Lilian Seiko Kato

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Sobre a vacina.

⁠Demorei a decidir se postaria este dia tão importante pra mim… entre dúvida e certeza, nenhuma. Sabemos que a maioria dos brasileiros ainda aguarda pacientemente o dia em que poderá ser, finalmente, vacinado. Aguarda pelos dias passando pelo calendário, as notícias das datas de vacinação, os aviões pousando em território brasileiro com mais algumas vidas armazenadas em frasquinhos… enquanto isso não acontece, ele sai à luta. Pega ônibus e metrô lotados, acorda cedo, se veste de coragem e mascara não só o rosto, mas também a sua dor. Talvez ele já tenha perdido muitos amigos, familiares, filhos, talvez já quase tenha se perdido ao perder alguém. Talvez já tenha perdido o emprego, as economias, talvez sinta que perdeu sua dignidade até. Talvez esteja se virando de Uber poraí, arriscando sua vida para sobreviver ao dia a dia. Talvez esteja no semáforo com uma plaquinha, talvez esteja vendendo quentinhas, fazendo bicos aqui e ali. Eu escutei muitas histórias entre idas e vindas nesta pandemia. De uma coisa eu sei, o povo brasileiro se vira. Um povo acostumado a ser empreendedor, motorista, pedinte, vendedor, cozinheiro, tudo em uma vida só. Acostumado a falar inglês, português e espanhol sem nunca ter ido à Wizard ou à CCAA. E a maioria te dá bom dia, pergunta com uma simpatia como anda a vida, mesmo se ele ou ela dormiu 3 horas naquela noite, com as jornadas duplas e triplas. Acostumado a sofrer para ter o mínimo para comer e sobreviver a mais uma das inúmeras crises que já enfrentou aos 30 anos de idade… e com um sorriso no rosto e um fica com Deus sempre na boca. O brasileiro que não teve educação básica, que não teve os nutrientes necessários para se desenvolver, se desenvolve sem pensar, rasgando-se e se desdobrando em seis para pagar as contas no fim do mês. Este é o povo que aguarda na fila pacientemente a sua vez. Aguarda a sua dose para talvez recuperar a dignidade mais uma vez, e continuar sobrevivendo a este massacre hediondo da insensatez. Espera enquanto se recupera sozinho de uma depressão que não pode chegar, afinal, ele precisa continuar a lutar. Ele não tem tempo para pensar, ele tem contas para pagar. E assim amanhece de novo e outra vez, anoitece uma vez mais. Sentar naquela cadeira e sentir o braço doer me trouxe paz por ter a sensação de ter deixado pra trás estes dias sombrios… mas me doeu saber que ainda existe um Brasil inteiro à espera de um Brasil melhor para todos… à espera de não passar mais fome, sede, frio, de não sentir-se mais só e desamparado nesta terra de ninguém. Eu vi o número de mendigos aumentar dia após dia nas ruas e vielas, vi as famílias se instalarem na beira da praia, na porta dos bancos, debaixo das árvores, pontes e viadutos, no chão, nas esquinas, nas portas dos supermercados, nas portas dos edifícios com alguma cobertura que oferece alguma falsa proteção. E assim se passaram as horas, meses e dias desta agonia que está longe de terminar. Sim, a vacina salva, mas para salvar ela precisa estar no braço das pessoas, e para já. Pessoas que estão espremidas nos transportes públicos, pessoas que estão deprimidas e que são invisíveis para a maioria de nós. As pessoas que não estão sentadas esperando, mas que esperam sentar-se para receber o que lhe é justo. Sou muito grata por ter conseguido uma oportunidade de continuar vivendo, espero que eu possa ter recebido não só uma dose de vacina, mas uma dose de consciência de que é preciso fazer a nossa parte para um coletivo melhor. Que graças a Deus existe vacina para a Covid-19, mas ainda não existe vacina para a fome e a sede, para a miséria e a nudez. Não existe vacina contra a desorientação de nossos superiores, contra a má gestão e a falta de sensibilidade e empatia. O custo de tudo isso está evidente no record de mortes, na miséria do povo, no luto e na luta de tanta gente para não morrer. Aqui se luta contra a Covid-19, contra o desemprego, contra a indigência. A vacina para estas lutas precisa ser construída e constituída por cada um de nós, eleitores e eleitos, nós, brasileiros. Vacina para todos, contra o coronavírus, mas também contra a desigualdade, a miséria, a má gestão, e a falta de amor. Aliás, assim como a vacina contra a COVID-19 já existe, existe sim vacina contra a fome e a miséria, e o desamor. Só é preciso aplicá-la em todos nós.

Inserida por lskato

Hoje, estou só.
E este estar só estava sendo solidão... mas hoje, transformei em solitude.
Estou só na posição do sentir, e do ir.
Do ir, e do sentir este ir, e irei só, e sinto... e este sentir, não é compartilhado. E este ir, tão menos.
Busquei, no outro, uma identificação, um sentir igual ao que eu estava sentindo, mas ao contrário.
E aí, encontrei solidão.
Eu tive frio, medo, e insegurança. Neste lugar de buscar, no outro, alguma semelhança e equivalência. Alguma aproximação, suporte e assistência.
Mas percebi que, assim como eu, o outro também está só. E se ele está indo, ou se está ficando, ele também está desacompanhado. Todos estamos.
Portanto, a identificação que tanto almejamos, está justamente em raciocinar e entender que, apesar das inúmeras histórias diferentes que estamos a construir,
Estamos todos nós e sem exceção, indo, vindo, ficando, ou partindo, a sós.
E, dentro deste raciocínio e consciência, encontrei-me com minha solitude.
E a solidão, pode então, partir de mim.
Estar a sós com a solidão é se sentir desabrigado de si e de todos.
Estar a sós com a solitude é estar desabrigado de todos, mas agasalhar-se a si mesmo.
É poder se abraçar e se compreender, e se acolher... é se aconchegar.
E para partir, foi preciso, algum dia, chegar.
E esta chegada também foi, anteriormente, partida de algum outro lugar.
E em todos estes movimentos, ir e vir, chegar e partir, ficar ou sair,
Nos encontraremos, primeiramente, com a solidão.
É como se, entre o lugar de partida e o lugar de chegada, houvesse sempre um deserto para atravessar.
Mas hoje, encontrei-me com a solitude deste momento. A solitude que mora em mim...
A solitude não é um oásis, pois é fonte interior.
É como ser cacto neste deserto a se atravessar.
O cacto, que simboliza resistência, força e adaptação,
É capaz de sobreviver a ecossistemas muito áridos e quentes,
como desertos, caatingas e cerrados.
O cacto representa proteção, além de ser um guardião.
Com seu exterior forte e um interior belo,
possui uma simbologia de fortaleza e persistência.
E um dia, quando possui água interior suficiente,
E forte luz exterior correspondente,
O cacto, finalmente, floresce.

A flor dele é a insígnia da sabedoria,
da prosperidade e da perseverança.
Representa a capacidade de enfrentar desafios
e a força interna para lidar com a solidão.
Para mim, é a mais fina expressão
Da beleza de uma sólida
solitude.⁠

⁠Estou com o coração partido por deixar tantos que amo, mas é isso que torna tudo tão especial: saber que amei, e que fui amada e, por isso mesmo, é que me dói tanto a partida e a despedida.
Porque deixo um pedaço de mim, mas também levo um pedaço de todos vocês, aqui comigo, para sempre.

Inserida por lskato

⁠Conexão.
Uma palavra tanto quanto ambígua nos dias atuais.
Estar conectado nas redes sociais e estar conectado com as pessoas à sua volta, tudo ao mesmo tempo, é praticamente impossível.
Conectar-se pessoalmente a alguém significa estar totalmente presente e disponível naquele momento vigente, de corpo, de mente, de coração, de sentimento, acessível energeticamente, possibilitando o vínculo da conexão física, mental e psíquica. A conexão ocorre pela qualidade do tempo oferecido, e é percebida pelos que escolheram estar ali, naquele instante de sua curta existência.
Um encontro acontece quando há uma vontade unânime de todas as partes envolvidas em sintonizar um momento no tempo, no espaço e no coração, para dar e receber. Ás vezes, acolher, ás vezes, ser acolhido. Um encontro é um presente incomparável, pois não há nada mais valioso do que o tempo que alguém dedica a outro alguém. Um encontro é, além de reunião de corpos, uma junção de almas.
Conectar-se a alguém virtualmente significa deixar de estar presente pessoalmente, para estar “interligado” em uma rede de ausentes, porém, urgentes. É, portanto, escolher estar em outro lugar que não aqui, e também que não lá. É proporcionar o afastamento do real, da vida que está acontecendo no tangível, para divagar no intangível do virtual.

Inserida por lskato

⁠Meu lugar preferido no mundo sempre será em qualquer lugar onde o céu de azul toca o azul de mar.

Inserida por lskato