Manoel de Barros

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"...O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
- Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos.”

Eu não caminho para o fim, eu caminho para as origens.

"⁠Escrever o que não acontece é tarefa da poesia"

Menino do Mato

⁠"Eu gosto do absurdo divino das imagens."


Menino do Mato

⁠O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê... É preciso transver o mundo.

Manoel de Barros
Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996.

O tempo só anda de ida.

⁠Ando muito completo de vazios.

Manoel de Barros
O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Record, 2000.

Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.

Manoel de Barros
Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996.

Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.

O dia vai morrer aberto em mim.

Manoel de Barros
Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996.
Inserida por pensador

A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá
mas não pode medir os seus encantos.
A ciência não pode medir quantos cavalos de força existem
nos encantos de um sabiá.

Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.

Os sabiás divinam.

Manoel de Barros
Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996.

⁠Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças.

Manoel de Barros
Poesia completa. São Paulo: LeYa, 2010.

Nota: Trecho do poema Exercícios de ser criança.

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Lugar sem comportamento é o coração.⁠

⁠Escrevo porque sou obcecado pela palavra, tenho uma espécie de tara por ela.

Manoel de Barros
Pen, Marcelo. Retrato do artista quando coisa. Folha de S.Paulo, 10 nov. 2004.
Inserida por pensador

⁠A arte da poesia é o trabalho com a palavra.

Manoel de Barros
Pen, Marcelo. Retrato do artista quando coisa. Folha de S.Paulo, 10 nov. 2004.
Inserida por pensador

⁠O poeta é um sujeito que não sabe das coisas.

Manoel de Barros
Pen, Marcelo. Retrato do artista quando coisa. Folha de S.Paulo, 10 nov. 2004.

⁠A palavra oral não dá rascunho. Como não tenho a possibilidade de corrigir os erros cometidos na fala, fico descompensado. Dá-me a dor do erro, que advém do orgulho de querer falar apenas coisa que preste.

Manoel de Barros
Pen, Marcelo. Retrato do artista quando coisa. Folha de S.Paulo, 10 nov. 2004.
Inserida por pensador

⁠Poesia é a virtude do inútil. O inútil só serve para isso mesmo, para a poesia.

Manoel de Barros
Só dez por cento é mentira (2010).

⁠Poesia a gente não descreve, a gente descobre.

Manoel de Barros
Só dez por cento é mentira (2010).

⁠Tenho uma confissão: noventa por cento do que
escrevo é invenção; só dez por cento que é mentira.

Manoel de Barros
Meu quintal é maior do que o mundo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

Nota: Trecho do poema Autorretrato.

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⁠Poesia é armação de palavras com um canto dentro. Eu sempre armei os versos meus com as aflições e os êxtases do ser humano.

Manoel de Barros

Nota: Trecho de entrevista para o “Jornal do Brasil”, em 16/12/2006.