Lori Damm
Áries solar
Lua em Câncer
Rosa e espinho
Raio e trovão
Arco e flecha
Som e música
Bem e mal
Cura e doença
Droga e veneno
Dose letal
Eu.
Um dia ela desperta no alto,
Vê que cumpriu a promessa
E em júbilo joga-se ao chão...
Vê que as armas que portava,
Foram sua proteção:
A espada era a coragem
O escudo o seu coração!
Ontem havia um monte
Muros, pontes, a menina,
E um desejo em desatino:
Conquistar Vida pra si...
Hoje, do alto do monte,
A mulher olha o horizonte
e murmura:
- Vida, venci!...
DESENCONTRO
Pintei um céu
Para nós dois
Um quadro azul
Em tom pastel.
Morreu meu sonho
quando amanheceu
Você, indiferente,
Não me reconheceu
E no vale ficou
Sem olhar para o céu.
Eu te acenei amor
Amorosa te beijei,
E o dia era instante
Sereno, constante,
Gravura em papel
Mas um beijo de amor
Não foi o bastante.
Despedaçada,
Abandonei os teus olhos
Perdidos no vale
Sondando ilusões
Sem olhar para o céu.
Enveredei nas alturas
Carregando teu nome
Um punhado de estrelas
E um doce pincel.
Estava certa que vinhas
Porque tinha que ser
Mas olhei para baixo
E chorei a verdade:
Você tão cruel
No vale voejava
Junto às borboletas
Sem olhar para o céu.
"De repente, tudo se acalma
Entregue a doce abandono
As cigarras cessam seu canto
E as folhas bailam na rua
- alegria livre e nua -
À luz dourada do Outono."
AMOR DESATENTO
(O Alecrim e a Estrelinha)
"Pintei um céu
Para nós dois
Um quadro azul
Em tom pastel.
Morreu meu sonho
Quando amanheceu
Você, indiferente,
Nem me notou
No vale ficou
Sem olhar para o céu.
Acenei meu amor
Como flor te beijei,
E a noite era instante
Gravura em papel
Mas um beijo de amor
Não foi o bastante
Veio o sol e encontrou
Teu olhar infiel
Perdido no vale
Espreitando outros beijos
Sem olhar para o céu.
Por te amar insisti
E jurando que vinhas
Esculpi o teu nome
Na luz das estrelas
Com doce cinzel...
Mas olhei para baixo
E chorei a verdade:
Você tão cruel
No vale bailava
Junto às borboletas
Sem olhar para o céu."
Lori Damm, 02/03/2022
"A felicidade muda-se para o coração no dia em que ele compreende que asas só se abrem quando desapegamos do casulo."
"O que seria de mim sem o outono
Sem as cores, sem as folhas, sem a chuva
E sem você na memória?..."
"Ninguém ascende ao Paraíso se imaginando um anjo.
A forma projetada necessita conteúdo real.
Angelitude também é construção.
É obra, é serviço, é coragem, é dor, é choro, é renúncia, é lapidação e depois júbilo.
Nesta ordem."
(Instituto André Luiz)
"Amo o sol mais que tudo, por ele me guio, por ele sorrio, por ele levanto, por ele me espanto da beleza do dia."
Lori Damm
Voa, ave querida, que meu abraço é a amplidão que te protege!
Seja feliz no imenso! Voa!...
Eu ficarei aqui neste ponto diminuto velando tuas asas.
Mas quero que saibas
Que este ponto diminuto é o teu mundo.
Para mais além,
Terás que aprender a voar sozinha!....
Voa!...
"Seja qual for tua via,
tua estrada ou teu andar,
faça da travessia um
acontecimento sem par.
Uma rua é uma rua,
na roça ou na capital,
seja bicho, seja gente,
não se esqueça de brilhar!"
Lori Damm
"E havia no ar tanta doçura, um quê de perdão e sorriso de Deus que nem pensei duas vezes: pus-me a brincar."
Lori Damm 01/07/2022
Mal vejo, mal ouço, me sonho inteira em silêncio.
E deixo a melodia embalar o que não é, o que está somente:
Meu sonho, meu ser particular, meu contentamento.
Porque mais que ouvir, ver e sonhar
Sou sentimento.
(Lori Damm)
E assim que raiou o dia
Pôs-se a caminho, apressado
Buscava um não sei quê de lembrança
Ou algo com que havia sonhado
Encontrou o dia na esquina
E o sol há muito raiado
Voltou sobre os passos depressa
Até hoje ainda dorme, o coitado
Esperando rever no sonho
O que não encontrou acordado.
Lori Damm 11/07/2022 (Confused)
Um poema atravessado
O tempo na contramão
O que vem, o que vai indo?
Haja alma e coração
Pra tanto céu amarelado
Nas memórias de um domingo.
Lori Damm 31/07/2022
"Sou linfa a escorrer dos olhos
E mesmo assim não me vês.
Me entristeço,
Mas não saberás quem eu sou
Pois nada em mim é visível
Ao teu olhar comum.
Antes de compreender a chuva e o sol,
Antes de me saber e de me amar,
Não permitirei que me conheças
Porque sou linfa a escorrer dos olhos
E mesmo assim não me crês."
Lori Damm ("Enigma")
Na hora pagã
Dos soluços meus
Deslizo em silêncio
Dos olhos de Deus.
Esta dor não é Dele.
Esta dor não é minha
É dor que não cabe
É uma dor que não sabe
Da dor que eu já tinha.
Na hora pagã
Do acerto de contas
Dou as costas à vida
- Ela sempre me encontra.
Esta dor não é dela
Esta dor é sozinha
É dor que tem raiva
E por raiva não caiba
Nas noites sem sono
Da vida que é minha.
Lori Damm, "Hora Pagã"
Setembro - mês da flores, dos amores
Mês da vida e das mil cores
Atende este meu pedido:
Seja ensolarado e comprido
Cálido, gentil, divertido
E traga uma primavera amistosa
Aves, ninhos, muita rosa
Chá com bolo na varanda
Paz, alegria, chuva branda
E um mundo mais doce e florido!
"Lá pelos anos 60, os finais de semana eram sempre ansiosamente aguardados e o almoço de domingo, ah, este sim, era sempre um acontecimento!
O cardápio era escolhido a dedo durante a semana e, na sexta-feira começavam os seus preparativos, com idas ao mercado e visitas à horta caseira para a seleção de saladas e temperos. Importante também era o trato nas roupas que seriam usadas pela família no culto ou na missa do domingo de manhã.
Depois, após o alimento preparado e algumas reinações infantis, vinha o melhor do dia e de todo o fim de semana: o almoço que era um verdadeiro banquete, mesmo que com pouca coisa, mas sempre muito caprichado. Dependia das posses dos donos da casa, mas sempre especial porque era o "almoço de domingo"!
Naquela hora mágica se conversava de tudo, com pais, filhos, tios, avós e quem mais estivesse ali colocando as novidades em dia, num interminável zum-zum feliz se sobrepondo ao barulho dos copos, pratos e talheres em uso.
Era dia que casal não brigava e criança não apanhava.
Olhando de fora, lembravam passarinhos contentes, reunidos em delicioso alvoroço no ninho.
Após o almoço vinha a sobremesa aguardada igualmente com ansiedade por todos. Eram pudins, pavês, tortas e cassatas deliciosamente caseiras, feitas pelas mulheres da casa e sempre dignas de muitos elogios!
Também compareciam no pós almoço o sagu e a compota. Sagu cozido no vinho feito das parreiras próprias, e compotas com as frutas do quintal, pêssego, pera, maçã e outras. O que tivesse.
O que vinha depois?
Ah, a sensação de fim de semana bem usufruído, de descanso regado a boa comida e atenção. Isso sem falar nas brincadeiras infantis que iam até o anoitecer, na conversa dos adultos e nos assuntos colocados em dia.
Problemas? Haviam sim, muitos até, já naquele tempo futebol, política e fofoca geravam confusão, mas o domingo era a trégua, o dia de relaxar e aproveitar, dia de esquecer as diferenças e ser feliz.
Não tive vida fácil, a vida familiar enfrentou turbulências, escassez, brigas, vícios, separações e problemas inúmeros, mas a lembrança boa daqueles domingos é e será sempre maior que tudo. Acima de qualquer tristeza ou desconforto, era o dia em que a família se reunia mais estreitamente para celebrar o maior e mais belo motivo de estarem todos ali: o amor.
Hoje vejo pais e filhos perambulando pelos shoppings, sérios e indiferentes uns aos outros, comendo qualquer coisa, fazendo compras aleatórias e, quando param um pouco, se separam, mesmo juntos, mergulhando cada um em seus exigentes celulares.
Fico me perguntando então, entre tristeza e decepção, onde foi que erramos, em que ponto da estrada deixamos para lá os doces rituais do fim de semana da infância.
Por que o domingo, com suas missas e cultos, com os seus almoços deliciosos e a reunião familiar barulhenta e encantadora, deixou de ser importante?
O trabalho fora das mães? A correria de hoje? A falta de tempo? A ausência de motivos para um almoço especial? Cansaço?
Seja lá o que for, eu lamento. Lamento principalmente pelas crianças, que não terão, assim como eu tive, e acima de todos os problemas, um domingo para levar na memória, comprovando que sim, sempre há um dia feliz para se recordar na vida, um dia mágico onde boa comida e beijo e abraço de mãe e pai, de vô e vó, são coisas que o coração, aconteça o que acontecer, jamais esquecerá."
(Instituto André Luiz, "Relato de uma idosa", autoria Lori Damm)
Viver é chorar,
muitas e tantas vezes!
- e desesperar-se também.
Ainda assim você pode
Mover as mãos no Bem
Ajudar o Outro
Ser o anjo de alguém!
Você pode. E acredite:
Pode ir além
E estender os braços
E chorar o pranto
Que do outro vem
Pois no Céu só entra
Quem já chorou por alguém.
Lori Damm 20/01/2019