Leminski

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beija
flor
na chuva

gota
alguma
derruba

lembrem de mim
como de um
que ouvia a chuva
como quem assiste missa
como quem hesita, mestiça,
entre a pressa e a preguiça

tudo dança
hospedado numa casa
em mudança

HAI

Eis que nasce completo
e, ao morrer, morre germe,
o desejo, analfabeto,
de saber como reger-me
ah, saber como me ajeito
para que eu seja quem fui,
eis o que nasce perfeito
e, ao crescer, diminui.

KAI

Mínimo templo
para um deus pequeno,
aqui vos guarda,
em vez da dor que peno,
meu extremo anjo de
vanguarda.
De que máscara
se gaba sua lástima,
de que vaga
se vangloria sua história,
saiba quem saiba.
A mim me basta
a sombra que se deixa,
o corpo que se afasta.
Meu coração lá longe
Faz sinal que quer voltar.
Já no peito trago em bronze:

Isso?
Aqui?
Já?
Assim?

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.

Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a vez, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

Eis que nasce completo
e,ao morrer, morre germe,
O desejo, analfabeto,
de saber como reger-me,
Ah, saber como me ajeito
para que eu seja quem fui,
Eis o que nasce perfeito
e, ao crescer, diminui.!💋💄💋👌🏽👀🙀😱😲😍😍

⁠Uma vida é curta
Para mais de um sonho

Paulo Leminski
Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

Valeu

Dois namorados olhando o céu
Chegam a mesma conclusão
Mesmo que a terra não passe da próxima guerra
Terra, mesmo assim valeu
Valeu encharcar esse planeta de suor
Valeu esquecer das coisas que eu sei de cor
Valeu encarar essa vida que podia ser melhor

Valeu, valeu
Valeu, valeu
Valeu, valeu
Valeu, valeu

Dois namorados olhando o céu
Chegam a mesma conclusão
Mesmo que a terra não passe da próxima guerra
Terra, mesmo assim valeu
Valeu encharcar esse planeta de suor
Valeu esquecer das coisas que eu sei de cor
Valeu encarar essa vida que podia ser melhor
Valeu, valeu...

O olho da rua vê
o que não vê o seu.
Você, vendo os outros,
pensa que sou eu?
Ou tudo que teu olho vê
você pensa que é você?

Inserida por Paticunha

nada me demove
ainda vou ser
o pai dos irmãos Karamazov.

Inserida por caro.soares

De som a sim ensino o silêncio a ser sibilino de sino em sino o silêncio ao o som ensino👏🏽✍🏽👄💋💌📚📖📓

Inserida por Gatinha0203

O poliglota analfabeto, de tanto virar o mundo, ver as coisas e falar os papos, parou para pensar ao pé de uma montanha. Assaltaram-no dois pensamentos. Um na língua materna, outro em língua estrangeira. O primeiro fez a pergunta, o outro respondeu. Resultado: sou pai de minhas perguntas e filho de minhas respostas.

Inserida por danielcosme

⁠O critério
"atitudes estranhas"
não dá
para condenar pessoas
criaturas
com entranhas

Paulo Leminski
Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Inserida por mi_v_t_

no chão
minhas sandálias
pegadas
como pegá-las?

Paulo Leminski
Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Inserida por mi_v_t_

Falta fé nas trajetórias, febo nas camélias,
fogo na canjica, mão de macaco na velha cumbuca!

Inserida por danielcosme

⁠Buscando o sentido
O sentido, acho, é a entidade mais misteriosa do universo.
Relação, não coisa, entre a consciência, a vivência e as coisas e os eventos.
O sentido dos gestos. O sentido dos produtos. O sentido do ato de existir.
Me recuso (sic) a viver num mundo sem sentido.
Estes anseios/ensaios são incursões em busca do sentido.
Por isso o próprio da natureza do sentido: ele não existe nas coisas, tem que ser
buscado, numa busca que é sua própria fundação.
Só buscar o sentido faz, realmente, sentido.
Tirando isso, não tem sentido.

Inserida por jalves

não sou o silêncio
que quer dizer palavras
ou bater palmas
pras performances do acaso

sou um rio de palavras
peço um minuto de silêncios
pausas valsas calmas penadas
e um pouco de esquecimento

apenas um e eu posso deixar o espaço
e estrelar este teatro
que se chama tempo

Inserida por pensador

a chuva vem de cima

correm
como se viesse atrás

Inserida por jottape

nu como um negro
ouço um músico grego
e me desagrego

Inserida por pequenoprincipe

evapora
perfume
lá em cima
o alto lume
respira
perfumes
você
se lança
cume
nume
névoa
vaga-lumes

Inserida por Isa-isa-bele

com ninguém
ser zen
ou ser sem?

Inserida por pensador

procura, então, tem cura?
há quem diga que prevalece a loucura
há quem veja na pergunta
o ponto chave e o buraco da fechadura
mas a dúvida perdura
se há uma palavra que te possua

ainda que precavidos
de prerrogativas e abismos
estamos bem servidos

por esses achados
somos perdidos

Inserida por pensador

rima rica o cacete
prefiro a plebe dos verbetes
só vou ser uma poeta de reputação
e moça de boa família
o dia que acabar com esse amor a rima

sem explicações concretas
posso exagerar no visual
sair pela estrada
em uma via marginal

aí vou cair na gandaia
com as palavras
não importando o artigo

podia me especializar
em orgia
com os significados
e as insignificâncias

mas chega de intelectualidades e
elogio aos sentidos
que isso me dá uma puta ânsia

Inserida por pensador

nossa comunicação:
de
enviável
a
inviável

Inserida por pensador