Lívia Samara
Mas quem poderia entender Drummond, considerando-se maior que o mundo e num instante após, sente-se fraco á apelar... "Deus, porque me abandonaste?".
Antes de entrar observei os passos indo em direção de uma sala ao lado. Todos falavam do feriado animado.
Meu relógio marcava 2 e 34. Eu poderia jurar que estava atrasada!
Eles adoravam falar picuinhas antes das aulas,dava para ouvir de longe a menina reclamando pela falta de tempo.
Eu deveria estar calada...
Outra de óculos ali,comemorava o aniversário... 18? Não,não sei...
Desta vez a sala parece afastada do lugar.
Ainda assim,um garoto continuava sem amigos. Mas o que eu poderia fazer? Venho vivendo isso desde que entrei pro ensino médio, e ainda não sei bem o que pode me ser agradável.
Ele rasgava as folhas do caderno como quem sofria de um estranho constrangimento.
Seus problemas.
E talvez visse...
Terezinha
É uma emoção exagerada por alguma admiração sem motivo aparente.
Um sentimentalismo muito pra lá de romântico quando se referia a ela,aguardente feita de cana,sem importância, mas tinha obsessão,paixão dominante.
Está emocionalmente fora de si ou tomada por sensações adversas,intensas.
Com prazer,mede-se a alegria.
Um êxtase de Tereza.
Casas quentinhas
Eu tinha um conjunto de coisas da vida num lugar,num tumulto.
Casei-me para ter um lar, um clima quente, uma casa quentinha.
Satisfazia algum sentido...
Alimente-se de sutilezas
Essa menina foi feita de um sorriso, um sorriso bem discreto e silencioso, sorriso comprometedor, cheio de simpatia, ironia e desprezo.
Tem um corpo esperançoso de um jeito acanhado.
Tem os olhos delicados, como pétalas, cristais.
É tudo melodia.
Vinho.
Fragilidade emocional.
Chateava-se por qualquer motivo, afinal, uma situação problemática.
Feliz é quem ama tudo,não amando nada
Acho que todos admiram as mesmas coisas: a sinceridade,bom senso de humor,personalidade forte, caráter. A sinceridade é uma grande qualidade,peço desculpas,mas sinceramente,eu não disse nenhuma mentira,certo?
Era pra estar sempre de bom humor dentre as aparências sérias.
Era pra gostar tudo,e nunca gostar de nada.
Eu odeio minhas unhas ruídas.
Odeio o formato e a cor das minhas mãos.
Eu odeio o barulho de cidade grande.
De carros em final de festa.
Odeio as conversas de vizinhas,sentadas nas cadeiras velha em frente de casa.
Eu odeio arroz com cebola,embora eu gosto de cebola em saladas.
Eu odeio minha barriga.
Eu odeio chá preto, nunca provei nada mais amargo!
Eu odeio tomar banho cedinho.
Eu odeio sandálias e roupas coladas.
Eu odeio dormir tarde,embora eu não consiga dormir cedo.
Eu odeio tanta coisa, que seria indispensável pra mim deixa de mencionar.
Mas eu amo ouvir as radiolas antigas das vizinhas tocar no quintal,fazendo qualquer música se tornar antiga.
Eu amo dormir com lençol fino,porque nunca ficam quentes.
Eu amo as nuvens com formato de coelhos e girafas.
E amo sentar no lado da janela dentro do ônibus.
Eu amo a comida simples da vovó feita há anos que nunca perdeu o gosto.
Amo música de viola, música humilde...
Amo tapioca, e ainda mais quando me vendem quatro por apenas 2,00 reais.
Pra fazer a festa.
Pra encher barriga, pra poder oferecer...
Descanso
Vício de fumar. Mania.
Costume de fazer sempre a mesma coisa.
Chega a ser defeito ou prejuízo.
Quanto vai ser o prejuízo desta vez?Um mal-estar causado por bebedeira? Um pouco de canseira, um pouco de fadiga?
Quem não possui amor, que não demonstre.
Há algo em si mesmo que não consegue encontrar?
Escondeu o presente que havia guardado, escondeu-se no quarto.
E em segredo permaneceu.
Não precisas fazer com que percebam sua tristeza.
Disfarçou as rugas com maquiagem,quis ocultar um sentimento,uma decepção.
Quis esconder alguma coisa,um buraco no sofá embaixo da almofada,talvez.
Mudou o modo se vestir,de falar e de se comportar pra que não fosse reconhecida.
Disfarçou-se de mulher no Carnaval.
E o remorso me comeu. E oque me atormentava era o arrependimento de ter a capacidade de fazer com que as pessoas me odiassem.
Eu podia fazer qualquer um sorrir, mas seria um crime cometido.
Suspiro
Lembrei o dia de meus anos,lembrei-me dos compromissos,dos teus lhos que lembravam esmeraldas,lembrei-me de vestir o terno de formatura,no último ano do colégio. Lembrei dos arbustos dum típico jardim onde me sentara todas as tardes no gramado, só pra lembrar de você. Da tua nobre beleza,dos teus olhos claros,da sua transparência solitária... até tudo virar lembrança... tua semelhança teu jeito mudo de me falar que já não lembra mais de mim. Que me faz voltar,que me faz passar ... por tanta distância de você.
É que eu ainda sinto vontade de viver nostalgicamente os momentos já passados.
Saudade da minha professora,saudade de beber um bom vinho,ouvir uma música boa,daquelas canções de marinheiro.
Não gosto de suspiros!
Mas diga que mandei saudades!
Diga,você... Você sente falta de alguém?
30.01.2015
Eu me questionava como não conseguia admitir oque falava,desprezava meus pedaços,me queixava de alguns esforços. Nem considerava minhas próprias ações,meus comportamentos particulares. Não queria me sacrificar a favor de outra pessoa,uma ideologia sem propósito,um objeto de casamento imbecil.Alguns nem ligavam,outros seriam o contrário. Ninguém me impediu,ninguém me privou, ninguém me rejeitou.Não que eu não queira aproveitar de algo, nada disso, mas abandonar o chocolate era como deixar de provar, com gosto de remédio no estômago,ânsia de lançar fora meus resíduos amargos.
9 anos
Logo, aos cinco anos, viajamos para uma cidade pequena no interior, morávamos numa fazendinha que fica num famoso Morro Frio. Fazia tanto frio que usávamos uns quatro casacos pra ir ao colégio... E quando voltávamos para casa guardávamos todos na mochila, que vinha redondinha de tanta roupa. Por isso sempre preferi estudar atarde. Podia usar meu perfume de flores do campo e todos do ônibus sentirem meu cheiro.
Eu esperava pacientemente num banquinho de madeira, quase caindo, de tanto levar chuva. Acho que foi feito pelo meu pai, ele fazia tudo pra gente naquele tempo.
Mas eu ficava lá, com meu cãozinho com nome de Toff por uns trinta minutos aguardando. E lá vinha ele, entre neblinas o farol do ônibus amarelo escolar. Logo na manhã, seis e meia.
Dentro do ônibus, ninguém costumava conversar muito, talvez ainda estivessem meio sonolentos e anestesiados, e sentada, eu olhava a janela esfumaçada cheia de borrões e desfoques, ainda cheia de frio.
Eu estudava o quinto ano do ensino fundamental, na primeira escola da cidade. Não havia muros, só grades de ferro pintadas de verde. Sempre foi verde. Se fossem retocar, seria da cor verde.
E quando eu chegava lá todos já estavam na fila pra rezar antes da aula, e eu corria pra frente, no terceiro lugar, por que já tínhamos nossos lugares na fila marcado.
25 de natal, 17 continua...
Na medida da idade eu levaria o meu tempo pra dar a volta em torno do sol.
O meu tempo de velhice, o meu estrago de anos.
Ano novo ou ano bom,o Primeiro desde janeiro, que me relatam ao decorrer de um tempo uns de meus períodos quaisquer.
O último ponto da vida. A última vida de velho. Não quero me esquecer...Não quero deixar, nem mesmo deixar de crescer. Mas o que me íntima é expressar, é doar um bom e velho pedaço de sorriso.
Reconheço, por bem feito de alguém. Diz-se das palavras.
Por tanto, eis a décima sétima oportunidade de me ser o que me caberia ser, de me conhecer e me despertar maneiras simples de me deixar levar... definitivamente por mim. Indiscretamente por você.
Sobras
Não entendeu seu desinteresse por amor, se nem mesmo os sentimentos não sentiram sua falta.
Como alguém incapaz, sem repostas.
Maria, nunca deixa-se conduzir pelos sentimentos alheios... e quaisquer que seja sua intenção, sempre serão os mesmos!
Ardentemente, viva por alguma coisa que seja capaz de realizar qualquer coisa. Uma sequencia de qualidades num caminho sem volta. Mas falta proveito, falta água no corpo. Falta sobrar um pouco mais das coisas.
De pena
Diz-se que não é a expressão, mesmo que haja prejuízo nessa vida, mesmo que não aja sentido.
De partes envolvidas num contrato de boa-fé, a condição perfeita da pessoa contente.
"É uma alegria tê-los em casa"... só pra não deixar passar. Só pra não deixar de poemática.
Mas que comove, que causa paixão. Como filmes patéticos que podem provocar emoção ou tristezas, não acha?
Extraviar-se
Entre o nascer do sol e o meio-dia, as primeiras horas que dá início.Mas ao sair de vista leva contigo alguma coisa, porque as cartas já sumiram... Ficar em situação de desvantagem, ter mal hábitos. Arruinar oque deixou de apreciar. Errar o caminho, deixar de ser ouvido. Perder a hora, a vez, a vista, a vida. Mas não morrer, recuar-se apenas. Porque perder o amor é gostar muito de deixar.
Num ano acabado. Bem-acabado. Ao bom senso de um estranho. Não conheço as pessoas, e nem sobre oque falam.
Eu era único... era lugar, era ficar. Era casa. Era igreja.
Fazia acontecer, mas não acontecia... Ai se passaram os meses. E em que lugar eu fui aquilo?
Isso não é comigo, ser sensação e existência, ser pessoa ... ser a si próprio.
Ausência de sensibilidade
Por alguns dias as paixões ficaram em silêncio.
A música interrompida mais ou menos, na pausa. Silêncio total, silêncio absoluto.Guarda-se silêncio, ou cala-se enfim.
Sendo classificada pelo seu tipo, a intensidade provocada por decepção. A morte de alguém, a dor de perder um pai.
Piedade eu digo, piedade de si mesmo.
Preciso perceber ou sentir um pouco mais de dor de cabeça, e ter a consciência de que sinto dificuldades.
Principalmente de lamentar. Lastimar.
Tão pouco senti a beleza do quadro, ausência da sensibilidade. Meu próprio estado físico e moral.
Não me sinto bem. Confesso.
Magoar pode ofender, imagina julgar a capacidade de grandes coisas?
Dizia um poema...
Não sei se foi o modo em que ele retratava a ideia de tentar entender as coisas do mundo, ou a indagação de culpar algo que nem sabemos de onde vem ou porque vem. Esse "eu" colocado em várias situações diferentes, me mostrando que todos passamos por fases, difíceis até, mas que ao comparadas com outras percebemos algo em comum.
E que de alguma forma não saberíamos o porque ...
Terça-feira de pessoas
Um, sete, vinte e três... Contavam pessoas no espaço.
Oito fugiam, dez quase sentados, alguns no banheiro, alguns atrasados. Mas que estranha maneira de observar...
Exibindo charminho, avistei um ali. O verde, listrado e o mal decorado. Todos cumpriam com a tarde infeliz.
Espalhado, encostado... muitos não sabiam.
Era 3 da tarde quando, com os olhos ainda cheios de lágrimas, comecei a ler uns trechos de contos, os meus prediletos, mas só falavam de amor...
Quando, de repente, meu antigo professor de história do ensino médio aparece em minha frente com uma das mãos fechadas, e estende até mim. Eu ergo meu braço na direção de sua mão, e ele solta levemente duas balas, as balas que eu odiava por serem extremamente doces.
Uma era branca como os flocos de luz no inverno de Cleveland, e a outra amarela feito sol do verão em meu rosto... não, eu não as joguei fora.
Então abri e coloquei as duas na boca e com poucas mordidas já haviam acabado.
Sim,eram as piores balas, confesso.