Lucas Silveira
Se a gente entendesse que há um ciclo no amor, começa pela cura mas termina com a dor, a nossa cama pra sempre estaria vazia.
Venho aqui falar de uma grande batalha,
A batalha que ocorre em minha mente,
Cujo prêmio é você.
De um lado, há soldados que veneram a razão,
Do outro, soldados que querem te amar a qualquer preço.
Talvez quando isso acabar já não exista mais você para mim
Ou eu para você.
Sei que sua presença já não posso ter,
Nem seu aroma peculiar,
Minha boca tem sede dos teus frutosos lábios.
Mas meu amor, saiba que ainda te vivo,
Em meus sonhos, poesias e canções.
Você, exímia professora nas artes do amor,
me dê uma solução para essa minha dor.
Como hei de quebrar essa barreira invisível,
Que não deixa você me pertençer?
O amor será capaz de vencer a razão,
Enfim?
Saudade não é ausência. É a presença, é tentar viver no presente. É a cama ainda desarrumada, o par de copos ao lado da garrafa de vinho, é a escova de dentes ao lado da sua. Saudades são todas as coisas que estão lá para nos dizer que não, a pessoa não foi embora. Muito pelo contrário: ela ficou, e de lá não sai. A ausência ocupa espaço, ocupa tempo, ocupa a cabeça, até demais. E faz com que a gente invente coisas, nos leva para tão próximo da total loucura quanto é permitido, para alguém em cujo prontuário se lê “sadio”. Ela faz a gente realmente acreditar que enlouquecemos. Ela nos deixa de cama, mesmo quando estamos fazendo todas as coisas do mundo. Todas e ao mesmo tempo. É o transtorno intermitente e perene de implorar por ‘um pouco mais’.
A gente briga pra ter paz, chora porque precisa sorrir, fecha os olhos pra ver melhor. Vive-se para amar. Ama-se pra viver.
É justamente lá no meio do nada, embrenhado naquele silêncio, que parece que corta a gente ao meio, que só lá que a gente consegue ter na nossa cabeça, finalmente, aquela clareza que a gente tanto procurava sem saber.
A gente briga pra ter paz. A gente chora pra poder sorrir. A gente grita as vezes porque a gente quer que as pessoas ouçam o que a gente canta. A gente vive pelos que se foram, a gente morre pelos que ainda estão aqui.
"Então, sério, se tu faz alguma coisa, se tu ama fazer alguma coisa. Faz com vontade, e jamais pare de fazer isso. E jamais desista disso."
“Então vamos sair pra caminhar. É tanta coisa que eu tenho pra contar. E não existe, no mundo outro lugar melhor do que ao seu lado pra eu ficar.”
Sobre amor e libélulas
Um dia desses estava escorado na janela de um hotel qualquer quando uma libélula pousou a poucos centímetros do meu braço. Na hora, eu não sabia ao certo se aquilo era uma libélula, ou uma cigarra, ou um inseto gigante qualquer. Nunca soube, e os poucos segundos que perdi tentando classificar o bicho foram suficientes para que ele sumisse. Bateu asas e escafedeu-se entre as árvores.
Eu tenho uma ligação especial com libélulas. Foi correndo atrás de uma que eu me estabaquei no chão, fraturando uma costela, perfurando o baço e sofrendo uma hemorragia interna que por pouco não me matou. Tinha cinco anos e, desde então, convivo com uma cicatriz que me atravessa o abdome, lado a lado. Tudo que eu queria era vê-la de perto, justamente para me certificar se o bicho em questão era cigarra, libélula ou “seja-lá-o-que-fosse”.
Se a necessidade de classificar uma libélula me rendeu duas semanas de internação, imagino o que me aconteceria se eu ficasse tentando classificar meus sentimentos. Inclusive, me cansa ver por todo lado gente tentando diferenciar um sentimento do outro. Se é amor, amizade, namoro, rolo, beijo, ficada, passatempo… Não tenho a mínima idéia, e nem quero ter! São inúmeras as espécies de relacionamento e a tentativa de classificar a todo minuto algo que, ás vezes, é simplesmente inclassificável pode resultar em muito mais do que um baço perfurado.
Ás vezes, perdemos a noção de que cada minuto da nossa vida pode ser o derradeiro, de que cada ligação telefônica pode ser a última, bem como aquela pessoa, de quem você ainda não sabe se gosta, pode ser o seu último romance.
Lulu Santos pediu, a gente obedece:
“Hoje o tempo voa, amor
E escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
E não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo que há pra viver
Vamos nos permitir!”
O amor é uma libélula que pousa na nossa janela pouquíssimas vezes. Corra atrás da sua libélula, sem medo de se machucar. Viva o seu romance. Viva o seu último romance.
Você diz que não precisa de ninguém pra ser feliz. Você diz que cansou de acreditar, e de se decepcionar. Você diz, inclusive, que procurar é pros românticos bestas, pros ingênuos e pros alienados. Você se esquece que te foram dados dois braços justamente para que você tenha como carregar o escudo e a espada. Então o que é que você faz com dois escudos? E por quê essa armadura envolve teu corpo, e esse muro envolve tua casa?
Saia para caminhar comigo e sinta o peso dos seus dois escudos. Tente equilibrar-se, lutando contra o forte vento que te quer levar com ele para onde quer que seja. Eu caminhei por tanto tempo com escudos iguais aos teus que, hoje, livre, meus passos são (des)cuidadosamente rápidos. Eu demorei, mas consegui me despir da armadura e me desprover dos escudos. Hoje eu aposto comigo mesmo quantos passos eu consigo dar com os olhos fechados. Isso me instiga. Na verdade, eu adoraria, de olhos fechados, me espatifar contra o teu muro. Já tentei uma vez, sim, aquela vez em que tomei uma rasteira. Mas vou tentar de novo e de novo, até que teu sono seja abruptamente interrompido pelo quebrar de meus ossos. E não vai ser só a sua armadura que eu vou tirar.
Eu sempre volto, mesmo quando a minha autoestima implora para que eu espere por um sinal teu. Teus sinais foram dados; nós é que falamos línguas diferentes, quando o assunto é sentir e expressar.
Nem liga, guria
Se eu já não sei disfarçar
Se eu já cansei de esconder
O que era fácil de achar
Nem liga, guria
Se nos meus olhos não há mais,
O brilho de quem vivia
Com o coração em paz
Se a gente já soubesse como vai ser a viagem
Antes mesmo de comprar nossa passagem
A gente já virava pro outro lado e dormia, tão só
Se a gente entendesse que há um ciclo no amor
Começa com a cura, mas termina com a dor
A nossa cama pra sempre estaria vazia
Nem liga, guria
Se a minha voz acabar
Sei que tu já me sacou, sem eu precisar falar
Nem liga, guria
Não vou poder te atender
Tô encontrando em minha vida um canto só pra você
Se a gente já soubesse como vai ser a viagem
Não perderia tanto tempo com bobagem
E o meu peito poderia muito bem ser a tua moradia
Eu finjo que acredito no que dizem sobre o amor
Eu finjo que é eterno, mas te peço por favor
Esquece tudo e vem passar comigo essa madrugada tão fria
Vê se não fica assustada quando eu digo
Eu nunca fui daqueles que fazem sentido
Tô em São Paulo, aqui o céu nunca é azul
Eu tô aqui cantando um samba com sotaque do sul
Amanheceu e eu deveria estar dormindo
Mas estes versos são palavras explodindo
E no teu colo um dia elas vão cair
E aonde isso vai dar, não cabe a nós decidir.
E são raríssimos os momentos em que estou tão sozinho a ponto de ouvir meus batimentos cardíacos. Basta fechar os olhos. É na escuridão que eu tento encontrar tudo aquilo que eu perdi achando que, ao te encontrar, eu não precisaria de mais nada. É na mesma escuridão que eu tento te ajudar.
Podem me derrubar, mas quantas vezes for preciso, eu vou me levantar novamente. Podem me matar, eu vou nascer ainda mais forte, no segundo seguinte, antes mesmo de que eles possam comemorar meu último suspiro. E essa volta não vai ser apenas forte, vai ser avassaladora, e vai ser apenas páreo para a feiura da cara de susto daqueles que duvidavam de que eu seria capaz.
É quando chegamos ao eterno agora: eu, astronave desconhecida, sem combustível, destino, nem coordenadas para voltar, pedindo permissão para pouso
Me corrói as entranhas cogitar a hipótese de que talvez jamais tenha, de fato, existido aquilo que tenho procurado.
As verdades mudam, e as tuas o fazem numa velocidade que acredito que ninguém seja capaz de acompanhar.