Line Lua

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Balzaquianamente falando, esses sentimentos humanos, a ambição, a mesquinharia, a corrupção dos desejos, inveja, ciúme, desconfiança, a não aceitação dos erros, dos defeitos..tudo isso destrói as ilusoes. A concepção do homem, da sociedade, da arte, todos as altas ideologias..tudo se resume a meras ilusões. A confiança que se deposita, os amores nos quais acreditamos, a cerveja que em pouco tempo esquenta no copo... a brevidade dos sentimentos, sabores insípidos... A preocupação com a aceitação social é muito maior do que a preocupação com a aceitação de nós mesmos, dos nossos defeitos e, principalmente das nossas necessidades, dos nossos desejos.

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Quero brincar, sentar no chão, andar descalça, contar piada... Quero poder ser imatura, pular na cama elástica, nadar na piscina de bolinha, gravar um vídeoclip horroroso de uma música horrorosa e morrer de rir depois, quero poder cantar errado e bem alto. Quero amigos tão inteligentes, mas tão inteligentes, que consigam ser idiotas junto comigo e rir das idiotices que os pseudo-inteligentes estão “inteligentemente” falando. Inteligente é ser adulto, mas conseguir ser criança quando se quer. Inteligente é não querer se encaixar em uma sociedade que está, claramente, doente.

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O improvável encontro das almas solitárias, que há tempos se procuravam em corpos vazios e copos transbordantes, ocorreu em mais uma daquelas tardes inespecíficas onde a única explicação para a peregrinação etílica é a eterna tentativa de se preencher buracos na alma.


Mas esse é o conceito profundo, a definição poética da busca. Superficialmente, que é sempre o que se vê á primeira vista, a busca era apenas por um lugar agradável, com cheiro de arte, cachaça e cigarro, sorrisos conhecidos e um papo que não penetrasse na área impenetrável do cérebro e do coração, enfim, a idéia era apenas passar o tempo. Mas o passar do tempo traz vida, vive-se o tempo que passamos e viver é surpreendente porque um dia qualquer, passado ao lado das pessoas de sempre, fazendo o habitual, de repente se transforma em poesia.


Nesse dia a poesia passou, como um sopro, e deixou naquelas almas uma beleza inteira. A poesia foi colocada nos copos e as almas beberam cada gota. A poesia era um sofá velho, um gato de rua, um banheiro decorado com cartões postais. As almas agora não tinham mais buracos. As almas se misturaram, preencheram mutuamente os vazios. Nada mais era vazio, a busca, aquela que só o âmago mais profundo das almas é capaz de buscar, havia terminado.

É a hora então. Arranco do coração os sentimentos mais belos e divido-os entre a bailarina e o menino: a capacidade de amar, de perdoar, de admitir os próprios erros, superar obstáculos, suportar a dor, ser amigo, se deixar ser amado. Quero que fique com eles tudo de bom que aprendi nessa vida, os melhores sentimentos, mesmo aqueles que eu não tive maturidade ou não fui boa o suficiente para sentir.

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Então é essa a sensação. Torpor, ampliação dos sentidos. A música me entorpece e não sei se acho isso bom ou ruim. Consigo escutar a dança da bailarina, encostar nas notas que saem da flauta do menino, suar de frio. O colchão me acorrenta e o chão me parece muito hostil. Ela me espera, ainda sentada no sofá. A bailarina dança e ela me espera. A morte me espera. Sinto sua mão fria estendida em minha direção e a imobilidade é minha única defesa. Tenho a impressão de que se eu respirar, morrerei. Mas se eu não respirar o fim não será diferente.

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