Letícia Piva
Que desse meu abismo constante saia letras tradutoras, e de toda minha confusão notas e acordes. Compondo assim a melodia que inspira minhas ações. Inspirações.
Tenho um amor ser dono, vagando em busca de espaço, onde possa se diluir e multiplicar. Isso faz dele inútil.
Julho se foi, e levou com ele um pedacinho da nuvem de algodão que eu costuma repousar minha cabeça. Sem piscar os olhos, a vi diminuindo no horizonte a medida em que se distanciava. Não tive tempo de me despedir. Em uma caixinha decorada, em retalhos de cetim, guardei o abraço mais apertado, o olhar mais expressivo e o sorriso de felicidade. Guardei também a prosa, a poesia e a música cantada a capela. Quem sabe na próxima estação ela encontre o caminho de volta, e desagua mais uma vez em meu jardim, regando minhas flores preferidas, enquanto eu solto o laço bem trabalhado que usei para selar a caixinha. Mas, ainda é agosto. Acho que devo me agasalhar agora.