Luiz Roberto Bodstein
Cada um a seu nível, o homem erige monumentos, entalha frases em árvores, imprime sua pegada no cimento ou até escreve nas portas dos banheiros. Mas
o ponto comum é que todos buscam, de alguma forma, deixar a marca de sua passagem. O maior de todos os crimes é se omitir.
O sucesso deve ser um estado buscado mas nunca atingido, já que o maior dos problemas é satisfazer-se e parar de buscar.
É a incerteza do que virá que dá tempero à vida.
Se tudo fosse previsível não existiria a esperança.
Mesmo que se mostre impossível resgatar um amor que se perdeu no tempo, resgatar sua história e as saudades que dele ficaram nunca o será.
Mais importante é que as coisas sejam feitas pela consciência do que deve ser feito, independente de uma eventual compensação cósmica resultante.
A potência para a ação se expressa através da alegria. Entre o grau máximo e o mínimo, definido como tristeza, existe a esperança, como potencial de seguir em frente, e o medo, sua contrapartida para o não agir. Daí porque chamada paraliz...ação.
Existem dois tipos de erros: os de essência e os de percurso. Os de percurso podem acontecer até com alguma freqüência e produzir estragos significativos vez por outra, mas sua característica é a de ser percebido na fonte em algum momento, e abrir espaço para a necessária reparação. Erros de percurso enriquecem no momento em que se apresentam como referenciais de crescimento, além de oportunidades para resgate de marcos de partida, já que não são inerentes a quem os produz e suas seqüelas sempre se mostrarão reversíveis. Já os de essência não possuem esse potencial de transformação, repetindo-se de forma sistemática e perene, uma vez que integram a estrutura de seu produtor. Enquanto que os primeiros podem se transformar em maravilhosas oportunidades de recomeços maiores, a única forma de nos protegermos destes últimos é pelo distanciamento de sua fonte de origem. Tal atitude, em vez de se mostrar como capitulação diante de um desafio – ou de derrota frente à resistência para chegar-se à vitória – requer que seja vista como a mais inteligente das posturas por sua característica de empreitada inútil e sem a mínima chance de dar margem a avanços.
Na primeira vez que me sentir enganado posso estar sendo injusto. Na segunda pode ter havido uma coincidência. Mas na terceira vez a culpa é minha, e nada mais meritório do que mo terem imposto.
Não são ações radicais – ou grandes desatinos – que promovem mudanças definitivas. Um mundo mais justo se constrói pela cidadania levada aos pequenos atos de cada dia.
Pessoas iguais não se acrescentam. A discordância obriga o contrariado a pensar, e da reflexão é que se cresce.
Só canalhas de verdade não se sentem atingidos quando têm a sua honestidade questionada, já que “honra”, para eles, não passa de um mote para poderem alcançar seus reais objetivos.
Hoje você está cheio de verdades para despejar sobre o mundo; amanhã alguns estarão se perguntando se você aconteceu ou foi inventado; um dia muitos estarão duvidando que você tenha sequer existido.
O único lado meu em que me permito ser absolutamente radical é na minha resistência a ser arregimentado pelo radicalismo dos outros.
Por mais que os extremos insistam em me arrastar para suas respectivas trincheiras, é bom que saibam que minha cabeça estará sempre acima delas, e minha posição em relação à fronteira entre os territórios que se confrontam será sempre definida por cuidadosa análise dos fatos para uma escolha – sempre revisada – ditada pela minha consciência. Eventualmente me distancio, mas sempre a resgato! Não gastem comigo, portanto, mais energia do que a necessária, pois que a força maior a me mover será a que me garanta o retorno ao meu “greenwich” entre os hemisférios.
Em meio às milhares de respostas e interpretações de toda ordem eu me descubro cada vez mais mergulhado em perguntas, diante da consciência de que nada é mais ilusório do que acreditar que compreendemos todas as facetas da realidade que nos rodeia.
Concluí que o mundo se divide em apenas duas classes de pessoas: as confiáveis e as não confiáveis. Estas últimas irão passar a maior parte de suas vidas convencendo um monte de gente de que são ótimas, e as primeiras até cometendo erros em incontáveis momentos. Contudo, a única certeza é a de que a rasteira levada de uma é questão de tempo, e as confiáveis, por mais que errem, estarão permanentemente atentas para que seus erros não atinjam ninguém à sua volta.
Não consigo me descrever como um desses homens de “convicções fortes”. Parece-me algo que não admite reformulação... E a única coisa sobre a qual tenho certeza absoluta na minha vida é da minha vontade de me redescobrir.
Uma coisa de que nunca me envergonho é revelar que não sei nada sobre alguma coisa, mas a que jamais me assusta é a de encarar o desafio de um dia dominar tal conhecimento.
Poucas coisas fazem que eu me irrite mais comigo mesmo do que quando compartilho informações minhas com pessoas que em seguida as usam contra mim, seja desvinculando-as do contexto em que aconteceram ou por uma cabeça pequena demais para entendê-las. É quando me descubro medíocre por não ter percebido antes sua mediocridade, de forma a não cometer tal estupidez.
As pessoas que se sabem importantes na minha vida com certeza não estarão buscando nos meus espaços de contato mensagens alusivas ao “dia do amigo”. Acostumados que estão com meu pensar, entendem a ênfase que coloco nas posturas de essência do cotidiano se sobrepondo às manifestações ditadas pelos apelos pontuais de uma data pré-determinada. E justamente por me saberem livre do hábito de “panfletar” tais mensagens, quando algumas lhes chegam de surpresa – e da forma como me brotam – percebem que os sentimentos acumulados se fizeram superiores à minha capacidade de contê-las no íntimo, quando então simplesmente “eclodem”, buscando o caminho que as leve até eles. Dessa forma seguimos juntos em nosso permanente calendário de trocas sem datas marcadas.
Olhando pelo retrovisor de minha vida percebo que, diferentemente da maioria, nunca cultivei o hábito de buscar amparo na Força Superior para os meus momentos de angústia, escolhendo descobrir minha própria força para superá-los. Em contrapartida, todos os instantes de realização vêm acompanhados de uma mágica sensação de plenitude, como se invadido por uma estranha e, ao mesmo tempo, familiar presença divina, que transborda do meu íntimo na forma de um incomensurável agradecimento àquela Força que a enviou.
Se, em meu diálogo com meu Deus interno, ouvisse dele que, por algum mérito, eu teria direito a uma graça, vêm-me à consciência ter recebido muito mais créditos do que débitos em toda a história escrita até aqui, não havendo nada mais a pedir. Assim sendo, a única coisa que ainda me restaria esperar seria um último momento sereno, entendendo isso como livre de sofrimento para mim a para os que deixo ao transpor meu portal. Mas sou capaz de assimilar que pelo entendimento de Deus essa serenidade se apresente de uma forma diferente da que concebi.
Não aceito ser chamado a ocupar trincheiras onde cada uma das partes quer me fazer acreditar que só existam mocinhos de um lado e vilões do outro. Tal percepção tendenciosa turva a visão sistêmica necessária a uma análise justa e nos arrasta para o radicalismo dos dois extremos, independente de qual se acredita o lado certo.
Todas as vezes em que me sinto no meio de um tiroteio de versões que partem de todos os lados vêm-me à consciência que não estive lá para conferir, e nem no coração dos envolvidos para julgá-los. A porta de saída é me lembrar que, para quem acredita, nenhum argumento é necessário, e para quem não acredita nenhuma evidência é suficiente. Esse entendimento me tira do sofrimento da batalha e me devolve a paz da solidariedade à parte injustiçada, mas sem armas na mão.