difícil do que ficar na situação que eu tô a tanto tempo. Ser indiferente vai ser fácil. Dor é normal, se não for forte, eu já nem sinto mais. Sempre te tratei melhor que todos os outros, e o que você faz que te torna melhor que eles? Seguindo essa lógica, teria o direito de te tratar até mal. Mas não sou assim, uma pena. Acontece que agora eu não dou mais o meu melhor pra quem me dá pouco. Não corro atrás de quem não dá um passo por mim. Não faço festa quando alguém que sabe que eu tô louca de saudades e não move um dedo pra me ver, vem numa droga de chat e fala "E ai". Te acostumei muito mal, mas agora vou desacostumar. Porque meu medo de ter perder, virou meu objetivo, então nada me prende. E se ir te matando aos poucos levar um pedaço de mim, que leve. Porque a dor de você na minha vida me afeta inteira e eu não aguento mais.
Eu juro que tentei fazer parte dessa tribo que não trabalha com sentimentos, que sai pelas noites curtindo a vida e sendo supostamente feliz. Só que me irrita essa gente que precisa de um litro de vodka pra dizer verdades, pra sorrir. Me incomoda essa felicidade engarrafada, esses sentimentos abafados, esses sorrisos forçados. Nem sempre eu tô feliz, mas sempre que tô sorrindo, é sincero, e é isso o que importa. Sou do tipo que não precisa provar nada pra ninguém, já que no fim das contas, só eu posso me fazer feliz. Sentir menos como precaução é válido, mas querer convencer o mundo e a si mesmo que não sente nada, é tolice. Se meu momento é de ficar no quarto, chorando e me recuperando, não vou pra balada tirar foto feliz. Não atropelo meu tempo, pra não morrer atropelada. Por mim tudo bem, você pode diminuir mais o vestido, aumentar o decote e comprar outro batom vermelho. Mas e por dentro, seu coração tá de salto também?
Passo cada segundo do meu dia me jurando ser indiferente com você. Você fala comigo, eu cumpro a promessa. Você não entende, pergunta se eu tô chateada e o que aconteceu. Não foi nada. Só tô cansada de você, de nós, de tudo isso. Tô de partida, malas feitas, mesmo você não acreditando.Pra não me cansar mais ainda, paro no 'Não foi nada'. E você sai, irritado e com um "tchau" que eu odeio mais que tudo. Mas já não importa, tchau pra você também. Afinal, nada pode ser mais difícil do que ficar na situação que eu tô a tanto tempo. Ser indiferente vai ser fácil. Dor é normal, se não for forte, eu já nem sinto mais. Sempre te tratei melhor que todos os outros, e o que você faz que te torna melhor que eles? Seguindo essa lógica, teria o direito de te tratar até mal. Mas não sou assim, uma pena. Acontece que agora eu não dou mais o meu melhor pra quem me dá pouco. Não corro atrás de quem não dá um passo por mim. Não faço festa quando alguém que sabe que eu tô louca de saudades e não move um dedo pra me ver, vem numa droga de chat e fala "E ai". Te acostumei muito mal, mas agora vou desacostumar. Porque meu medo de ter perder, virou meu objetivo, então nada me prende. E se ir te matando aos poucos levar um pedaço de mim, que leve. Porque a dor de você na minha vida me afeta inteira e eu não aguento mais.
Olha só a loucura: Vivo esperando pelo dia em que você vai passar por mim e me ver feliz, nem aí pra você, com outro cara bem melhor ou só comigo mesma, que sou uma companhia maravilhosa. Ao mesmo tempo só queria pedir arrego pro mundo, poder me despir de todo esse orgulho, ignorar meu amor-próprio e deitar no seu colo, pra encontrar em você o meu conforto pra tua ausência. Quando você me liga num fim de tarde, queria ir correndo e pedir por outros fins de tarde, quando você tiver tempo, quando você quiser. E me alimentar novamente das suas migalhas, sempre tão pouco que me faz sugar coisas de mim mesma, coisas que eu nem tenho pra dar. E eu me vejo tão completa e depois tão vazia, numa fração de segundos, assim que vejo suas costas indo. Indo e não sabendo quando elas vão voltar ou pra quem elas vão chegar até a volta pra mim. Queria te pedir, pelo amor de Deus, pra você parar de brincar assim, me testar, me esgotar. Pra você ir ou ficar, mas, por favor, não ficar indo e vindo. Não rouba minha paz assim. Daí eu lembro que amor não se implora, que consideração não é um favor que se pede, e preciso continuar sendo forte. Mil armaduras pra afastar você, querendo desesperadamente você por perto. Lembro que você quem fez tudo acabar assim, que você ainda tem muito que aprender e eu não tenho mais condições nem tempo de te ensinar. Então eu continuo andando, reto. Ouço sua voz e diminuo o passo, ainda te gosto tanto. Mas continuo reto. Um dia vou estar longe demais pra te ouvir. E é por isso que eu não paro. Que se dane nosso fim, meio, começo. Quero meu recomeço, e só.
Se você for silêncio, não haverá palavras ditas entre nós. Porque a única coisa que eu faço sozinha agora é ser feliz.
Tem gente que tem a sorte de ter quem ama por perto e ignora, se torna ausente por opção. Tem quem saiba dar valor e aproveita cada minuto. E tem eu, que daria tudo pra poder te ver mesmo que só nos fins de semana, mas a distância me faz dormir com a saudade no seu lugar. Que injusto quem se gosta não poder se ver, com tanta gente evitando pessoas por aí. Que triste um sentimento tão bonito, ir se perdendo, cansado e desgastado, pelos quilômetros que nos separam. Não tem como dar certo, você sabe, eu sei. Sua vida acontece por aí, a minha também não para, e uma hora elas vão se desencontrar de vez. Dói, mas a vida não é fácil, nem tudo acontece conforme a nossa vontade. É uma pena, penso nisso todo dia e peço a Deus que, se for da vontade Dele, se for realmente pra acontecer, nossas vidas se cruzem um dia e permaneçam cruzadas. Que essa distância geográfica vire um laço, nos unindo, como deve ser. Era só o que eu queria. Ou então que você seja feliz, da forma mais linda que puder, do jeito que você merece, ainda que sem mim do lado. Se eu não puder ser sua felicidade, que nossa história sempre viva na memória, como uma boa lembrança, daquelas que faz sorrir antes de dormir. Daquelas que nem o tempo, nem a distância destrói.
Fim é uma coisa muito complicada. Nosso compromisso acabou, digo, teoricamente falando. Mas nossa história mesmo tá longe do fim. Namoro não é estar em um relacionamento sério no facebook, amor é muito mais do que todas essas futilidades que as pessoas fazem tanta questão. Pra gente não ter fim, rompemos o compromisso e nos livramos do peso que ele traz junto. Essas expectativas, cobranças, essa dor por nada. A gente sempre foi mais que isso, sempre foi superior a essas coisas pequenas, gente pequena, ao mundo que nunca quis nos ver juntos. Mesmo separados, estamos juntos. Se isso não é amor, o que mais pode ser? O maior e mais bonito que já ouvi falar. E é por isso que dá medo. Medo disso tudo enfraquecer por causa de um status, medo da gente perder as forças contra quem não consegue ver a gente feliz. Medo da gente se perder na própria história, de um jeito que não dê pra se achar mais. Medo de, no fim das contas, perder o presente mais bonito que a vida me deu, porque quis mostrar pro mundo, não soube o tempo de guardar só pra mim.
Se você tivesse dado valor ao meu lado doce, tivesse me guardado, me poupado, me degustado como deveria ser, não precisaria ter que se acostumar com o sabor do meu lado amargo. Você quem me deixou fora da geladeira, estragou a gente. Que desperdício.
Te vejo todos os dias, com a mesma cara, mesmas conversinhas, o mesmo você de sempre. E você insiste em dizer que gosta de mim, que sou única, mas que o que você quer mesmo é ser solteiro, ter todas as outras, tão iguais. Como se me devesse uma explicação, satisfação. Tudo bem, divirta-se. Que você faça ótimo proveito das meninas sem sal, das cínicas, das biscates, das certinhas, de todas que puder, todas que quiser. Que seu copo de vodka esteja sempre cheio e que, na medida do possível, você consiga se sentir preenchido também por todas essas suas escolhas vazias, essa tua vida cheia de momentos, mas sem nada que permaneça no dia seguinte, mês seguinte. Não precisa me falar, como quem se desculpa, com vontade de me congelar enquanto você vive. Guarda tuas desculpas pra você mesmo no fim de toda essa sua diversão barata que você chama de vida. Eu sou única, nisso você tá certo. Mas também sou a única que você não vai poder ter mais, pra ser o que te resta depois de tudo, porque quando eu quis ficar pro dia seguinte, tive que ir embora. Não ando pra trás, não sou cama pra ressaca, não sou colo pra cansaço de falsa liberdade. Ou me escolhe, ou me perde. Não fico acampando, esperando o dia seguinte do fim da tua escolha triste. Sou única, não esquece.
Sou do tipo que quando decide alguma coisa, paga pra ver. Se for caro, tudo bem, porque tudo passa sempre. E se você escolher passar agora, tudo bem também. Eu escolho você, que fique claro. Mas se prefere ir embora, se cuida, não vou te pedir pra ficar.
Pra não morrer de saudade, sempre a matei. Sempre. Mas, estranho, isso nunca me fez sentir viva mais do que algumas horas, pelo contrário. Então decidi matar a esperança e viver em paz comigo. Resolvi simplificar pra mim. Justo, não? Num mundo egoísta, quem não aprende a se priorizar nunca vira prioridade. E, ainda que a saudade aperte muito forte uma hora ou outra, nunca vai fazer metade do estrago que é acreditar em algo ou alguém. Tá entendido, era isso, sempre matei errado.
Vou te contar, foi difícil. Precisei revirar minha vida, pra te transferir pro quartinho de empregada. Me mudei por completo, por fora, cabelo, unha, roupa. Por dentro, jeito, pensamentos, coração. Precisei de outros caras andando pela casa e me enjoando, até um dia, um deles me fazer rir. Como você nunca tinha feito. E depois outro e você foi deixando de fazer falta. Só não quero que você me culpe. Sou outra, porque você me transformou, porque foi preciso. A mesma ia continuar sendo sua, de corpo e alma presa num nada. Você nunca foi embora, mas também nunca ficou. Pensava em mim, mas nunca se importou de verdade, nunca se esforçou pra dar certo. Sua ausência já me feriu muito, me fez pensar que eu nunca ia conseguir de fato partir e aceitar uma ausência definitiva. Mas hoje já não me importa, porque tua presença não compensa os dias de espera. Porque seu telefonema não me dá frio na barriga e sua voz não me deixa mais sem chão. Eu fechei meus olhos pro mundo pra só enxergar você e fiquei cega por muito tempo. Mas depois de olhar o mundo de novo, você já não tem mais cor, não se destaca. E tudo isso foi culpa sua, obrigada. Tantos conselhos de amiga que eu engoli pra continuar de olhos fechados, mas é assim, não é? Era você quem tinha que me fazer desistir, mais ninguém. E tá feito, tô feliz, sou outra e sou minha. Aprendi contigo mais do que havia aprendido toda a minha vida, voltei a ser minha com a mesma intensidade que fui sua um dia. Precisei de mil textos sobre você, distribuir essa loucura em linhas e hoje, vim te encerrar com as mesmas linhas que te deram início, continuidade e, agora, fim.