Malala Yousafzai
Aquele luto profundo é algo que as meninas sempre carregam consigo. A cada conquista importante, sua alegria é diminuída pelo trauma muito real que as trouxe aqui. Imagino que seja assim para todos os refugiados – o paradoxo de ser grato por uma nova vida que é resultado da dolorosa perda da vida antiga.
Eu diria que conheci pessoas que têm sido ótimas e espero encontrar alguém que me entenda, me respeite, me ame e cuide de mim.
As pessoas me falam: "Malala, não se preocupe, não é sua responsabilidade, os líderes é que deveriam se preocupar!". Mas se eu tenho a capacidade de fazer algo para continuar aumentando a conscientização, então eu vou fazê-lo.
Acho que antes de entrar na política você deve saber exatamente para o que está lá e com quem deseja trabalhar.
Por que o Talibã tem medo de você?
O Talibã tem medo porque sabe que, se as mulheres tiverem acesso à educação, serão capazes de exercer um papel ainda maior do que o que elas já têm na sociedade. Em geral, são as mulheres que cuidam das famílias. São elas que administram a casa, cuidam dos filhos. Com a educação apropriada, elas poderão ter ainda mais oportunidades. Isso assusta o Talibã. É uma visão muito ruim, porque o mundo precisa de igualdade. Se as mulheres, que são metade da população mundial, não tiverem acesso à educação, o mundo não se desenvolverá. O Talibã também desenvolveu um sistema próprio de leis, que não tem nada a ver com o Islã. O Islã nos diz que a educação e o conhecimento são direitos de todas as pessoas. Então, eu acho que o Talibã não leu o Corão da forma apropriada.
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Você disse que quer ser Primeira-Ministra do Paquistão. O que você faria nesse cargo?
Decidi que quero ser política porque a verdadeira política pode salvar todo um país. [...] Quero guiar o meu país pelo caminho certo. Vou transformar a educação na maior prioridade do Paquistão. Quero transformar o Paquistão em um país desenvolvido. Mostrarei às pessoas um Paquistão de paisagens maravilhosas, de pessoas incríveis, de recursos fantásticos.
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Hoje você vive na Inglaterra. É melhor ser menina na Inglaterra ou no Paquistão?
Na Inglaterra, as mulheres têm a oportunidade de descobrir quais são seus talentos. Toda mulher pode decidir o que quer fazer da vida e pode efetivamente realizar seus sonhos. No Paquistão, somos limitadas. Não temos a chance de identificar nossos talentos nem descobrir nossas habilidades. Só podemos ter filhos e cuidar de nossa família.
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Sua luta teria sido possível sem o apoio incondicional de seu pai (o pai de Malala fundou a escola em que a filha estudava no Paquistão, a Khushal School and College)?
Aprendi muito com o meu pai. Acho que eu poderia defender essa causa mesmo sem ele, mas não tão jovem. Talvez com 20, 30 anos. Mas o meu pai foi um exemplo para mim e eu fui educada. Eu aprendi pouco, mas pelo menos aprendi. Sou muito grata a ele por isso.
Eu decidi que não há nada de errado em se considerar feminista. Então, eu sou uma feminista e todas nós deveríamos ser feministas, porque feminismo é uma outra palavra para igualdade.