Leivânio Rodrigues
Na vida cotidiana a vantagem de ser analista é ouvir da própria boca das pessoas o que elas de fato são. E sem se darem conta do que dizem, são traídas por suas próprias línguas.
Ego Humano
Quando já se esgotaram as alternativas e não existem mais escolhas, nos resta somente o tempo, e nele depositar a ideia de mudança para ilusoriamente apagar de dentro de nós uma história estéril que parou aquele período da vida, deixando tudo o que sentimos a mercê da infeliz lembrança de um passado que todos os dias nos perguntamos se realmente existiu, negando-o a cada interrogação retórica de nossa suja consciência.
Que a cada ameaça da estabilidade do egoísmo, as palavras se tornam um punhal tão resistente quanto o diamante, na tentativa mortífera de matar em quem se gosta tudo aquilo que nos intimida mesmo sem rancor.
É algo sem glória, que a vitória nos leva ao sentimento de derrota, as batalhas ganhadas viram fundo ao que se sente, e imaturamente implodimos por não conseguir sanar o dano do passado que de maneira egóica, prevalece o desprezível, solitário e miserável ego humano.
E quando tudo pareceu pouco claro, eu fiz uma canção, e cantei com a voz que ecoa dos olhos.
No percurso de cada lágrima se vez a melodia, que escorrendo em linhas logas chegou a boca, então senti que o tom que cantava havia um sabor, tão estranho quanto o que me inspirava, um gesto de amor.
O impossível é a regra do limitador, daquele que se põe restituído nas contingências do possível que não pode ser, existir ou acontecer.
É a secção súbita da esperança daquele que finge crer. Que a estrutura do pessimismo tem covardemente no ceticismo a sustentabilidade do que só é possível de fazer, colocando-se nulo à confiança de quem vê como possível a realização daquilo que deseja.
Impossibilitando o possível para refugiar-se daquilo que impossivelmente não poderia ter.
É o mal humano de acomodar-se em aceitar ao que apenas é possível de fazer. Entretanto, quando o impossível se faz possível, ele se coloca de forma inalcançável para à condição do homem... É um ciclo sem fim, que o limite está inteiramente ligado ao que seja possível ou impossível de crer, ser, ter ou de fazer.
E por um sinal de amor que nunca chegou a mim, não sinto saudades suas, sinto falta de mim quando amei alguém.
Sol
Ser despertar pelos raios que da fresta da janela me traz a vida a cada dia, traz-me uma nova oportunidade na luz que vem do leste, forçando-me acordar para a vida e viver a felicidade que esta nos concede, clareando o mundo para que os passos sejam claros e o caminho seja visto por aqueles que fazem da vida uma dádiva humana de existir.
Que nos permite levar do ontem apenas a memória de um dia que passou ou a alegria de chegar a um novo dia.
E uma vez mais, sentir o mundo novo a cada raio azul do horizonte distante, podendo caminhar nas estradas que a vida nos deixa andar, deixando gravado na areia os rastros de cada vivência de maneira que possa mais tarde voltar se precisar, sem se perder e então resinificar as magoas daquela estrada, para que possa fazer presente em cada lembrança tida, uma vida guiada pela luz de uma estrela.
Estou Vivo
E eu sobrevivi...
Sobrevivi à espera de uma ligação sua,
Sobrevivi ao banco de mármore frio,
Sobrevivi a um final de semana sem programar nada,
Sobrevivi a ausência que me fazia companhia e ao desinteresse de um encontro bom.
Eu sobrevivi ao meu sacrifício singular, a uma viagem que nunca saiu do papel,
As palavras de amor nunca tidas e os receios de seu entendimento sem compreensão.
Eu sobrevivi aos sonhos inalcançáveis de realizar,
Sobrevivi à dor da razão de uma distância ao lado, o medo de ir contigo e o temor de um fim chegar.
Eu sobrevivi às lágrimas da lembrança continua,
Sobrevivi à saudade da história sem benefício algum,
Sobrevivi a uma ideia de intuição egoísta,
Sobrevivi às muralhas de seu pessimismo, as palavras em forma de punhal e as pedras de uma estrada ruim.
Eu sobrevivi ao seu dito sem sentimento algum,
Sobrevivi a uma real fantasia de caminharmos juntos,
E eu sobrevivi...
Por um sinal de amor que nunca chegou a mim, não sinto saudades sua, sinto falta de mim quando amei alguém.
Ficar triste as vezes é uma escolha quando podemos buscar o que nos faz feliz. A felicidade é momentânea, se sentir bem que é viver feliz.
Tecido Fino
Hoje só queria tê-la como um lençol de linhas fina, para enrolar meu corpo como parte dele. E no ápice da noite sentir todas as sensações das mãos macias que talharam o tecido como suas mãos no meu corpo.
Tempestade
Em uma manhã fria de inverno chorei,
Impulsionando a chuva que lá fora caia,
Se perdendo na visão turva da cidade branca,
Esvaziando as nuvens do meu pensar.
Eu chorei...
O frio que tomava meu corpo como parte dele,
O coração que quente não resistiu,
E o laço de compaixão que se partiu.
E eu chorei...
As lembranças que este tempo sombrio traz,
As incertezas do amanhã chegar,
O medo das ventanias e do tempo fechar.
Chorei...
A angustia de ver a água subir,
O temor da terra sumir,
A certeza da luta pela vida do homem bom.
Sim, eu chorei...
No papel as gotas que escrevi sem pensar,
Os sentimentos em cárcere do meu gostar,
As alegrias no verão de quem pude amar.
Mas também chorei...
Vendo a chuva passar,
O azul do céu voltar,
A alegria de novamente ver o sol brilhar,
E ter a esperança de ver um novo dia chegar.
A maioria das supostas manifestações místicas em templos que fazem apologia a prática do exorcismo, por si só, se sustentam por ordem de sugestão e manifestações histéricas coletivas por indução consciente/inconsciente de seus líderes. Deixando seus seguidores a mercê de suas próprias fragilidades e mazelas espirituais. Encancerando o sujeito na fantasiosa ideia de libertação.
A maldade do ser humano não está nos pesamentos maldosos, mas na falta desta consciência de pensar sobre o mal. E na execução do ato sem deixá-lo somente na fantasia, fazendo vítima aqueles que não possuem mal algum.
O mérito de um autor não está nas palmas do espetáculo, mas no conteúdo da obra. Pois são os sentimentos provocado no alheio que faz um homem memorável.
O Novo de Novo
A ideia de fim nos instiga a continuar, vivendo o luto de tudo que foi bom para saudar aquilo que ilusoriamente temos como "novo". E este novo, se tornar a esperança nas possíveis oportunidade datadas em uma nova edição de um roteiro habitual, o calendário.
Pois bem, se o caminho é por esta ordem, nela estima-se as súplica de um clichê, do querer "tudo novo de novo".
Que as promessas de cada virada não confundam-se com os objetivos de vida e de viver na mutação humana a dádiva de ser mutável a cada ano em busca da evolução como ser.
Paradoxalmente o ano não acaba, ele continua nas consequências que cada um viverá de seus passos errantes ou acertos daquele que antecede o novo.
E na busca incessantes por algo melhor, os seres que aqui vivem, possamos realmente concretizar não apenas os sonhos pessoais, mas inteiramente pensar no coletivo que nos rodeia, para que heróis não se tornem vilões, amigos os novos inimigos, os pares os novos ex, os sonhos as novas frustrações e acima de tudo, que as promessas não seja apenas promessas de novo na festa de ano novo.
Emoção
A emoção é o fogo que arde nas vísceras e queima a alma.
Vermelha que nem sangue, que mancha e ameaça a vida.
Da qual parece que engolimos o mundo, sem tempo pra digerir,
A emoção é desesperadora, que nos remete a instintos primitivos,
É biológico, tão forte quanto à fome, tão devastadora quanto à raiva, nos leva a ira e ao medo.
O medo de sentir, perder, sofrer ou morrer.
A emoção é o não saber, o desprazer de ter o que não pode ser ou a ilusão de ver o que jamais racionalmente poderia sentir.
Ela vem em socorro da intolerância de nossas frustrações,
Leva o ser ao sofrimento de viver e, sobretudo, é a passagem entre o viver e o morrer.
Nas lágrimas podem habitar o desespero de uma criança, o luto de quem partiu, a saudade de quem não se tem mais e até mesmo o vazio do que chorar, mas nas lágrimas também podem conter a esperança de quem faz o homem despertar ao amanhecer e vibrar as alegrias das quais de tão insuportáveis chegam a transbordar pelos olhos a felicidade que a vida nos pode dá.
Uma história se torna incrível quando o otimismo sobrepõe as divergências entre as partes.
E quando isso acontece, as lembranças se tornam linhas do livro da vida de quem intensamente a viveu, tendo como recompensa o orgulho em contar fielmente a biografia de uma linda história de amor.
No contexto pessoal, afasta de ti todos aqueles que te fazem mal, por um motivo ou por outro, por angústia ou por incongruência, não por defesa, mas sim por saúde.
Boas relações interpessoais também é qualidade de vida. Não há nada mais nocivo à saúde física, mental ou moral do que uma pessoa não bem vinda.