Maisha Mandisa
Louca
E
ERA
UM NEGÓCIO TODO DOIDO
ESTAR AO LADO
DAQUELA MOÇA...
ela ria com os olhos
e olhava com a boca...
o que tinha de realista,
tinha de barroca...
às vezes, barro... às vezes, oca...
um tanto fria,
quando queria,
mas um vulcão,
quando sem roupa...
uma desmesura
sua desnatureza
me beijou a boca
sobre sua mesa...
fico aos teus pés,
porque és doida...
+1 bju, por favor!
QUIMERA
Numa desordem completa
Uma querela o teu olhar
Uma desmesura tua paz
Tuas mãos me fazem desejar
...
Na mesa de quatro
Pés
Mãos
Lábios
Dedos
Nos
Atos
Insolentes
...
Teus
Dedos
A desalinhar
O meu vestido
...
Tua
Língua
A bagunçar
Os meus botões
...
Sete taças de vinho
Uma perfeição inevitável
Desajustando
Os meus sentidos
Sem desviar
Os meus agrados
...
Acordei
E pude sentir
O formato
Gosto
E desejo
Dos
Teus
Beijos
Nos
Meus
Lábios
A garrafa de café
Foi possível
ver em teus olhos castanhos
os meus olhos castanhos
como reflexo em águas cristalinas
lágrimas de um drama de família
olhei
vi
senti
gritei
ninguém pode ouvir minha voz, tuas mãos em meu pescoço me impediram a salvação...
senti
cada surra
cada queda da escada
toda desculpa suja
de meu sangue
em tuas mãos...
por vezes, a vontade de lhe enfiar uma faca no pescoço
foi maior do que ter um almoço em dia de muita fome...
e que monstro seria eu
se fizesse com um monstro o que ele merece???
vítima ou algoz ??
amor desenhado em agressão
tua ira contra minha vida
não me deixou continuar a respirar
e antes de você me fazer partir,
vi em minha mente minha vida se passar...
hoje, me livrei dos teus maus tratos,
não preciso mais sentir teu cigarro queimar minha pele
nem espero mais por tua entrada pela porta da frente
com sorriso pro mundo e ódio pra gente...
um dia, me prometeu sinceros afetos...
um mês depois, chutou o meu feto...
sangre
agonizei
sem socorro
e sem paz........
pedi ajuda
fiz denúncias
tomei minhas surras
e recebi uma medida protetiva
um papel que não nos impede de ser mais um índice de feminicídio....
faço parte de todas que não fazem parte das vivas...
que merda de vida que tive...
antes de você, aquela mulher ainda vive....
mas depois de você, nada foi mais assombroso do que aquela garrafa de café que visitou minha face por muitas vezes ...
e nas noites frias, podia escutar as gostas de café quente encostarem o fundo da xícara de porcelana que fazia homenagem ao homem da casa.
queria as mãos dos agressores despencassem antes de nos matarem.
Na poesia, tudo é possível!
Então, antes que me enfiasse a faca no peito e arremessasse a garrafa em meu rosto com sua outra mão, pude
ver em minha frente
tuas mãos caírem!
PS: diga não à agressão contra mulher, diga não ao feminicídio.
Encrespa
Conte a história que quiser...
mas basta ler o meu cabelo
para saber quem é
a resistência
a voz que clama
a mulher da guerra
a mulher que luta contra tudo e contra todos,
a que sangra e proclama...
a preta de passado incerto,
certamente mal contado!!!
cada fio do meu crespo
para cima
para os lados
para frente
para baixo
para o mundo ...
alisado,
cacheado,
crespo todo
entrançado
na tua frente...
uma história,
uma multidão de ancestralidade...
uma raiz...
um conto
contado erroneamente pela mão branca...
Porque incomoda
ver as pretas
assumirem
sua raiz
na história,
na cultura
na escola,
na tv,
na casa da sogra,
na elite,
na suite,
na boutique
e no seu friz
encrespando poesia na veia da sociedade!!!
Inverdades sem valor
E não era sério
quando dizia ser verdade!
E também não era lindo
quando dizia ter vontade!
Muito menos era sim
quando dizia não ser não!
E nem era ela
quando dizia que era a única!
era mais fácil dizer o que era,
mas se prefere sempre
dizer as inverdades
sem valor!
Sem deslizes
Teu olhar
há neblina
que inibe minha razão
e
tento apurar meus sentidos
mas
só
sinto
o corte que o vidro displicente
se ousou a fazer
em minha mão
não vejo com clareza
se caí ou me feri
mas e daí!?
quem liga?
tem até quem ensine como se deve fazer sem deixar o rastro...
sobre a tolha de mesa branca de crochê
g
o
t
a
s do meu B-
teus olhos
sem deslises,
ou qualquer ressentimento
fixos em meu olhar, com um prazer rasurador
e me pergunto: vítima ou algoz?!
e lá se vai mais uma queda da escada
mais uma queda da esfera
mais uma queda da circunferência da aliança
mais uma queda na estrada
mais uma queda na quina da pia
e lá se vem
o meu amor para sempre
que não sabe se é amor, ou ódio... ou ainda se é desejo em projetar a dor negativa sobre a pele da mulher que está no lado oposto da mesa...
e
lá se vai mais uma briga
mais uma queda
mais uma "querida"
lá se vai mais uma ameaça
lá se vem os degraus da escada...
lá se vem mais um grito de socorro.... SURDO,
MUDO e CEGO....
lá se tem um conto, um canto despoético...
era no teu afago que deveria estar,
mas o teu desafeto sempre está a se espalhar
nos teus afogos, me afogas
há fogo, há asco, há ódio,
há agressão atrás do sorriso matinal para o vizinho de bem.... sem deslizes, sem desdem, sem...sem...sem culpas...
por vezes, digo-lhe coisas de ódio, de ódio sim... mas de coração... asco... e sinto teu tesão em agir violentamente, como se tivesse cumprindo uma missão devota à misoginia...
MAS QUE AGONIA,
ESSA MANIA
que VOCÊ cria
noite e dia
DE NOS MATAR!!!
#DigaNãoàViolênciaContraAMulher
Beleza do dia
e quem
me dera
nessa tarde chuvosa
sob tua pupila
poder estar...
sob
teus
beijos
os meus beijar
e
sob
o azul do teu céu
agora sem gotas
ou chuviscos
escrever em tua pele
meu batom
cor rubi
enquanto
ouvimos
La Belle de Jour
com rimas
sem rimas
apenas
sobre
o castanho dos meus olhos
dos meus olhos, a menina...
imperando
a flor
do meu querer...
Ciranda de roda
Ouvi segredos sobre quela moça,
dançando com sua saia rodada
uma poesia no meio da praça
girando
girando
girando
sorrindo em sua ciranda...
derramando alegorias a cada piscar de olhos e poeira a se espalhar...
confetes e fetiches rodeando os olhos que a admiravam...
para aqui e apara lá...
cochichos aqui e ali....
a boca carnuda e rosada a chamar a atenção...
borboletas, me perdoem, mas ela faz voar inspiração...
tirou o moço de barba e chapéu de palha para dançar
e ele ficou todo dengoso
quando a moça se pôs a girar...
chegou o arrasta-pé
e a moça soltou suas mãos negras e lindas...
e sem olhar para trás,
puxou a menina de cachos rosados,
que admirava seu gingado há dias e risos...
e gira
e gira
e gira
menina doida, essa menina
vira criança sonhadora
quando na ciranda se solta,
roda, roda, roda aquela moça...
passarinhos que me mordam
e me perdoem logo em seguida,
se não resisto àquela moça...
deixando a cacheada rosa, chamou aquele moço,
tirado a emburrado, com a cara de entojo,
mas todo mundo sabia que era pura mascaria, no fim das contas
e da folia, era amor que ele tinha e sofria de desgosto...
mas, meu sinhô, minino doido... disse a menina a bailar...
não se apegue, nem se solte,
dance a ciranda e rode, que a menina gosta de um xote...
só dance
sem se amarrar
porque a doida por uma ciranda
gosta mesmo é de dançar.
Pessoinhas das Letras
Estudamos a história das palavras,
da sociedade que delas utiliza,
dos povos e suas conquistas...
Romanos...
Gregos....
África, índios e português no Brasil...
Literature-se, meu amor!
Poemifíque-se também!
Analisamos textos antigos....
fonéticas, fones, alofones e psius...
A última flor do Lácio já mudou tanto
que já é também português brasileiro...
E olha ali aquela gente
que tem um sotaque diferente do nosso...
dialetos dentro dos dialetos...
Influências e interferências
dos povos e sua cultura
nas letras que produzimos
com seus sons, morfologia
e organizações sintáticas...
Olha ali como ele usa bem do discurso,
mas eu acho o discurso daquela moça melhor....
Interpretação,
cognição...
pragmática...
mas e como adquirimos a linguagem?
os animais também falam?
eles têm língua ou linguagem?
a criança está falando "papai" quando fala /papa/,
ou só testando os sons de sua língua materna?
O que faz o profissional de Letras?
Ciência
Estudamos,
pesquisamos,
analisamos,
ensinamos
o que há na história da língua,
na sua realização discursiva,
sintática,
morfológica,
fonética...
A representação literária dos falantes...
Linguagem e pensamento....
Textos, pré-textos, pós-textos....
"A morte do autor"... "A morte do Leitor"...
"O Mundo de Antoine Compagnon"
Somos poesia concreta aos olhos do leitor...
Realismos, barroquismos, trovadorismos da língua.
Língua,
Cultura,
Literatura,
Letras puras...
vivemos no mundo das palavras...
e com licença poética,
que não me faltem letras
para poesia representar... <3
<Rotina>
Há
sempre
uma
mulher
violentada!
Há
sempre
uma
mulher
estuprada!
Há
sempre
uma
mulher
silenciada!
Há
sempre
mulher
louca!
Há
sempre
mais
um
número
do feminicídio!
Que essa rotina acabe!
Desafetos
era amor
até ele descobrir
que tinha certo gosto por agressão à mulher!
era lindo
até ele descobrir
que gostava de controlar minhas roupas
e me desmoralizar em meio às pessoas!
era carinho
até eu ter que cair das escadas
todos os dias que baixei na emergência!
desafetos,
violência,
feminicídio,
agressão psicológica, física e moral,
disfarçados de amor e proteção
encontramos em cada esquina,
no sorriso do vizinho,
no desenho da criança,
na boca partida da menina,
nos olhos da mulher e na tristeza da mãe!
Ela é poesia
Medo
Dia
Noite
Sim
Não
Talvez
Quero
Desquero
Coisas
Pessoas
----
----
ela é texto refeito,
rascunhos e beijos,
qualidades e mil defeitos,
uma tela pintada a óleo,
ela é notícia de jornal,
música de dia,
dança da noite,
ela quer,
ela vai,
pura nudez,
impura talvez,
ela é dúvidas insanas,
não diz que ama,
embora não negue,
se for descoberta.
Ela é poesia na ponta da tua língua.
Ela é segredos de um barco a vela.
?
Caí no teu laço,
ou te enlacei em mim?
Me deixei ser sua,
ou te deixei ser em mim?
Me fez bem,
ou te fiz bem
mais que a mim?
Te quis muito,
ou não quis tanto assim?
Pensa em mim muito,
ou não pensa tanto em mim?
Quanto aos beijos... não há duvida,
gosto dos seus...
Mas
Gostoso
mesmo
é quando
teus olhos
são minha plateia
com roupa
ou sem,
teus olhos
me bajulam
como única
e mais ninguém
e no canto
do teu sorriso
os meus seios
são seus
também...
mas só
se você sorrir!!!
Poema para você
nos versos
que te verso
tua versão
uma perfeição
imperfeita
imodelável
inacabável
conclusão
estrofes
prazerosas
inteligentes
fluidez
em tom tesão
uma boca
que boca!
tua boca
minha
boca
numa linha
uma canção...
um verso
sem linha escrita
para decifrar...
espaços em branco
para te pensar
te sentir
e te gostar
no arder
dos meus lábios
quando os meus
os teus se põem
a tocar
um desejo
em flor
se abre
nos versos
que te verso
para beijar...
inicio a minha estrofe
querendo te beijar,
para que no fim da tarde
em tuas mãos
eu possa estar,
se meu corpo for teu verso
em tua boca eu quero estar
ser teu palco
a céu aberto,
teu mistério a desvendar...
nessa coisa de ser verso,
eu só quero teu olhar
desejando minha pele
minha boca
sob o luar.
Poesia
escrevi
versos
eróticos
sobre o meu bem...
imortalizei
o seu beijar,
disse
o gosto bom
que o seu corpo tem...
descrevi seus mil jeitos
de em mim usar a língua...
e para que meu poema não tivesse fim,
terminei os versos quentes sem um ponto final,
tirei a roupa
e iniciei sua leitura.
é poesia que te faço...
você é a poesia que estou lendo...
E ....
nessa coisa de nós
gosto de ser sua confusão,
e
gosto de ter você
me bagunçando
nessa coisa
boa de nós.
Ela é uma prosa das boas!
ela é fácil com quem e quando quer ,
impõe limites, se necessário for ...
ela pode ser o quê quiser,
sentir amor, ou sentir asco,
piedade e também dor...
ela pode te querer hoje,
te querer amanhã,
e um dia, não te querer mais,
um dia talvez nada mais faça sentido...
e ela pode tudo isso
porque ela é livre,
presa a si e a mais ninguém...
o feminismo lhe permite a liberdade!
Às vezes,
a menina de sorriso fácil
cai na própria armadilha de ser ela,
e seu jeito agridoce de ser
lhe obriga a ficar consigo e mais ninguém!
uma prenda ou uma praga?
ninguém sabe! nem ela quer saber também!...
Tontura
ela é uma tontura de mulher!
tonteia a mente de quem a quer!
porque nunca dá a certeza constante
de o querer ser recíproco, se não quiser!