Lua Barros
O tempo, ah, o breve tempo.
A arte, ah, a belíssima arte.
O tempo
Ding-dong, ding...
O que tu fizeste ontem?
O que irás fazer hoje?
Arte de viver?
Arte de sonhar?
Arte de se reinventar?
Arte...
Arte...
Arte, apenas a arte de se movimentar.
Entre tantas mil pessoas,
Ser diferente:
No olhar.
No andar.
No falar.
Ser diferente:
No sentir.
No sorrir.
No se permitir.
O tempo, breve como o vento.
Breve como um piscar de olhos,
Ao mesmo tempo
Infinito, infinito para aqueles que conseguem conduzir - se junto à ele
Com a imensa arte de ser feliz.
Fogo cruzado
Anoiteceu
E na boca da favela
O pequeno grupo dos moleques se reúnem
Mães dobram os joelhos
Diante da imagem do santo
Invoca o nome do Deus Pai
Aguardando a volta
Do filósofo do morro
O bagulho na boca
Os olhos fixos na outra dimensão
Pra fugir da realidade desse mundo cão
A metralhadora na mão
Daquele que não parcela no cartão
O filho da mãe
Pede perdão
E um outro bagulho na mão
Não paga a dívida não
Eles querem reembolso
Do bagulho que venderam
Na bocada do Mato Grosso
E tem Pedro de 14
Tem João de 16
Os menor não trabalha não,
Aprenderam desde cedo
Que o sistema não é esse não.
Não quis enriquecer os truta de terno
Ajudou o irmão lá dentro do inferno
Pra ser apunhalado sem dó nem piedade
E ele morreu dizendo: - "eu faria tudo outra vez pra não viver essa dura realidade. Mãe, fé em Deus".
Na multidão encontrei
A única boca que me fez triunfar
Aquela a qual eu quisesse beijar
Novamente? Sim.
Não te calas
Quando chamo
Não finge que não sente
Quando sente e tem medo
Perdoa esse meu jeito
Meio torto e louco
E não desiste
Do que estar por vir.
Em ti me agrada
Cada fio branco
Tua melanina
Os óculos de uma mulher sábia
As marcas que estão em ti
De um caminho de muitas batalhas vencidas
Marcas de dor
Sofrimento
Mas principalmente marcas de um lindíssimo caminho de muito amor
Tuas primaveras
Se completam
E todos os corações se alegram
Tua delicadeza é permanente em cada toque seu.
Tua lesura é bonita de se ver
Não existe pressa no seu roteiro de vida
O cuidado que existe dentro de você
Com cada palavra
É simples
É mulher
É Sebastiana.
Quando tua língua suave
tocou minha feminilidade
senti arder como chama acessa
tremer em tuas mãos foi único
me perdi no céu da libido
atravessei o oceano das sensações
e pra ser sincera amor
em um outro tal momento
pretendo repetir a dose.
Para/ George Henrique Bastos.
Sozinho
Já estive no meio da multidão onde muitos diziam – se irmãos, onde mais existia amor foi onde senti uma das piores dores. “Eis que com o ferro fere com o ferro serás ferido”, fere o coração, fere à alma.
Sempre ouvi que é impossível ser feliz sozinho, que a vida é sempre cor de cinza quando não temos alguém para dividir alguns momentos em bons dias.
Sim, já estive acompanhado de pessoas agradáveis, desagradáveis, parceiros leais e desleais, a busca de nunca se sentir sozinho me fez engolir muita coisa a seco, no entanto, sempre fui desses que se entrega a fundo se for para amar por completo, ou até decepcionar-se por inteiro.
Estar sozinho consigo faz parte, parte de um autoconhecimento, e por mais que seja tão angustiante e solitário, de fato ser sozinho não nos traz nenhuma felicidade, mas um desafio de conviver com nossas próprias virtudes e defeitos. Ser sozinho não é uma escolha, afinal, ninguém quer estar sozinho nos momentos de frio, de indecisão, de calor humano.
Viver sozinho pode ser uma consequência dos rumos que a vida nos leva, isso faz com que cometamos alguns deslizes que pode nos custar caro.
Muitos dizem que é bom estar só, outros já pensam o contrário, e são tantas afirmações que chega a ser difícil se encaixar em uma delas.
Volto para dentro de mim e me olho sem embaraços, ás vezes o que vejo não agrada o outro, o que vejo no outro não me agrada, e vivendo eu consigo mesmo não corro o risco de ser desagradável.
E como já disse, estive na companhia de vários, e hoje tenho estampado na pele a traição de muitos.
Sei que dói estrar sozinho
Dói mais ainda estar na companhia de quem nunca teve paz.
Dói ser frio
Dóis mais ainda entregar-se por completo a quem nunca esteve inteiro
Dói ser alegre
Dói mais ainda quando doamos um sorriso a quem não sabe recebê-lo
E por mais que doa tudo isso, o que dói mesmo é comparar- se a quem não deve.
A cada dia sobrevivo com meus cigarros e minhas besteiras.
Poema Excêntrico I
Talvez tu cigano da meia noite não sentiu o tempo passar
Cantarolava noite e dia sem parar
Embora sejas tu um belíssimo sabiá
O tempo parece não esperar
Ó Poeta adornado, embora hajas calado
Uns são anjos outros palhaços
E é difícil inventar-te um oficio
É que desde o início tu és um mistério sem destrincho
Que o vento sempre traga o aroma dos teus cabelos para embriagar as rosas do campo
O lírio das tuas expressões mostra-me a lisura nos teus atos
Te fotografei
Te ponho no retrato.
Poema Excêntrico II
Não temas a rapidez do tempo
Este não tem rédeas
E quase sempre é pontual
Embora a velhice se aproxime
A juventude permanece sem rumo
No paralelo dimensional.
Poema Excêntrico III
Permaneças firme que o desiderato serás alcançado
Desenhe cada traço do mapa que será usado
E busque sempre a sombra
Pois do teu brilho ela precisa, sereno.
Poema Excêntrico IV
Tu viras noites como o dia que escurece e amanhece
Leva uma vida de boêmio com sutileza
É de um exato sorriso
Mas de um olhar incógnito
É contraditório se dizer ínfimo quando se és grande
És um macho tímido
Alvo como luz que reluz na escuridão
Não, teu cabelo não assusta
E tua conduta é tão pura
Que não há medo de aproximação
Tu és de mistérios absurdos
De um olhar vivo para o mundo
Talvez tua timidez de não insistir em pequenas coisas ou grandes
Seja medo de alcançar o inalcançável
É que de fato és raro o ínfimo se tornar visível.
Retrato II – Poema escrito em considerações ao Poema RETRATO de CECÍLIA MEIRELES
Eu era assim, como você
E nunca me vi tão longe do que já fui antes
Do que sou agora
Diga-me o que aconteceu com o tom
Do meu cabelo, da minha pele
A cor dos meus olhos já se apagara
Onde eu estava que não enxerguei essas mudanças?
Porque tive eu de fugir para não ver tais marcas?
Já me chamam de Senhora e me sinto tão invisível
Ao mesmo tempo que me vejo tão presente.
Como posso ter mudado tanto
E não ter morrido como sempre desejei
No memento instante, no tempo ausente.
Encanto
Presenciar tal beleza me arrepia dos pés à cabeça
Um olhar que parece me chamar para atravessar oceanos
Um sorriso turbulento
Ao mesmo tempo meigo, claro e lento
E esses cabelos enrolados que o vento conduz para a pista de dança
Sem se preocupar com o tempo
Nunca avistei nada igual
E encontrei no acaso aquele que fará da minha vida
Um eterno carnaval.
Leve e Quente –
Teus seios quente
Tua pele roçando a minha
Me deixa sem equilíbrio
Como é erógeno a curva das tuas nádegas
E me arrepia a alma
Passar a minha língua
Sob teu corpo
Venha minha amada
Deite-se ao lado daquele que treme de desejo
Ao avistar seu corpo despido
Renda-se ao nosso prazer
Como é celestial tocar-te
Firme, forte e com paixão.
Olhando para o céu
Volto-me sempre para dentro de mim
Tento olhar-me claramente
Sem embaraços
Às vezes o que eu vejo
Não agrada o outro
O que vejo no outro
Não me agrada
E estando sozinho
Não corro o risco de ser desagradável
Que vire pó- Poema escrito sob considerações da música MINHA MORTE de RAUL SEIXAS
Que vire pó e o vento leve
Toda mágoa, toda tristeza, toda dor
Que vire cinzas no cinzeiro
E o vento leve
Toda doença, toda fonte de morte
O câncer instalado na alma
Que vire poeira
E o vento leve
Toda mentira que nos cega
Toda gente que nos odeia
O mau olhado alheio
E que o pó levado
Alimente o vício de algum homem
Que como eu já experimentei do mais puro
Que as cinzas sejam queimadas
Depois de roubar a vida
Do homem que não conseguiu apagar o cigarro no cinzeiro
E toda essa poeira
Seja levada ao fundo do mar
Para guardar em segredo os altos e baixos
Que a vida nos dá.
RASO
Você fala em cortar o mal pela raiz
Fala em desatar nós
Cortar laços, relações
Virar o rosto, ver defeitos
Falar do outro
Fala que não se importa
Mas se ver uma porta aberta, qualquer brecha, quer logo entrar.
Aponta o erro alheio
E se diz sempre acertar
Aquela pequena pedra no meio do caminho
Virou muralha a te incomodar
Mas tente ir mais fundo
E gaste tempo com coisas grandes
Deixe de alimentar sua alma de desamor
Cresça e amadureça
Pois você ainda é muito raso.