Lena Azevedo
Sinto-me tão desprezada por tua ausência que ouso a desprezar-me a mim mesma
Ainda que inseparável seja o meu olhar do Teu
Vejo-te como
Raios que anunciam estrondoso trovão,
exuberante em sua potência!
Desperta-me o ouvido - Ruído em dor
Da dor que deveras sinto
Que brinco para não ser dor!
Sorrio e saio do gemido que altera meu pranto
Desencanto
Vivo e morro!
O que o homem
diante da efemeridade da vida?
Sangue e pó
Entre nervos e juntas
Água,
Chão
Pisa o abismo entre chamas e brasas
O vento sopra
A chuva cai
Oscila o tempo, acalma o temporal
de pingos e pingos umedecida a alma
Da tarde, do ocaso
Esperando o amanhecer!
No corpo inerte transcende a alma
Ardida em fel
Foge do pensamento o sofrimento carregado pelo tempo
O amargor sentido
Do suor fétido das tormentas acumuladas
O passado outrora, lânguido
Pueril abraço
Sem pele, sem toque
Sem cheiro
Lavado o choro
Descoberto pelo vento, o pó que cobria a massa desfeita em pedaços.