Lilian Goulart
Às vezes costumo descer as ruas descontraidamente, pensando longe em coisas diversas. Sinto-me feliz porque ainda posso andar assim nas ruas de minha cidade.
Escutei um “oi” vindo do lado da calçada e olhei rápido quando ele me estendeu a mão e disse: sou o Scott e seu nome, como é?
Em pouco tempo torceu uns arames de cobre, era como se bordasse modelando uma linha sobre o ar.
Falei: Sua Arte é linda, prometo que passo aqui outro dia para comparar algo seu. Hoje não tenho nada na bolsa.
Ele pediu que eu lhe desse a mão e colocou um anel no meu dedo e disse: tem coisas e momentos que não se compram com dinheiro. É seu!
Quero um amor construído na terra,
bem dia a dia, com todos os ocres e os sulcos, bem de verdade!
Cansei de amores irreais, feito de promessas, sem alicerces.
Quero prosa, café cheiroso e verdades chocantes.
Cansei de versos, de almas gêmeas e cochichos.
Preciso de um novo olhar, uma surpresa, um caminho desconhecido.
Não quero mais me esforçar para manter histórias bonitas, de desculpas inventadas.
Quero sal, cansei do doce.
Quero o sapo, cansei do príncipe...
Certa vez, sentada a beira de um rio eu e outra menina, conversamos e riamos livremente quando ela tirou dos cabelos um prendedor de cabelos e disse: “Esse é o que mais gosto”, lançando-o ao rio. Eu olhei surpresa e perguntei o porquê daquilo. Ela sorriu serenamente e disse que mais adiante alguém acharia e ficaria feliz por encontrar algo tão belo.
Teclas e Penas
Olho para as teclas e fico pensando
como é que os poetas de outrora olhavam para as penas,
buscando nelas inspiração como eu busco nos teclados de um computador.
Penas, estas vindas de alguma ave.
Penas de águia, de coruja quem sabe...
Eram únicas, singulares.
E estas teclas, de onde vêm?
De uma fabricação em série. Máquinas feitas por máquinas.
Mas o que importa mesmo, são as mãos de quem as tocam,
sejam teclas, sejam penas.
Pois as mãos de quem ama são regidas por um coração que renasce até das cinzas...
As minhas teclas viram penas...
Penas de fênix.
E na última aula, faltando uns 5 minutos pra acabar a aula com meus alunos pequeninos (8 anos), um me vem com uma pergunta: -tia Lilian, pq seu olho é diferente?
Eu:-Diferente como?
Ele: -Assim preto em baixo.
Eu disse: -ahhh, é que não sou totalmente humana, sou parente de ursos pandas.
Ele: -Sérioooo???!!!!
Então, choro até em comercial de margarina.
Mas triste não sou não. Para mim é um prazer, um desafio conhecer pessoas.
Sou meio que ímã de crianças, colegas de trabalho, senhores e senhoras nas ruas, cachorros, patos, formigas e abelhas que enroscam nos cabelos... tipo não fico correndo atrás, quando vejo estão por perto, e como gosto de cuidar, cuido.
Sou uma Maria, uma mulher menina, jovem senhora.
Que cor tenho eu?
Uma vez Oberdã, um amigo, disse que minha cor era "marelin clarin". Chego em alguns lugares, dizem "como você é branquinha, esse combina mais"... para minha mãe sou morena clara, meu primeiro amor me chamava de neguinha.
Tenho tantas cores que moram em mim, desde a mistura de todas e também a ausência delas.