Leon Tolstói

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Livres-pensadores são aqueles que estão dispostos a usar suas mentes sem prejuízo e sem receio de entender as coisas que se chocam com seus próprios costumes, privilégios ou crenças. Este estado de espírito não é comum, mas é essencial para pensar direito.

Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas.

‎É absurdo não aceitarmos a vida como ela é, deixarmo-nos dominar pelo passado. Há que lutar para viver melhor, muito melhor.

Só poderemos melhorar o mundo distribuindo a verdadeira fé entre todos os povos.

Os temas mais difíceis podem ser explicados para o homem de raciocínio mais lento, se ele ainda não formulou qualquer idéia sobre eles, mas a coisa mais simples não pode ser esclarecida para o homem mais inteligente, se ele está firmemente convencido de que ele já sabe, sem uma sombra de dúvida, o que é colocado diante dele.

- Mas a reciprocidade existe – disse o advogado.
- Não. É tão impossível como encontrarem-se num vagão cheio de grãos, dois grãos previamente marcados. Amar um homem, ou amar uma mulher toda a vida é teimar que uma vela acesa pode arder eternamente – concluiu ele, aspirando avidamente o fumo do cigarro.
(Sonata a Kreutzer)

Até pelo modo de olhar se conhece o homem devasso.

Leon Tolstói
Sonata a Kreutzer

É estranha a ilusão de que a beleza é o único bem total!
Se uma mulher bonita diz coisas estúpidas, escutamo-la e, longe de a acharmos estúpida, consideramo-la um espírito brilhante. Ela não faz nem diz senão disparates, mas nós achamo-la encantadora. E, quando não diz nem faz senão parvoíces, desde que seja bonita, persuadimo-nos de que ela é estupendamente inteligente e de uma estranha moralidade.
(Sonata a Kreutzer)

A ausência de direitos na mulher não está no facto de ela não poder votar ou de não ser juiz (ocuparmo-nos dos nossos interesses não é um direito); está no facto de ela poder ter o direito de escolher e não ser escolhida. Você diz que não é conveniente. Mas então que o homem seja privado dessas regalias. Por agora a mulher está privada desse direito e, como compensação, ela actua sobre a sensualidade do homem, submete-o pêlos sentidos de tal forma que, na realidade, quem escolhe é a mulher. Quando a mulher possui a arte de seduzir, abusa dela e adquire um terrível ascendente.
(Sonata a Kreutzer)

Por que se proíbem os jogos de azar e se consente que, publicamente, apareçam mulheres seminuas, o que é mil vezes mais imoral?
(Sonata a Kreutzer)

Não há ninguém tão mau que não encontre outro pior. E este pensamento é um manancial de prazer e de orgulho.
(Sonata a Kreutzer)

Se nos casássemos, segundo os preceitos de Demostoroi, como queria o velho senhor do comboio, os edredons e o enxoval do leito eram pormenores que faziam parte do sacramento. Mas para nós, em que dez pessoas que contraem casamento só uma crê no sacramento, ou pelo menos pensa que é um dever; quando em cem homens há apenas um, que não tenha faltado à castidade e que não esteja na disposição de atraiçoar a mulher legítima; para nós em que a maior parte considera o ir à igreja uma mera formalidade para ter a posse de uma mulher, em particular, que significação podem ter os preparativos pré-nupciais?
É uma espécie de mercado. Vende-se uma filha a um devasso mas a venda faz-se sob as mais puras e poéticas aparências.
(Sonata a Kreutzer)

O cigarro, como o casamento, só provoca prazer depois do hábito, quer dizer, depois da adaptação dos casados
(Sonata a Kreutzer)

A música obriga a esquecermo-nos da nossa verdadeira personalidade, transporta-nos a um estado que não é o nosso. Sob a influência da música temos a impressão de que sentimos o que não sentimos; que compreendemos o que na realidade não compreendemos; que podemos o que não podemos. É como o bocejo ou o riso. Não temos sono mas bocejamos quando vimos alguém bocejar. Não temos vontade de rir, mas rimo-nos, ouvindo rir. A música transporta-nos, de surpresa e imediatamente, ao estado de alma em que se encontrava o artista no momento da criação, confundimos a nossa alma com a dele e passamos de um estado a outro sem saber por que o fazemos.
(Sonata a Kreutzer)

— Talvez. Mas, de qualquer forma, acho esquisito, da mesma maneira que não posso deixar de estranhar estarmos aqui, tu e eu, a comer ostras para despertar o apetite, ficando à mesa tempo infinito, quando na aldeia tratamos de comer o mais rapidamente possível para voltarmos às nossas ocupações.
— Claro. Mas é nisso mesmo que consiste a civilização fazer com que tudo se transforme em prazer — replicou Stepane Arkadievitch.
— Pois bem, se é esse o objectivo da civilização prefiro ser selvagem.

(Anna Karenina)

Creio que o amor... essas duas classes de amor que, como te deves lembrar, Platão define no seu Banquete, constituem a pedra de toque dos homens. Uns só compreendem um destes amores; os demais, o outro. E os que só compreendem o amor não platônico, esses não têm o direito de falar de dramas. Com um amor dessa classe não pode existir nenhum drama. «Agradeço-lhe muito o prazer que me proporcionou, e adeus.» Nisso consiste todo o drama. E no que diz respeito ao amor platônico, também esse não pode produzir dramas, porque nele tudo é puro e diáfano.
(Anna Karenina)

— Vês, és um homem íntegro. — volveu Stepane Arkadievitch — Esse é o teu defeito e a tua virtude. Tens um carácter íntegro e queres que toda a vida se componha de manifestações íntegras. Mas a verdade é que isso não acontece. Por isso desprezas a actividade social do Estado, pois queres que todo o esforço estivesse sempre directamente relacionado com um fim, o que não é verdade. Também gostarias que a actividade do homem tivesse um objectivo que o amor e a vida conjugal fossem uma e a mesma coisa. Mas as coisas não se passam assim. Toda a diversidade, todo o encanto, toda a beleza da vida se compõe de luzes e de sombras.
(Anna Karenina)

O respeito foi inventado para esconder o lugar vazio onde deveria estar o amor.

(Anna Karenina)

Qualquer pessoa é capaz de se conservar horas sentada de pernas encolhidas, sem mudar de posição, desde que esteja certa de que nada a impedirá de o fazer. Mas, sabendo que é uma imposição, terá cãibras e as pernas, trémulas, acabarão por se estender.

(Anna Karenina)

— Surpreende me que os pais consintam. É um casamento de amor, segundo ouço dizer.
— De amor? — exclamou a embaixatriz — Onde foi colher essas ideias antediluvianas? Quem fala em amor nos nossos dias? — Que quer, minha senhora? — disse Vronski — Essa velha moda ridícula ainda não acabou de todo.
— Tanto pior para os que ainda a usam! Em matéria de casamentos, só conheço uma espécie feliz o casamento de conveniência.
— Pode ser, mas, em troca, a felicidade desses casamentos muitas vezes desfaz se em pó justamente porque surge o amor, no qual não acreditavam — replicou Vronski.
— Perdão, chamo casamento de conveniência a esse em que ambas as partes já pagaram o seu tributo à mocidade. O amor é como a escarlatina, todos têm de passar por ela.
— Então, seria bem melhor que se arranjasse maneira de inoculá- lo artificialmente, como se faz com a varíola.
— Quando rapariga, apaixonei me por um sacristão — declarou a princesa Miagkaia — Mas não sei se isto me serviu de alguma utilidade
— Fora de brincadeira — interrompeu Betsy —, sou de opinião que, para conhecermos o amor, temos primeiro que nos enganarmos para depois então corrigirmos o erro.
— Mesmo depois de casadas? — perguntou, rindo, a embaixatriz
— Nunca é tarde para nos arrependermos — observou o diplomata, citando um provérbio inglês.
— Exactamente. — aprovou Betsy — Cometer um erro e, depois, repará-lo, eis o verdadeiro caminho. Qual a sua opinião, minha querida? — perguntou ela a Ana, que ouvia a conversa, calada, um meio sorriso nos lábios.
— Eu acho — disse Ana, brincando com uma das luvas — que se é verdade que cada cabeça cada sentença, há de haver tantas maneiras de amar quantos os corações.

(Anna Karenina)

A fé é a força da vida. Se o homem vive é porque acredita em alguma coisa.

Leon Tolstói
Uma confissão. São Paulo: Mundo Cristão, 2016.

...doentes serão todos os que nos outros vêem sintomas de loucura quando não têm um espelho em que possam ver o que lhes vai dentro da alma. (A Tortura da Carne)

Parece-me que o sorriso, e só ele, faz aquilo que chamamos a beleza de um rosto.

A única certeza absoluta que o homem tem é que a vida não tem sentido.

Predender-se que a vida dos homens seja sempre dirigida pela razão é destruir toda a possibilidade de vida.

Leon Tolstói
Guerra e paz.