Maquiavel
Pouca prudência pode induzir os homens a optar por coisas que de momento têm sabor agradável mas que internamente estão repletas de veneno.
É inevitável que um homem que queira sempre agir como boa pessoa em meio a tantos que não o são acabe por se arruinar.
O amor se mantém por um laço de obrigações, o qual, considerando-se que os homens são maus, é rompido toda vez que se apresenta a oportunidade de uma vantagem particular. O temor, diferentemente, é mantido pelo medo de ser castigado, o qual não te abandona jamais.
Os homens amam conforme sua vontade e teme conforme a do príncipe, um príncipe sábio deve se apoiar naquilo que depende de sua vontade e não naquilo que depende da vontade de outros.
Quem conspira não pode aturar isoladamente e só pode aliar-se àqueles que julga insatisfeitos. Mas no momento em que revelas as tuas intenções a alguém insatisfeito, dás a ele a oportunidade de se satisfazer, porque se te denunciar poderá esperar tudo o que é do seu agrado; de modo que, vendo um ganho certo deste lado e incertezas e perigos na conspiração, só permanecerá leal a ti se for um amigo extraordinário ou inimigo ferrenho do outro.
Deve dar pouca importância a conspirações quando conta com a simpatia do povo, porém, quando este lhe é hostil e o odeia, deve temer a tudo e a todos.
Deve confiar a outros os encargos melindrosos que provocam ressentimentos, reservando para si aqueles que atraem reconhecimento.
A melhor fortaleza que existe é não ser odiado pelo povo, pois mesmo que possuas fortalezas, se o povo lhe odiar, elas não te salvarão.
Em um conflito, aquele que não é amigo te solicitará a neutralidade, enquanto aquele que é te solicitará que tomes posição abertamente de armas nas mãos.
Quando abertamente se coloca a favor de alguém contra outra pessoa, é reconhecido como verdadeiro amigo e inimigo, opção que se revela sempre mais vantajosa que a neutralidade. Pois o vencedor não deseja amigos dúbios que deixam de apoiá-los nas adversidades, e o perdedor não te socorre porque não quiseste de armas em punho partilhar da sorte dele.
Se aquele a quem te uniste vencer, mesmo que seja poderoso e que fiques à sua mercê, ele se sentirá ligado a ti por uma obrigação e afeto; e os homens não são jamais tão desonestos a ponto de, com tal exemplo de ingratidão, te oprimirem. Mas se aquele a quem te uniste perde, serás amparado por ele, te ajudará enquanto puder e se tornará parceiro de uma sorte que pode ressurgir.
Deve tomar o cuidado de jamais se aliar a um outro mais poderoso que si para guerrear contra terceiros.Pois em caso de vitória ficará prisioneiro do aliado, e deve evitar sempre que possível estar a mercê de outros.
Nunca se pode tentar fugir de um inconveniente sem esbarrar em outro. Todavia, a prudência consiste em saber distinguir as qualidades dos inconvenientes e tomar o menos ruim por bom.
Deve reunir-se com o povo e dar exemplos pessoais de humanidade e generosidade, mantendo sempre firme a majestade e dignidade de sua posição, a qual não deve ser dispensada jamais, em circunstância nenhuma.
Há três tipos de cérebro: O excelente que compreende por si só, o bom que discerne aquilo que outros compreendem, e o inútil que não compreendem nem por si só e nem por intermédio de outros.
Quando percebes que seu conselheiro pensa mais em si do que em ti e que em todas as ações procura tirar proveito para si, saberás que tal pessoa não será jamais um bom conselheiro e jamais poderás nele confiar. E como príncipe por sua vez, deve pensar no conselheiro honrando-o, enriquecendo-o, assegurando sua gratidão, dando-lhe participação nas honras e responsabilidades, de maneira que ele se dê conta que não pode prescindir de ti e que a profusão de honras de que é beneficiário não o faz desejar mais honras, a profusão de riqueza não o faz almejar mais riquezas, e a grande quantidade de responsabilidades o faz temer as mudanças.
Deve conceder a poucos conselheiros a liberdade de se dirigir a ti dizendo a verdade e somente das coisas sobre as quias deles indagar e não outras; mas deve consultá-los acerca de tudo, ouvir suas opiniões e depois deliberar por si só e a seu modo.
Deve comportar-se de maneira que cada um destes conselheiros perceba que quanto mais livremente lhe dirigir a palavra, mais facilmente contarão com sua aceitação. Além deste não se deve ouvir mais ninguém, ater-se ao que decidiu e perseverar firmemente nessa sua deliberação, pois quando qualquer um puder dizer-te a verdade, te faltará ao respeito devido.
Deve aconselhar-se apenas quando queres e não quando outros o queiram; deve desencorajar todos de fornece-lhe conselhos se não os solicitados.
Os homens estão mais presos presos às coisas presentes do que às do passado; e quando nas presentes se encontram o bem, dele usufruem e não procuram dar importância ao passado.
Não se deve jamais deixar-se levar pela ideia de que alguém vai te amparar, o que ou não acontece, ou acontece ma sem te oferecer segurança por constituir uma proteção de pouco valor e não depender de ti. E as proteções somente são boas, seguras e duradouras quando dependem de ti próprio e de teu valor.