Leivânio Rodrigues
Tudo vem a atona, da forma que for, não se segura "um sorriso no rosto" por muito tempo se este não for verdadeiro! O teu Eu tenta, o SUPEREU até suporta, mas O inconsciente te sabota, manifesta a verdade sem crivagem e sem mentira. Aí, se houver caráter haverá respeito.
Infinito
O silêncio que em mim permeia,
Recordando de um pôr-do-sol longínquo,
Rememorando aquele caminho distinto,
Onde o destino me levou distante,
Eu voltarei,
Mas se encontrar tua ausência,
Esperarei.
Esperarei pra sempre,
Sem nunca ir embora.
E mesmo vendo o tempo marcar meu rosto
Não cansarei pela velhice,
Eu confiarei
Por tudo que já disseste,
Então mudarei o tempo e resgatarei nossa juventude,
E te tocarei na face,
Secando suas lágrimas eu logo te abraçarei,
Porque não nos perderemos em uma história do passado.
E na trilha de outra cidade te levarei,
Até aonde a luz do norte possa nos guiar.
Iluminarei seus dias com amor,
E teremos aquele café mesclado de emoções,
Sem temer aqueles velhos olhares sem compreensão,
Porque te levarei comigo ao infinito,
E o céu azul sempre brilhará pra nós,
Pois teremos recordações de antes,
Antes de qualquer sonho acabar.
Porque também sei que num instante tu poderás ir embora,
Em direção a uma nova história com segurança,
Longe de nossos requintados abandonos,
Como eu também já fiz um dia.
Mas te suplicarei,
Não nos deixe pelas falhas de minha inexperiência,
Porque o sol pode um dia não voltar,
E sem querer outro destino,
Esperarei,
E tu voltarás sem culpas do passado,
Com a suavidade de sua voz tu me acordarás,
E trará o fruto proibido sem pecado,
Pois antes do descanso eterno te darei meu nome,
E teus olhos me verão feliz como verei seu sorriso novamente juvenil,
E te amarei,
Porque te esperarei,
Pra sempre...
Estações
Negar a idade é negar seu tempo, seu caminho. É enganar sua própria história!
Aparentar jovialidade é saudável quando não se precisa maquiar o tempo, não é uma atitude madura tal feito. A juventude não é madura, a inconsequência da pouca idade não é a beleza da juventude. O belo está na alegria da vida que essa fase deixa com sua virilidade e sede por novas experiências, experiencias estas das quais não precisam ser perdidas no tempo.
Esta é a época que as pulsões de morte paradoxalmente nos fazem sentir a vida. A beleza da juventude é uma fase transitória enquanto a vida se resume em emoções antes de se transformar nas demandas de responsabilidades, no orgulho ou na consequência que se tem por ser quem é.
Negar a idade é estagnar a maturação da vida por uma fantasia fixada em uma época de incertezas, de poucas glórias e de pouco aprendizado. Identificar-se somente com o que é jovem denuncia falhas no processo de desenvolvimento mental, não é original para quem passou dessa fase!
Pessoas todos os dias negam seu tempo de existência para não se responsabilizarem pelo tempo mal aproveitado ou mal vivido, numa tentativa de equacionar a vida aos 20 anos de idade. Mas infelizmente o espelho não perdoa, o tempo não para e os cabelos já não brilham, por isso assumir as primaveras é oportunizar sentir o cheiro e o gosto das próximas estações. O verão já passou, a primavera sempre trará flores, o Inverno é essencial e do Outono ninguém escapa.
A evolução é um processo natural da qual você pode estagná-la, atrasá-la ou antecipá-la. Evolução é uma escolha.
Qualquer laço afetivo que há desejo de prosperidade mútua, consolidada na união de duas pessoas pode-se chamar de família. Não é uma união biológica de gênero ou espécie que distingue o que é família ou não. O amor é o que transcende qualquer valor, e é isso que deve ser preservado.
Um homem e um cachorro, uma mulher e um homem, um homem e outro homem, uma mulher e outra mulher, uma mulher e seus filhos, um pai e seus filhos, um grupo de amigos... O que tem que se definir como família é qualquer fruto que derive de afeto e não somente ao que pode conceber uma criança. Pois na ausência do amor há o crime. E é criminoso qualquer ato que impeça duas pessoas de se amarem.
Tudo que existe no mundo não é suficiente para descrever o vazio que se dar por ausência de amor humano. Somos a espécie mais desamparada de nós mesmos.
Eita Ceará
Acordei sentindo saudade de casa, Mas é estranho sentir saudade de casa quando se estar em casa. Então tomei consciência que sinto saudade da brisa do mar, do sotaque cantado, do céu estrelado, dos ventos fortes, da noite gostosa e dos versos de José de Alencar. Eita meu Ceará!
Que levo no peito e o bom humor na alma.
... a primeira vista.
Hoje eu só queria aquele dia que você sorriu da maneira mais linda e terna que eu vi, seu rosto encandecia meus olhos, o seu perfume tinha cheiro de frutas, o qual tornou o desagrado do encontro o encontro mais perfeito daquela noite, tornando a pior festa a melhor que tivera ido, pois ali eu apaixonei ao som da musica errada que pedia ironicamente para eu olhar a lua que brilhava lá no céu... e na força da malicia e aos goles de uísque, o desejo impulsionava-me a tocar-te... e pela primeira vez conhecer quem eu apenas via. Essa é a melhor lembrança de um dia que eu queria, quando o que era fundo tornou-se figura e passou a afigurar meus pensamentos te colocando no lugar que sempre pertenceu.
Pescador de Sonhos
Enquanto na costa o mar se quebra formando ondas,
O barulho da quebra conserta o navio quebrado largado na ilha.
Que relança ao mar sua casa navegante,
Revigorando os sonhos do comandante que navega inquieto sem sair da praia,
Direto para as profundezas da alma de um pescador de desejo valente,
Resgatando o marinheiro naufragado de esperança,
Que a nados longos retoma a superfície para novamente lutar contra a bravura da grande maré.
Fortificado nos sonhos daqueles que olham pra a imensidão do mar e não ver o medo,
Que na devastação da enxurrada ressurge a dádiva de sua heroica resiliência,
Sem deixar o velho marujo ser engolido pela infinitude da água azul.
Resistindo por um anseio épico de subsistência,
Erguido nos sonhos de que jamais ousou desistir.
Tomando parte das vicissitudes que impera as margens da terra firme,
Com a força e a coragem de quem passara por uma tempestade em alto mar,
Mas sem nunca com a volta pra casa deixar de sonhar,
No aguardado da violenta maré acalmar,
Para novamente pela areia branca caminhar,
Na espera de um dia ao mar poder regressar.
Desconheci qualquer pessoa que não resistiu ao passado. Seu rosto se perdeu na curta memória de continuar presente. Sua presença já não se inscreve na demanda de meu mundo propagado. Porque aqui a indiferença tornou-se a companheira de seu olhar perdido numa época em que a sua presença ainda se mantinha por minha pouca maturidade.
As Pessoas Mudam
Sempre acreditei na capacidade humana de ressignificar buracos paralelos à sua existência, aquelas falhas de percurso que se abre quando tudo que se conhecia é rompido por um vazio que destrói tudo o que satisfatoriamente era confortável de se viver. As pessoas são sucumbidas pelo pessimismo e por não apostarem em si, por não investirem no próprio existir e não acionar a tecla auto-limpante de sua morada interna, mesmo quanto tudo que se tinha desmoronou-se de forma gradual. Hoje o ser humano freneticamente busca desintoxicar o corpo, mas não a alma. Cada vez se ver pessoas imundas pela angústia e alagadas por uma lama de insegurança, culpa e vaidade. Pondo seu sujeito refém do que não se sabe, esperando que o mundo externo mude para abrir a porta do que humanamente se é. Infelizmente só o crime não tem vergonha de sua real face, enquanto o amor humano morre lentamente sem pressa pra sair de casa, porque as pessoas estão abandonadas de si mesmas. No entanto eu acredito que as pessoas possam mudar, mesmo que tudo que sabemos possa nos levar a pensar o contrário. Porém somos feito de emoção, de afeto e de relações. Se estas forem revistas e trabalhadas, reforçadas por um desejo singular de criar mais intimidade entre si e o sujeito que lhe habita, teremos mais razão para acreditar que as pessoas mudam.
O NARCISISMO DE DEUS
Desde as muitas teorias criadas para explicar a existência da criação do mundo e o homem na terra, uma em especial faz parte do imaginário da cultura de quase todos que foram atravessados pela cultura judaica-cristã, que é justamente o mito que deus criara o mundo em seis dias e no sétimo descansou.
Ora, se Deus criou o mundo em seis dias como diz nos escritos bíblicos, e se ele por si só é Deus, por que a necessidade de criar alguém que fosse sua imagem e semelhança? Pode-se pensar que a existência de Deus seria solitária, pois não se bastou existir.
Seria então Deus um ser Narcisista? Incomodado com sua solitária existência? Que criou um ser no espelho de sua face por ter se deparado com sua solidão projetada no solitário Adão? E Eva, veio em auxílio para tirar Adão do monótono paraíso e da solidão?
Se a psicanálise vai até onde há possibilidades de dúvidas, a religião começa a partir de uma crença, da ideia inquestionável de acreditar em algo maior que vem em socorro de nosso assombroso desamparo. No entanto, pensar a existência pelo víeis bíblico por si só nos faz em algum momento nos deparar com um Deus também desamparado. Que até as crenças humanas advêm do desamparo, pois o Deus cristão é a própria imagem de quem o criou, demandando um investimento narcísico de crer para existir. Pois não basta existir, precisa ser adorado por alguém que não existe sozinho.
Isso nos leva a raciocinar que o sujeito dentro de todas suas estratégias psíquicas está sempre em fuga daquilo que de fato é, um ser primordialmente só, desamparado e lançado ao mundo para viver a dialética do se encontrar em si e tentar se achar no outro.
Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos, porém pensar sobre isso no campo do real é desolador, por isso buscamos viver e criar maneiras de nos relacionarmos socialmente.
Por outro lado, o ato de se relacionar com alguém deriva o sofrimento de deparar-se com o desejo do outro, e que esse desejo é impossível de controle. Eva sabia disso.
Então a angústia nos assola, pois ela sempre nos remete ao nosso próprio desamparo, ao nosso narcisismo.
O filósofo Arthur Schopenhauer, que por muito inspirou Freud, já usava o dilema do porco espinho para fazer menções às relações humanas, de como é sofredor para o sujeito se relacionar de qualquer maneira humana possível, até mesmo se pensarmos hoje em dia no surgimento das relações líquidas na modernidade, via redes sociais, quanto mais intimidade e aproximidade entre um sujeito e um grupo, mais espinhosa essa relação poderá se tornar. Radicalmente bloquea-se e silencia-se qualquer ameaça ao EU, fugindo daquilo que não é imagem e semelhança. No conto bíblico há um lugar próprio que é destinado aos hereges, aqueles que não se assemelham e devem ser castigados. Quem não me ama, não é digno do reino do meu céu, não é isso?
Essa ambivalência afetiva passa a nutrir as neuroses no mundo contemporâneo, pois o que se busca no outro, seria justamente o eco de sua própria voz.
Como disse Caetano Veloso, narciso acha feio o que não é espelho, pois paradoxalmente as identificações mesmo derivadas daquilo que possa ser diferente ao sujeito, ela serve para que o sujeito possa diariamente afirmar sua identidade de ser e sentir-se pertencente a algo, um grupo do qual é ele mesmo, que por ora, o faz perder contado com o outro ou mesmo em companhia de alguém, o sujeito buscar inconsciente manter-se sozinho dentro de sua bolha narcísica para preservar sua fantasiosa ideia que existir o basta.
Leivanio Rodrigues
Noites Fechadas
De algumas noites fechadas,
Como se fecha rapidamente um guarda-sol,
O dia despertou cedo,
Pondo o rosto sobre o volante,
Amiúde, o sol faz lembrar de conhecidos caminhos.
Aqueles aborrecimentos que são rotineiros,
Percorridos por estradas ao som do vento que oscila emoções nas mesmas canções.
As vezes se pode acompanhar o coro frágil e violento, mas outras vezes a beleza da estrada é também um acolhimento pra alma. E derrepente tudo muda, o som muda!
Ao longo do caminho se ver um rasgo no meio do céu, tons quentes e um singelo tom azul.
Uma luz encadeia o rosto,
E isso nos faz ter um novo olhar da estrada,
Faz acelerar não somente o carro, mas também o coração.
E de repete se ver beleza lá fora!
Porque se reconhece no que o toca, e aquilo que toca é belo e real,
Nos tornando mais original, genuíno como toda naturalidade poética é!
E nos faz criar aberturas para a próxima noite,
Abrindo possibilidades de dormir na paz.
Pois só é possível contemplar beleza externa se houver do lado de dentro paz.
Leivanio
O ato de Escrever
Gosto das coisas que me tocam, as vezes certas coisas me tocam que perco a capacidade de controle sobre o que penso. É como se eu entrasse em suspensão e assistisse a ousadia de minha inspiração escrever como se ver uma máquina antiga de datilografia escrevendo sozinha, como se ela soubesse o que diz e ignorance quem sou. Apenas diz. E é nesse momento que estou lá. Por dizer algo que não sei de onde vem, mas que sinto de uma maneira tão genuína que me encontro.
É um saber que não é meu, mas que ecoa de mim. Reverbera no corpo e me ponho a sentar para asisstir um movimento causado como efeito de despertar sentimentos.
A partir daí, não me restar nada mais, pois algo assopra em meus ouvidos o dito que não é meu, mas que faz parte de mim, porque sou um pouco de tudo que me inspira, pois a vida me toca!
E no momento que transcrevo isso perco total autonomia de um egoísmo humano. É como uma nascente, que não cabe dizer ao rio por onde correr, apenas fluir, e por fluir não precisa do controle do que diz. Então em verbo estou. Estou lá como tudo aquilo que me toca, que sinto, que assombra e faz sentido pra mim.
Seguir
Sigo estando aqui,
Ainda parado em um novo cenário,
As vezes caminho com muitas ausências.
A poesia demanda abrir asas,
Buscar uma nova experiência e pôr novas formas no papel.
Mas no fundo,
Eu jamais deixei de sentir,
Jamais neguei as experiências embora muitas vezes tenha buscado uma beleza no passado,
No entanto, eu a encontrei hoje na simplicidade.
Tenho procurado em meus livros, falaram-me que estava lá, aquelas coisas perdidas no meio de uma frase.
Sei que em essência nem sempre predominará o bem, mas nele confio assegurado em uma fantasia apostando nos demais dias que poderei rever o mar azul.
E finalmente dizer que lá longe há uma luz à vista, como em uma miragem,
Mas é possível ver a luz.
A sexualidade humana é uma organização psíquica variável não determinada pelo biológico. Ela é constituída pela organização de suas experiências e processos pulsionais. Não tem nem a ver com gênero, mas sim, com a organização psíquica de cada sujeito. Tentar padronizá-la fazendo analogia à sexualidade animal que é institiva e não pulsional, é pura ignorância e a ignorância é base para qualquer violência.
Em alguns caminhos pela vida, a natureza é testemunha de muitas alegrias, tristezas, perrengues, idas e vindas, mas também de muitas partidas... (par)tidas. Talvez porque um dia teve e hoje é ímpar. As vezes é necessário partir para um dia voltar a ser par ou resgatar a ser ímpar.
Nada é fácil, mas também nem precisa ser. Talvez precisa ser possível se isso já nos agrada sem a obrigação de agradar o mundo.
“Vão dizer que foi sorte”
Não, não vão dizer porque as pessoas não dizem. Dizer isso é assumir pra si um fracasso. E normalmente o sucesso do outro é ameaçador até quando for por sorte. Segue apenas fazendo teu corre!
Diferente da paixão, o amor não é pra
amadores. Demanda uma maturidade para o cotidiano. Por isso é muito difícil sustentar amores na juventude. Pois depois da paixão o que fica é (ato)alha molhada na cama ou (caos)cinha pendurada no box e um outro sujeito deitado no sofá.
O radicalismo não deu certo em lugar nenhum do mundo!
A intolerância é a morte da civilização e consequentemente a aniquilação do sujeito.