Lívia Samara
Pousando levemente um destes lábios em alguém por conter alguma coisa. Pôr no mundo esse cumprimento, mas os outros raramente fazem. Esse meu apreço incontentável, esse beijo de chão molhado... Beijando a um, a outro... Engraçando seus ditos saborosos.
Mas não, espera!
Ainda podemos achar maneiras... Corre. Procura. Hoje ainda é segunda.
E nesta vez, eu sei, vai dar certo. :)
Alguns meses que duram.
Alguns vinhos que esfriam.
Alguns minutos de chacoalho, que por fim me pedia... Deixe-me tentar.
Algumas tardes de embriaguez.
Dizem que a bebida é a lucidez de espírito desequilibrado. E eu confesso que acredito.
Por que aqui, num desses cantos quaisquer, ele mostrava amor onde ninguém via. Onde nunca disse. Onde nunca sentia.
Péssimo remédio pra gente mal amada, não é?!
Pois bem, meu bem... Eu sei que tu tens caminhado entre folhas e capins. Olha-me devagar. Deixando eu te olhar... Espero-te aqui, na calçada. No vagão. No asfalto. Nesse coração.
E leva. Leva esse teu canto escuro, com gosto de ser. E leva.
Requentando a sopa, o café, o chá preto e seu, o céu.
Recomeçando do zero os pontos quebrados, reconhecendo os rostos, os pecados e os teus encantos.
Casos encerrados. Quebra a cabeça desta vez.
E você não por que chorar.
Parece que as coisas vão despencar em minhas costas. Outra vez.
E isso dói.
Mas uma vez, isso pesa.
E a gente levanta achando que vamos mudar o que provavelmente não mude... Fazendo sentir, assim, a cabeça martelar. E as respostas se perderem dos olhos. Fraqueza de chorar, talvez seja.
Amigo, perdoa esses erros imaturos e esquece que hoje eu te vi.
De um jeito errado, perdia.
Você diz que não se importa com mais ninguém.
Que se arrepende.
Que desiste.
Que se cansa.
Que tropeça demais.
Demais...
E seriam poucos, poucos a caminhar... Quem me atrasa não poderia está. E o restante, ah... o restante a gente deixa falar.
25 de julho, dos poetas.
Poetas não enlouquecem. Nunca foram normais.
Não falo com próprias palavras, não tenho tanto estudo assim... Sem leitura, nem intimidade. Era o ultimo.
Não, não disse só isso... Queira ou não queira, escreveria na próxima manhã. Dando cores nas janelas, e ventos nas portas.
Deixe-me ter o prazer de conhecer suas profundas economias de criações.
Desembaraços.
Não substitua seu nome próprio, meu bem.
Uma pessoa, uma cidade... um Deus. Tudo pela sua qualidade ou por uma perífrase de alguns atributos.
Príncipe poeta, camaleão de 7 cores.
Sem sabor.
Do jeito que ela alisava as bochechas e o nariz me fazia lembrar alguns romances de só. De um só. Somente um, um livro de capa velha, uma xícara com chá de bordo... Adocicado por leves colheradas de açúcar.
Almoço das 2h.
Ela me pedia pra colocar feijão no prato como se me chamasse para um passeio na vila:
- "vamos!"
Ele dizia pra mim parar um pouco com os livros, que tinha que acertar contas.
Pensaria em suicídio? Não, não...
Parou de falar. Contava-me que quando estamos em contato com Deus, ficamos vazios. Completamente.
As palavras seriam ruídos, não queria ouvir banalidades.
Seria impossível o poema. O último estrofe. Não se encontrava em nenhum lugar da casa.
Você deve achar que estou louca. Mas não acho, sou especialista em perder.
Continuei.
Depois de 36 minutos de silêncio, ele disse: vou cantar pra você, mas deve-me guardar segredo...
Voltei de mãos vazias.
Eu voltei de mãos vazias.
Sentei no sofá da sala... era bom habitar a noite amanhecida.
E dessa forma, eu dormi.
Nestas duas horas.
Seria uma das crises?
Para alguns, é só um caso. Quanto tempo?
Sem tempo, nem poesia... 48 horas de despejo.
Desastre poético.
Se fosse possível, meu bem, eu diria.
Apenas uma pessoa, se isso fosse possível.
Certa existência poética me faltava nesta terça. Como sempre, me cobri de tudo que pude carregar.
Já conquistara outras vezes... Não me custa mais nada.
Como se palavras falsificadas pudessem me traduzir.
Mas deixei... Não poderia me deixar levar pela raiva dos mais velhos.
Então ele se torna o poeta extremo.
- Agora vamos deixa-los conversarem entre si.
Respondi sorrindo.
Num desses recados folheados em branco, eu dizia. Dizia que estava ali, por um ou dois tempos. Provavelmente me perderia de vista. Restando-lhe esperar.
Abaixara os olhos outra tarde, pois lhe cansava ter que estar acordada boa parte desse tempo. Deixei o bilhete na geladeira, grudado num daqueles imãs quaisquer, sinalizando minha partida.
E fui... Ah! Se fui...
Fazendo cinco meses fora de tempo ou ordem, já não escrevia mais.
De calçadas amarelas corria feito louca, e corria. Agora, pedira uma carona... mas vai devagar com essa impaciência maluca, meu bem.
A gente tenta. Perde. Acostuma. Esquece. Chora. Padece. Adoece. Mal trata. Dificulta. Suporta. Aguenta. Tolera. Mas nunca... sobrevive.
Pesavam, ah como pesavam.
Demais até. Tão longe, pois é. Pesava. E olhava... olhava-me tão decepcionantemente frio.
Tão desesperador que.