Luiz Carlos Guglielmetti
Reciprocidade
Se tiver interesse:
manifeste, expresse, demonstre,
com um olhar, gesto ou palavras,
com carinho, afeto e respeito.
Se tiver interesse:
aceite, retribua, demonstre,
como o reflexo de um espelho.
Se existir calor
ou rolar uma química,
se vale a pena seguir juntos,
descubram, sozinhos,
o que mantém viva a chama,
que sustenta o relacionamento.
Mas, não há de ser outra coisa,
senão o espelho que reflete
o olhar, os gestos e atitudes,
manifeste, retribua, não se isole.
Se vale a pena,
se ainda tem brasa,
se ainda tem cinzas,
falta apenas um sopro.
Pra recomeçar,
basta voltar ao início,
manifeste, demonstre,
com o mesmo olhar,
com o mesmo desejo,
que a vida continua.
Não deve haver satisfação alguma no fim, nem mesmo pela possibilidade de um novo recomeço. O fim é algo lamentável, como a morte de um sonho, e não deve haver orgulho em colecionarmos esqueletos, dentro ou fora do armário.
Reconhecemos o fracasso, sucumbimos ao egoísmo, ao individualismo e não fomos humildes o suficiente para cedermos, para descermos de um falso pedestal que nos coloca acima do outro, quando somos exatamente iguais, todos sujeitos aos mesmos erros e paixões.
A família é a célula que estrutura a sociedade, não o casamento. Este é uma instituição legal, um contrato de sociedade humana, regulado pelo estado. A família é a união verdadeira, motivada por interesses reais, muito além das paixões passageiras. O dever de casamento é uma imposição cultural ou religiosa, mas está mais do que provado que contrato, verbal ou escrito, não sustenta um relacionamento.
As Escrituras Sagradas representam um conjunto de livros apócrifos, escritos, traduzidos e mantidos mediante reprodução por cópia, por homens e, portanto, está sujeita a erros de tradução e interpretação. A fé é que dá à Bíblia uma condição de sacra, permitindo que seja interpretada como revelada por Deus. A fé tem esse dom incrível de permitir um elo entre a realidade humana e a divindade, imaginária ou não.
Um país sem terremoto, furação, maremoto, avalanche ou tsunami, tinha que ter os políticos que tem, afinal não existe lugar perfeito.
As nossas crenças precisam ser individuais e privativas e não apenas socioculturais. É preciso crer com ceticismo, porque em tudo temos descrença e desconfiança, do contrário aceitaremos os falsos milagres, as falsas profecias e os falsos profetas.
Não creio em um Deus que esteja à nossa disposição para fazer tudo o que queremos, em troca de pagamento aos seus pretensos representantes. Se Deus existe, só ha um lugar onde ele possa estar e é dentro dos nossos corações.
Todos buscamos uma poesia mas não a perfeição, porque ela não existe, desejamos apenas a verdade, reconhecendo que cada um tem suas próprias limitações, renúncias e sacrifícios, suas inseguranças e medos. Em outras palavras, pretendemos encontrar alguém, ainda que não seja perfeito, mas que seja verdadeiro.
Como eu faço para ver o “big bang” ou a grande explosão que teria dado origem ao universo? Na ciência não se admite a crença: uma experiência precisa ser provada em qualquer tempo ou lugar.
A maior liberdade é deixar as pessoas livres como as borboletas, para ir e vir e, um dia, quem sabe, vir para ficar.
O meu desafio de vida é fazer uma mulher voar, ao deixar o chão das suas certezas e inseguranças, abdicar dos seus medos e receios e deixar a sua alma vagar pelo espaço, ainda que por alguns pequenos momentos.
Onde reina o mais absoluto silêncio não cabem mais flores, perdão, homenagens ou agradecimentos. Onde tem vida, tem barulho, tem críticas e contradições e é lá que cabe toda a nossa gratidão.
Gostar e amar
Gostar está associado a um desejo, em geral um objeto, e esse desejo, em relação a esse objeto, se esgota com a sua realização. Amar está associado a uma pessoa e é um sentimento perene, que não se exaure com a realização do desejo.
Ao contrário da poesia, amor não é fogo nem paixão que arde, mas sentimento sublime que se perpetua no tempo e no espaço. Paixão é o desejo que arde e como fogo, se apaga, tão rápido quando a satisfação do desejo, que nunca acaba, apenas muda de um objeto para outro.
Tudo o que você lê no mundo exterior são informações, a verdade só vai existir dentro de você, quando for capaz de processá-las, transformando-as em conhecimento.
Ao contrário da poesia, amor não é fogo nem paixão que arde, mas sentimento sublime que se perpetua no tempo e no espaço.
Se deixarmos de lado a discussão da fé e a religiosidade, poderemos observar que as igrejas prestam algum tipo de serviço social, como outras entidades sem fins lucrativos e clubes associativos. A construção do local de reunião e a contribuição para manutenção das suas atividades básicas não representam um desperdício, ao contrário da remuneração dos dirigentes, isso sim é jogar dinheiro pelo ralo. As igrejas se tornaram um negócio lucrativo, com a mercantilização da fé. Mas nem pense em mudar isso, essa praga já se alastrou por todo canto e tem raízes em todos os poderes. A liberdade de culto e de expressão tem um preço, e muitas entidades religiosas, antes sem fins lucrativos, agora não passam de empresas geridas por alguns gatos pingados.
O amor, às vezes, pode ferir, mas é na dificuldade que esse sentimento nos mantém vivos. O amor sobrevive nas lembranças, ainda que o coração sofra, ainda que o tempo passe e os olhos teimem em irrigar-nos a face.
A fé individual e a sua intermediação
A fé é um conceito individual e não é possível imaginar a convivência pacífica entre os povos e entre as pessoas, sem respeitar a crença de cada um.
É preciso crer, segundo a fé individual, na superação dos limites, na valorização da família, na produção do conhecimento através da formação, e na geração de riqueza através do trabalho.
Querer que todos tenham as mesmas crenças é o mesmo que desejar extirpar a raça humana. Cada um crê naquilo que julga conveniente e isso tem muito a ver com a formação cultural.
O erro não está na fé em si mesma, mas no abuso dela, através da sua mercantilização. O crime, e não ha outra palavra para definir isso, é abusar da fé alheia, cobrando por um serviço de intermediação que não existe, vendendo promessas vazias ou poesias mal feitas.
A morte é a perda da fé e da esperança e a vida é o reencontro delas: Qualquer um pode reviver depois de morto, depois de perder a fé e a esperança. Nós podemos alimentar a fé ou o medo, se escolhermos a fé, o medo haverá de perecer.
Há quem diga que Deus não precisa de nada, apenas do homem, para existir. O homem, por sua vez, precisa de tudo: até os ateus, os céticos e os hipócritas precisam de Deus para sobreviver, apenas não tem consciência disso.
O mal de qualquer grupo: seja de ateus, céticos, crentes, fanáticos ou hipócritas é querer convencer os outros, pela força. Pouco importa se existe céu ou inferno, se existe outra vida além dessa. O que importa é que se Deus existe, só pode ser dentro do coração do indivíduo. E isso precisa ser respeitado. Se os ateus querem ser respeitados, que respeitem aqueles que acreditam. E aos que exploram estes ou aqueles, o nosso repúdio e desrespeito.
A crença ou fé não deixa de ser uma abstração da realidade. A falta delas, talvez seja um realismo absoluto, mas torna a vida sem sentido. É uma música sem melodia, sem poesia.
Amor é como fogo morto, não se pode juntar as brasas, nem soprar as cinzas, sob o risco de incandescer.